Rotten Fresh: Electrónica DIY made in Lisbon

Rotten Fresh: Electrónica DIY made in Lisbon

| Janeiro 6, 2019 7:49 pm

Rotten Fresh: Electrónica DIY made in Lisbon

| Janeiro 6, 2019 7:49 pm

A Rotten Fresh é uma jovem editora discográfica baseada em Lisboa, que se foca em promover projectos dentro da música alternativa portuguesa. Criada por um grupo de amigos unido em prol da boa divulgação artística, a Rotten já conta com 8 edições físicas puramente dentro do espírito do do it yourself.


No passado mês de outubro, a editora organizou o Rotten Fest na Flur Discos, Sta. Apolónia, na qual marcámos presença. O cartaz deste evento teve como ponto alto a apresentação do novo álbum de Buhnnun, e contou também com grandes atuações de Oströl, Império Pacífico, Simão Simões, trash CAN, Waterdownrobotroute, UNITEDSTATESOF e noçãosaudadeNessa tarde de 26 de outubro estivemos à conversa com o pessoal da Rotten Fresh à porta da Flur, vejam aqui o resultado.




Threshold Magazine (TM) – Para começar, qual a vossa opinião sobre o ano de 2018 do Kanye West?


Diogo Oliveira (Diogo) – Olha eu vou dar a minha opinião e depois eles vão discordar todos. Ouvi uma música e não ouvi mais.
Simão Simões (Simão) – Gostei de tudo o que ele fez este ano, como artista. Depois de resto, quem é que quer saber? É o Kanye, é um génio.
Oströl (Tomás) – Eu curti de uma cena que ele fez com o Mos Def, acho que foi a única coisa que eu curti dele. De resto acho aquilo tudo uma parvalhada (risos).
Diogo – Ele tem dois álbuns bons.
funcionário (Pedro Tavares) – Eu gostei bastante do videoclip com o Lil Pump (risos). Acho que foi um feito de 2018 que marcou o século. E gostava que saíssem mais coisas dessas e que ele calasse um bocado a boca. Mas tirando isso acho que temos de aprender a diferenciar a arte do artista.
Diogo – É verdade, funciona para o black metal também (risos).
TM – Agora voltando à realidade portuguesa, qual de vocês é que vai produzir a próxima música do Sippinpurpp?

Diogo – Olha eu curto bué.
Pedro – Gostava de não ser eu (risos).
Simão – Tu és o único que tem um disco de trap.
Pedro – Ele pode rappar por cima, não digo que não. Ele tá à vontade para experimentar.
Simão – Todos sabemos que é o Rochinha (UNITEDSTATESOF), ele vai fazer um disco de ambient do Sippinpurpp.
UNITEDSTATESOF (João Rochinha) – É verdade, quando ele quiser. “Sippinpurpp, eu quero trabalhar contigo”.


TM – Este ano vocês começaram a fazer vídeos, pelo menos saíram dois do que eu vi.

Simão – Saiu do BuhnnunUNITEDSTATESOF e o meu. Possivelmente vou ter mais um ainda este ano, mas não tenho a certeza se vai estar acabado.
Diogo – Mas para já esta informação, quem é que fez o teledisco do Buhnnun?
Pedro – Foi o Buhnnun.
Diogo – Então o que é que o Buhnnun tem a dizer sobre esse vídeo?
Buhnnun (Ben) – É a visão do Buhnnun sobre a música.
Pedro – Tenho só a adicionar que gostei de aparecer.

TM – Eu estive hoje a ouvir o álbum de Buhnnun, era o único que ainda não tinha ouvido. E reparei que no bandcamp da Rotten Fresh não havia a edição número 6… 

Tomás – Como é que isso aconteceu meu, pensava que ninguém ia reparar (risos).
Pedro – Logo à primeira (risos).
João  O 6 é o Xadrez que nós oferecemos ao Desterro, foi o nosso sexto lançamento.
Pedro  Se fores lá e vires a caixa está lá a dizer FRUIT 06.

TM – Voltando ao disco de Buhnnun, reparei que muitos dos títulos estavam relacionados com matemática, exemplos de termos como hexadecimal, algoritmo, números. Como é que a matemática funciona na tua música?

Ben – No sentido literal não funciona, mas Buhnnun é uma personagem criada por mim e é o autor de tudo o que tem o nome de Buhnnun. É uma máquina que funciona toda à base de números binários e por aí.

TM – Reparei que a última música, “Turing”, talvez seja em referência ao Alan Turing. Começa com código morse e pensei logo em algo muito matemático.

Ben – Sim, sim. Está presente no disco, no vídeo e na capa.


TM – Vocês já lançaram os vossos primeiros discos. Esses discos são o registo das vossas influências? Normalmente os primeiros discos reúnem o que os artistas mais ouvem e gostam ao longo da sua vida. 

Pedro – O meu é o único que não tem nada a ver com o que eu oiço. Foi quase como uma trip, uma estranha trip de uns quantos meses que me levaram a fazer aquilo. E pronto, não deixa de ser meu, não é? Tem lá tudo o que eu faço, em termos das notas que gosto de usar, das sequências. Mas é uma coisa única, nunca vou voltar a fazer aquilo. É uma prenda para a Rotten Fresh (risos).
Simão – O meu primeiro disco é bastante sacar de influências das coisas que eu ouvia mais na altura, e que ainda oiço. Laurel Halo, Autechre, foodman, entre outros. Acho que se ouve lá tudo a acontecer, mas penso que não se cole muito lá.
Tomás  O que eu fiz, fiz porque comecei a ouvir coisas diferentes. Não foi porque era uma coisa que já estava dentro de mim há muito tempo. Já estava a produzir cenas convencionais. De repente descobri uma cena mais left field e decidi que queria fazer isto. Mas até lá nunca tinha tocado no assunto.
Diogo – Isso era para aí em 2016.
Tomás  Eu antes disso só fazia House, Drum ‘n’ bass, Techno… Nunca tinha feito industrial, nunca tinha feito nada assim. 90 BPM’s? No meu Ableton? Não (risos).
Pedro – Ainda bem que somos todos diferentes (risos).

TM – Falando no teu projecto (Oströl), houve uma música tua que foi usada numa peça de dança na Holanda. Como é que a tua música chegou até lá?

Tomás  Foi uma amiga que é coreografa. Ela ouviu, curtiu e pediu para fazer uma edição. Já tenho bastante material adicionado, agora quero ver se lanço o resto da edição também. Se calhar um remix da própria faixa. Gostava de ter estado mais envolvido no processo criativo, mas foi mesmo ela dizer “Curto do que tu tens aqui, podes fazer isto maior, e podes adicionar mais uma secção”.

TM – Conseguiste ver o resultado?

Tomás  Consegui sim. Há fotos muito fixes que quero usar para releases futuras. Gostava de ter mais diálogo mas foi positivo.



TM – Agora falando do OUT.FEST, os Império Pacífico (Luan Bellussi e Pedro Tavares) estiveram lá há umas semanas. Como foi essa experiência no meio de tanta experimentalidade que ali o Barreiro recebe todos os anos?

Pedro – Da minha parte, agora não falando tanto como banda (Império Pacífico), eu já lá tinha estado no OUT.FEST. Para mim sempre foi o melhor festival do país, e arredores, visto que sempre trouxeram cá, para além de outras coisas, os meus nomes queridos. Sempre teve um line-up incrível, e ser chamado para esta edição foi uma honra.

TM – Vão ficar para sempre na história do OUTFEST.

Pedro – Exactamente, já tocámos no OUTFEST. Que para nós vale o que vale, que é muito. Como banda, não sei, tivemos uma experiência muito fixe. Fomos super bem recebidos, o pessoal é incrível. 
trash CAN (Luan) Epá eu não sou uma pessoa muito de festivais, nada disso.
Pedro – Acho que nenhum de nós é (risos).
Luan  Mas foi mesmo uma experiência bué única na minha óptica. Porque nós começamos a tocar em casas lisboetas bué pequenas, com um público deste tamanho, das pessoas que estão aqui à nossa volta basicamente. Ter a oportunidade de tocar no único festival que me diz alguma coisa… foi impressionante. E para além disso, vi um dos melhores concertos se calhar da minha vida, John T. Gast.
Pedro – Quem não foi a John T. Gast não foi ao Outfest.
Luan – Foi absolutamente incrível. E fazer parte desse line-up… Está lá.

TM – Agora dia 9 de novembro vocês vão estar na ZDB, vais lá estar (Simão Simões) a abrir para Eartheater. Tens alguma coisa preparada de especial? É que vai ser o teu maior concerto, supostamente.

Simão – Sim sim, estou muito excitado para lá ir tocar. Acho que vai ser uma cena fixe, numa casa fixe, com pessoas fixes… Vou estar a abrir para Eartheater que é um projecto que eu gosto.

TM – Esteve para aí há dois anos no Teatro Ibérico.

Simão – Sim, na altura ainda não conhecia. Preparado tenho, mais ou menos, umas músicas que vou lançar no próximo release que eu vou fazer por inteiro. E também talvez algumas músicas de um split possível a acontecer daqui a pouco tempo. Em termos de surpresas acho que se resume um bocado a isso, não vou conseguir ter nada físico preparado até lá em princípio, mas sim é algo com que estou excitado. ´


TM – Falando em splits. Colaborações entre vocês, já aconteceu alguma? Vai acontecer?


Diogo – Colaboração de editoras, sim. Vão sair também duas tapes para o ano. Uma delas é um split e a outra será, possivelmente, uma compilação, em princípio, da editora. Vai ser tudo fixe, umas edições bacanas em novos formatos.
Pedro – Vamos ter uma edição de Império Pacífico nova, vai ser uma colaboração com uma editora bastante antiga da cena portuguesa. Esperem para ver. Não dizemos mais nada sobre o assunto. Eventualmente vai aparecer.
Luan – Temos um split lançado na Rotten Trash (risos).
Diogo – Ali aquele menino, o Pedro Brito, vai fazer uma edição no ano que vem, waterdownrobotroute.

TM – Ah sim, já estive lá a ouvir o frigorífico do Diogo (risos).

Pedro – Eu, o Luan e o Ben fizemos um split. Podem ir ouvir, tem 9 músicas. E depois tem tudo o resto que acho interessante. Tem coisas muito variadas. É a primeira vez que vamos falar sobre isso, aconselho-vos a ouvirem tudo o que está na Rotten Trash porque é o que nós queríamos lançar sem filtros.
Diogo – No filter. Tem lá muitas faixas minhas também.


TM – Um colaborador da Threshold que não pôde estar hoje aqui perguntou quais os sintetizadores e efeitos plug-in preferidos ou que mais usam. 

Pedro – Todos os plug-ins free da internet são bem-vindos, os sintetizadores analógicos mais baratos e tudo o que o Simão tiver no quarto.
Simão – Os pré-definidos do Ableton.
João – O cymbal delay do Ableton e pedais de fuzz.
Simão – Pedais de guitarra baratos também.
Tomás  O saturador Saturn e o EchoBoy dos Soundtoys.
Pedro – Isso é tudo free? (risos)
Tomás – Népia népia, é free se tiveres disposto.
Pedro – Ah ok, epá não sei se pudemos dar endorse no Pirate Bay aqui? (risos).
Tomás  Não, não, espera, o quê? Apoiem os vossos criadores de VST’s (risos).

TM – Como é que vocês se sentem ao ser o competidor do Semibreve neste fim de semana? (risos)

Simão – Mal porque nos levaram metade do público. (risos)

TM – De certeza que devem conhecer a Favela Discos do Porto, e eles, por exemplo, no Milhões de Festa fizeram imensos sets em que tocavam vários ao mesmo tempo, uns 5 ou 6. Vocês gostavam de fazer algo do género?

Pedro – Nós ainda temos que propor, mas gostávamos de fazer um Desterronics.
Diogo – Não, um Desterrotten.
Pedro – Desterroten desculpem, ainda não apresentamos a proposta ao Desterro mas gostávamos muito de fazer lá uma sessão de Desterroten.
Diogo – Isso vai acontecer.
Pedro – Seriam muitos computadores ao mesmo tempo em vez de muitas máquinas.
TM – Em que festivais é que vocês gostavam de atuar? Tirando o Outfest.

Simão – Os clássicos em Portugal, os Milhões, os Semibreves, os Jardins Efémeros… Os festivais de música exploratória em Portugal, mesmo no ZigurFest.
Diogo – Rock in Rio (risos).
Pedro – Rock in Rio, Alive, é tudo bem vindo.
Simão – Ah e Rotten Fest, esse é o mais importante de todos. (risos)
Pedro – Nós queremos coisas pequenas e fixes e coisas grandíssimas e merda.
Diogo – Olha não me importava de ir tocar à Feira do Fumeiro, ou à Feira de Santiago (risos). Black Box do Urban ou um palco secundário do Rock in Rio.
Pedro – Secundário? Discutível.
Diogo – Da electrónica às 4 da manhã, mesmo para a carcaçada.
João – A seguir aos Nightmare on Wax. (risos)


TM – Qual o artista pop que gostavam de produzir?

Diogo – Charli XCX.
Pedro – Já tá o A.G.Cook meu, para quê?
Diogo – Pois está. Então vá eu curtia de produzir a filha da Beyoncé (risos). Mas do passado, da actualidade ou do futuro?

TM – De tudo.

Diogo – O que é que eu gostava de ter produzido enquanto pop star? Olha eu estou a gostar muito de ouvir a Ariana Grande (risos).
Simão – Olha fizemos uma colab precisamente com ela.
João – No Rotten Trash está lá a primeira vez em que isso aconteceu.
Diogo – Uma faixa só com samples do novo álbum da Ariana Grande.
Pedro – Vocês têm muito para ouvir nesse site.
Diogo – Mas a Ariana Grande está a dropar bons álbuns de pop, a Charli XCX dropou um ganda álbum que eu ando a ouvir bué, e depois é a Beyoncé, claro… Quando eu tiver 35 pretendo ser um bom producer e quero produzir as filhas das grandes pop stars da actualidade, que de certeza vão ser pop stars também. Eu acredito.
João – Isso é só em Portugal com a Ana Malhoa e tal, só cá é que isso se passa.
Tomás – Eu sou o único que não ouve pop? Vocês ouvem pop?
Simão  Não sabes o que estás a perder.
Diogo – Eu oiço pop. Estás a perder a música de agora.
João – Eu e o Simão gostávamos de trabalhar com o Playboi Carti, e todos esses.
Simão – Com o Skepta, com o Novelist, etc.
Tomás  Okay eu minto, eu teria curtido de trabalhar com o Lil Peep. (risos)

TM – Normalmente as marcas têm slogans, a vossa editora é uma marca e ainda não tem um slogan.

Diogo – Pois não.
João – É “Um bando à parte” (risos).
Diogo – Acho o “Simply the best” da Tina Turner um bom slogan (risos).
Pedro – Metam outro título do Goddard, pronto.

TM – Qual foi o último disco que vocês ouviram?

Pedro – Foi o álbum da Mica Levi com o Oliver Coates, é incrível. Saiu em 2016, chama-se Remain Calm.
Simão – O último do foodman, Aru Otoko No Densetsu.
Diogo – Esse álbum está fixe, também curti bué.
João – Eu estive a ouvir o novo lançamento da naive mas não me lembro do nome.
Tomás  Estive a ouvir unreleaseds do Villalobos. Eu nunca entrei muito naquilo, mas agora percebo o quão genial é.
Diogo – Olha eu vim para aqui no metro a ouvir o Tapestry da Carole King.
Luan – Acho que o último disco que eu ouvi foi o Love dos Yong Yong, é um disco incrível.
Pedro – Esse ouvimos em conjunto até, muita bom.

TM – Último disco que cada um comprou?

Pedro – O DWART do DWART da editora Holuzam
Simão – Comprei o último do buhnnun no bandcamp como toda a gente devia fazer, por 73 cêntimos.
João – Eu comprei o de 777negative111, I don’t need this place. Grande dark noise aqui, straight outta linha verde.
Diogo – Olha o último disco que eu comprei foi o primeiro álbum dos The Streets, que é Original Pirate Material. Esse álbum é muita fixe, e hoje vou comprar mais alguns na Flur. Apoiem a casa, uma discoteca (risos) onde eu já vi muitos concertos ao longo da minha vida, e onde já comprei muitos discos.
João – Foi na Flur onde eu abri para a pessoa que mais curti de abrir, BRUXAS/COBRAS do Ricardo Martins.


TM – E pronto, foi um momento muito agradável!
FacebookTwitter