À conversa com: Resina
À conversa com: Resina
Dezembro 18, 2018 8:24 pm
| À conversa com: Resina
Dezembro 18, 2018 8:24 pm
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O violoncelo. A Karolina, a aprendizagem e a importância que o mesmo assume no seu trabalho. As imagens. O Mateusz e como as molda. A natureza e a humanidade. Longe de constituírem dicotomias, compreender como ambos foram capazes de incorporar temas, métodos e instrumentos no trabalho que desenvolvem enquanto Resina. A conversa antes do concerto no passado dia 28 de novembro, nas Damas – Lisboa, com Karolina Rec a.k.a. Resina.
O VIOLONCELO
É uma estória bonita, acho. O primeiro instrumento que aprendi a tocar foi o piano. Queria ser pianista. Era uma vontade muito profunda. Comecei a estudar piano aos oito. A minha professora da altura convenceu-me a ir estudar para uma escola. Passei nos exames, mas disseram-me que já era demasiado velha para tocar piano. Eles estavam disponíveis para acolher crianças que tocavam piano e violino, mas só até aos sete anos. Disseram-me que poderia escolher outro instrumento – violoncelo, flauta e guitarra. Não queria tocar guitarra e flauta pareceu-me, à época, demasiado suave. O violoncelo por curiosidade – não sabia como seria tocá-lo e como soaria. Estava super curiosa e então decidi experimentar. Durante a primeira aula, com o toque, a vibração do instrumento no meu corpo. Aí definitivamente eu soube – o violoncelo vai ser o meu instrumento. Na Polónia as crianças não são obrigadas a aprender música. Simplesmente, quando ouvi uma rapariga a tocar o piano, senti-me imediatamente sob um feitiço. Foi uma força constante, quase como magia. Nasci numa cidade pequena e, como acontece muitas vezes, o apoio dos pais foi fundamental. Eles sempre me incentivaram.
OS PRIMEIROS PASSOS COM O VIOLONCELO
Na Polónia, e àquela época, havia só uma forma e muito clássica de se aprender este tipo de instrumentos. Não havia escolas públicas que suscitassem o interesse para outras formas de aprendizagem, mais diretamente relacionadas com a improvisação. Há caminhos que se vão cruzando. Tive a felicidade de conhecer um músico que me deu a ver um outro universo, mais relacionado com a improvisação e longe das estruturas rígidas e clássicas. Era minha vontade não estar só a tocar músicas de outros autores e feitas numa época que não a minha. Foi então que decidi envolver-me com todas estas bandas de Varsóvia. Este encontro foi fundamental na minha descoberta da cena mais underground. Ele não só foi o produtor dos meus discos, como também me deu a conhecer muitas das bandas mais importantes daquela altura, até porque tinha uma relação muito estreita com praticamente todos os músicos.
O VIOLONCELO
É uma estória bonita, acho. O primeiro instrumento que aprendi a tocar foi o piano. Queria ser pianista. Era uma vontade muito profunda. Comecei a estudar piano aos oito. A minha professora da altura convenceu-me a ir estudar para uma escola. Passei nos exames, mas disseram-me que já era demasiado velha para tocar piano. Eles estavam disponíveis para acolher crianças que tocavam piano e violino, mas só até aos sete anos. Disseram-me que poderia escolher outro instrumento – violoncelo, flauta e guitarra. Não queria tocar guitarra e flauta pareceu-me, à época, demasiado suave. O violoncelo por curiosidade – não sabia como seria tocá-lo e como soaria. Estava super curiosa e então decidi experimentar. Durante a primeira aula, com o toque, a vibração do instrumento no meu corpo. Aí definitivamente eu soube – o violoncelo vai ser o meu instrumento. Na Polónia as crianças não são obrigadas a aprender música. Simplesmente, quando ouvi uma rapariga a tocar o piano, senti-me imediatamente sob um feitiço. Foi uma força constante, quase como magia. Nasci numa cidade pequena e, como acontece muitas vezes, o apoio dos pais foi fundamental. Eles sempre me incentivaram.
OS PRIMEIROS PASSOS COM O VIOLONCELO
Na Polónia, e àquela época, havia só uma forma e muito clássica de se aprender este tipo de instrumentos. Não havia escolas públicas que suscitassem o interesse para outras formas de aprendizagem, mais diretamente relacionadas com a improvisação. Há caminhos que se vão cruzando. Tive a felicidade de conhecer um músico que me deu a ver um outro universo, mais relacionado com a improvisação e longe das estruturas rígidas e clássicas. Era minha vontade não estar só a tocar músicas de outros autores e feitas numa época que não a minha. Foi então que decidi envolver-me com todas estas bandas de Varsóvia. Este encontro foi fundamental na minha descoberta da cena mais underground. Ele não só foi o produtor dos meus discos, como também me deu a conhecer muitas das bandas mais importantes daquela altura, até porque tinha uma relação muito estreita com praticamente todos os músicos.
O VIOLONCELO E OS OUTROS
Para mim o violoncelo nunca se deve assumir como a parte melodiosa de uma banda. Não tem porque ser assim. Além disso, o violoncelo tem um potencial enorme. Para mim foi fundamental encontrar-me com o Colin Stetson e com os músicos do seu grupo. Antes de o conhecer não era grande entusiasta do saxofone, mas depois compreendi realmente que se pode utilizar um instrumento numa perspetiva muito pessoal e que pode modificar a visão que se tem sobre o mesmo. Transformá-lo de forma a que se enquadre na tua linguagem. Esse é o meu grande objetivo.
VARSÓVIA E O UNDERGROUND
Atualmente, e mesmo na geração anterior, tem-se notado uma grande apetência para se experimentarem novas sonoridades. As pessoas estão ávidas por experimentar. Há uma grande abertura para se cruzarem géneros musicais. Já não há aquela ideia de se fechar exclusivamente num género. Querem-se cruzar linguagens. Há uma excelente mistura entre o que se edita, aquilo que é editado e remisturado por outros, uma excelente qualidade dos músicos, muito boas escolas e em que estão representados os mais variados géneros. Sinceramente, penso que há algo de único na cena polaca e de Varsóvia em particular. Simultaneamente, somos como que outsiders, mas também é o momento em que tomamos consciência de que não somos piores que os nossos vizinhos. É certo que Varsóvia continua a ser o grande centro de produção musical polaco, no entanto há um entusiamo, se quisermos, por estas linguagens que se estende um pouco por todo o país, tanto na área mais experimental, no jazz, na eletrónica ou mesmo no rock ou música clássica há uma procura por novas linguagens. Katovice com o Off-Festival e com uma escola de jazz muito interessante, por exemplo, ou o Unsound em Cracóvia. Centrado em Varsóvia, mas com muitas ramificações e isso é, naturalmente, muito estimulante.
O PERCURSO A SOLO
Depois de ter tocado em diferentes grupos fui convencida a tocar a solo, porque finalmente tinha encontrado as ideias que me permitiam sustentar e estruturar um trabalho a solo. Compreendi então, por serem matérias tão pessoais e nas quais estava tão envolvida que a melhor opção seria tocar a solo.
Para mim o violoncelo nunca se deve assumir como a parte melodiosa de uma banda. Não tem porque ser assim. Além disso, o violoncelo tem um potencial enorme. Para mim foi fundamental encontrar-me com o Colin Stetson e com os músicos do seu grupo. Antes de o conhecer não era grande entusiasta do saxofone, mas depois compreendi realmente que se pode utilizar um instrumento numa perspetiva muito pessoal e que pode modificar a visão que se tem sobre o mesmo. Transformá-lo de forma a que se enquadre na tua linguagem. Esse é o meu grande objetivo.
VARSÓVIA E O UNDERGROUND
Atualmente, e mesmo na geração anterior, tem-se notado uma grande apetência para se experimentarem novas sonoridades. As pessoas estão ávidas por experimentar. Há uma grande abertura para se cruzarem géneros musicais. Já não há aquela ideia de se fechar exclusivamente num género. Querem-se cruzar linguagens. Há uma excelente mistura entre o que se edita, aquilo que é editado e remisturado por outros, uma excelente qualidade dos músicos, muito boas escolas e em que estão representados os mais variados géneros. Sinceramente, penso que há algo de único na cena polaca e de Varsóvia em particular. Simultaneamente, somos como que outsiders, mas também é o momento em que tomamos consciência de que não somos piores que os nossos vizinhos. É certo que Varsóvia continua a ser o grande centro de produção musical polaco, no entanto há um entusiamo, se quisermos, por estas linguagens que se estende um pouco por todo o país, tanto na área mais experimental, no jazz, na eletrónica ou mesmo no rock ou música clássica há uma procura por novas linguagens. Katovice com o Off-Festival e com uma escola de jazz muito interessante, por exemplo, ou o Unsound em Cracóvia. Centrado em Varsóvia, mas com muitas ramificações e isso é, naturalmente, muito estimulante.
O PERCURSO A SOLO
Depois de ter tocado em diferentes grupos fui convencida a tocar a solo, porque finalmente tinha encontrado as ideias que me permitiam sustentar e estruturar um trabalho a solo. Compreendi então, por serem matérias tão pessoais e nas quais estava tão envolvida que a melhor opção seria tocar a solo.
OS ÁLBUNS E A TRANSIÇÃO ENTRE AMBOS
O primeiro trabalho (Resina – 2016) foi mais um exercício em torno de ideias, sensações que não são imediatamente percetíveis. Muito difíceis de catalogar, muito sensitivas, debaixo da pele. Nada de concreto. O segundo (Traces – 2018) é muito mais sobre ideias claras, mais concretas. São ideias muito palpáveis, muito claras sobre mim, sobre a minha família e o tempo da guerra. Em termos musicais também senti que deveria alterar alguns aspetos. A passagem de algo debaixo da pele, para algo mais forte, carregado de som. As mudanças devem-se a estes dois aspetos – as temáticas a explorar e a necessidade de um outro tipo de sonoridade.
O VIOLONCELO E OS ELEMENTOS QUE SE INCORPORAM
O violoncelo por si só já é um instrumento autossuficiente. Não necessitaria, à partida, da incorporação de pedais, mini Korg e outros instrumentos que utilizo. Quando uso os loops, por exemplo, é para reforçar o poder do violoncelo. Ou seja, a fonte continua pura, é o som do violoncelo que se ouve, mas permite-me criar camadas, outras formas de leitura e intensificar o som do instrumento.
AS IMAGENS E A MÚSICA
Nos concertos as imagens de Mateusz Jarmulski são parte indissociável da música, isso só acontece porque parte de uma relação muito pessoal. Seria muito relutante em introduzir projeções nos meus concertos se não fossem trabalhadas pelo Mateusz. Ele conhece ao detalhe o meu processo de composição, ele sabe os filmes que estava a ver na altura, o que eu penso em cada momento, os sons que tento captar e trabalhar. A criação destas imagens é feita de uma forma muito orgânica e não tenho mesmo a certeza se poderia trabalhar com outra pessoa. Seria muito difícil. Não só está muito envolvido em todo o processo como esta relação se intensifica à medida que vamos trabalhando.
A NATUREZA E A HISTÓRIA
Os dois álbuns são a face da mesma moeda, pelo menos é assim que os entendo. O primeiro trabalho tem esta ligação muito forte à natureza e aos seus elementos. A preocupação em relação a esta falta de ligação à natureza e como ela está a aumentar. O segundo está relacionado com a humanidade e a incapacidade de aprendermos com o passado, com a história e as suas falhas. Este distanciamento face à natureza, por um lado, e face à nossa história em comum, por outro, faz com que tenhamos cada vez menos ligações com o que nos rodeia. Isso preocupa-me. É algo que tento refletir nos meus trabalhos. O facto de tocar um instrumento feito de madeira também é muito importante para mim, traz-me à terra.
O violoncelo por si só já é um instrumento autossuficiente. Não necessitaria, à partida, da incorporação de pedais, mini Korg e outros instrumentos que utilizo. Quando uso os loops, por exemplo, é para reforçar o poder do violoncelo. Ou seja, a fonte continua pura, é o som do violoncelo que se ouve, mas permite-me criar camadas, outras formas de leitura e intensificar o som do instrumento.
AS IMAGENS E A MÚSICA
Nos concertos as imagens de Mateusz Jarmulski são parte indissociável da música, isso só acontece porque parte de uma relação muito pessoal. Seria muito relutante em introduzir projeções nos meus concertos se não fossem trabalhadas pelo Mateusz. Ele conhece ao detalhe o meu processo de composição, ele sabe os filmes que estava a ver na altura, o que eu penso em cada momento, os sons que tento captar e trabalhar. A criação destas imagens é feita de uma forma muito orgânica e não tenho mesmo a certeza se poderia trabalhar com outra pessoa. Seria muito difícil. Não só está muito envolvido em todo o processo como esta relação se intensifica à medida que vamos trabalhando.
A NATUREZA E A HISTÓRIA
Os dois álbuns são a face da mesma moeda, pelo menos é assim que os entendo. O primeiro trabalho tem esta ligação muito forte à natureza e aos seus elementos. A preocupação em relação a esta falta de ligação à natureza e como ela está a aumentar. O segundo está relacionado com a humanidade e a incapacidade de aprendermos com o passado, com a história e as suas falhas. Este distanciamento face à natureza, por um lado, e face à nossa história em comum, por outro, faz com que tenhamos cada vez menos ligações com o que nos rodeia. Isso preocupa-me. É algo que tento refletir nos meus trabalhos. O facto de tocar um instrumento feito de madeira também é muito importante para mim, traz-me à terra.
Entrevista: Gil Simão
Fotografia: Virgílio Santos