Brixton Hills | 1980 Lyfers | fevereiro de 2019
7.5/10
Slunk são das mais recentes adições ao repertório da 1980 Lyfers, editora encabeçada por Nave Mãe e Tugalife que editou o ano passado o disco de estria de David Bruno, o muito prolífico artista/cantor português por detrás de projetos como Conjunto Corona, dB ou, mais propriamente e sem grandes rodeios, David Bruno.
A história dos Slunk, contudo, não passa por Gaia, Gondomar ou Mafamude – a dupla de eletrónica conheceu-se numa barbearia jamaicana no Sul de Londres, onde a nostalgia deu início ao que seria, um dia, Brixton Hills, o primeiro longa duração dos Slunk, editado no dia 8 de fevereiro. Apesar de estarmos agora numa ressaca complicada dos anos 80, em que o saudosismo levam muitos discos ao lugar comum e em que muitos projetos promissores acabam por acabar nos piores B-sides de Giorgio Moroder, os Slunk trouxeram esta saudade portuguesa para o cenário britânico que os uniu e, ao longo de 10 anos, produziram uma revisita de luxo a muitos dos sons que trouxeram o Reino Unido para a frente de ataque da música eletrónica.
Há, com certeza, uma sabedoria necessária para que isto aconteça – ver capturas de ecrã do Streets of Rage não traduz a felicidade de derrotar o Mr. X. Os Slunk não soam a um esforço inglório de adaptar os popularismos e aforismos do passado, mas sim a uma homenagem aos sons clássicos das drum machines que marcaram a década dos anos 90, aos sintetizadores mascarados de reverberação, às samples vocais que tiraram o house do armazém, aos ecrãs de loading infindáveis, aos sopros para dentro das cassettes da Sega Saturn, às arcadas apinhadas de gente munida de moedas. Brixton Hills pode esconder-se numa espécie de revivalismo, mas existe enquanto algo completamente novo.
A produção é moderna, mas não perde o brilho do antigo, a mistura deixa respirar cada um dos elementos de cada faixa como se cada sample e sintetizador tivesse sido feito para ser tocado naquele momento. A composição de cada tema foi ajustada ao máximo para que não haja espaços por preencher, mas sem que saturação salte à mente em algum momento. Brixton Hills existe num equilíbrio entre o que foi moderno em tempos e o contemporâneo, seja no confronto entre as batidas de 808 sufocada e os sintetizadores-em-estado-líquido de “Frank Ocean”, na produção trap-meets-dub-meets-grime de “For tha Gs”, ou na antítese entre o jungle e o deconstructed club (na falta de um termo melhor) de “Arcade”.
Brixton Hills não é um álbum velho que soa a novo e muito menos o contrário. Brixton Hills cria o seu próprio microclima dos anos 90, com direito a VHS e cromos da NBA no meio de 2019.