HHY & The Macumbas
Beheaded Totem

| Outubro 12, 2018 11:19 am
Beheaded Totem // House Of Mythology // setembro de 2018
9.0/10

Há álbuns que nos fazem questionar a própria definição de jazz. Outros, aquilo que é esse chavão distante e impossível de concretizar que é a música do mundo. Ainda outros ousam em quebrar para lá das barreiras da conotação experimental. Beheaded Totem, novo álbum dos HHY & The Macumbas editado pela House of Mythologyé um compacto vitamínico que praticamente sem se esforçar expande o conceito da música de dança experimental do século XXI. A verdade, é que os rótulos existentes não chegam para enquadrar este trabalho no panorama da arte sonora contemporânea. 


Enquanto que muitos dos trabalhos que têm saído dentro do mundo do jazz de fusão ou de forma livre são edificados nos moldes que já tinham sido construídos, o grupo liderado por Jonathan Uliel Saldanha – discutivelmente um dos artistas portugueses mais interessantes da atualidade – desconstrói o jazz, a música electrónica, a “world music” e a música de dança e a partir destes destroços edifica um ritual único e estranhamente dissociado das suas origens. Beheaded Totem existe não só enquanto álbum, mas também como um exercício de arte pós-moderna bem sucedido.


As secções de sopro são quase nobres e sacrilégios em simultâneo – a sua dimensão em faixas como Deep Sleep Routine e Danbala Propagada tornam-nas quase adequadas a um enquadramento clássico, não fossem os elementos de improvisação e ecos que quebram a previsibilidade. Os ritmos de dança latinos e africanos preenchem o espaço que rodeia a improvisação e condução de Jonathan Uliel Saldanha graças aos quatro percussionistas que integram a banda. Nos intervalos desta sonoridade e graças ao mesmo quarteto, faixas como Deep Sleep Routine, Ergot Glitter e Swisid Mekanize Rejiman reformulam a música electrónica de club numa versão electro-acústica pós-tribal. Será ainda impossível esquecer os momentos de maior liberdade musical como A Scar in the Skull e A Scar in the Bone


Talvez o melhor ponto de equivalência para este álbum será um intermédio entre o seminal Bitches Brew de Miles Davis, um álbum que ficou conhecido pela maneira como revolucionou o jazz ao integrar ritmos repetitivos facilmente associados a processos ritualísticos e instrumentos eléctricos neste cenário, e os ritmos electrónicos de editoras como a Príncipe Discos. É óbvio que HHY & The Macumbas não é igual a Miles Davis, Chick Corea ou Dave Holland, tal como não é DJ Nigga Fox ou Niagara; é apenas o produto de séculos de música a convergirem num transe ritualístico de jazz de dança. É só, e apenas isso.



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