How Many Lives | Icy Cold Records | fevereiro de 2018
7.5/10
Anunciado em janeiro – e após a recente edição do EP de curta-duração Space And Time – Sydney Valette regressou este ano às edições com o seu quinto disco longa-duração de carreira, How Many Lives, trabalho que celebra também o 10º aniversário de carreira do produtor francês enquanto explora algumas vertentes da darkwave e minimal wave aliadas à nova vaga de post-punk contemporâneo. Ao longo de 11 músicas – quatro das quais já editadas anteriormente com o EP Space and Time – Sydney Valette apresenta uma coleção de músicas onde podemos ouvir de tudo um pouco desde que o produtor iniciou o seu percurso na música: do mais childish synth-pop punk até aos ritmos mais destrutivos, mas igualmente poéticos. Uma coleção de temas que enchem a alma para quem se encontra no negrume do existencialismo.
A abrir com o tema “How Many Lives”, single que dá título ao álbum, Sydney Valette começa por questionar o ouvinte “How many years How many nights Will you shout? Not Being heard Crying out (…) Here I am // With all the troubles in the world Is it real or is it fake? // Such a mess in my head In my head // In my head” e contextualizá-lo sobre a complexidade do existencialismo humano. Este tema, juntamente com o dream-poppy “Space and Time”, a incorporação sonoro-explorativa “Back From Mexico” e a incendiária “I Can’t” tinham já anteriormente sido editados em formato curta-duração no final do ano passado e, neste disco, representam o finalizar da primeira década de um projeto que se aguentou firme nos cenários da música underground e que se espera que perdure por mais anos fora.
Das sete restantes músicas a primeira novidade encontra-se em “Lies”, terceiro tema do alinhamento do disco e umas das mais potentes e poderosas faixas, daquelas que transmite uma energia inesgotável ao ouvinte. Outra das grandes surpresas do disco pode encontrar-se em “New Pictures”, tema que é iniciado num ritmo mais lento e obscuro, com grande foco à introspeção pessoal do ouvinte, sendo prosseguido por uma onda eletrónico-minimalista de sintetizadores em camadas aos quais Sydney Valette acrescenta elementos sonoros altamente cativantes, além da sua voz que aqui surge mais afagada e reconfortável que nos temas mais abrasivos. Falta ainda mencionar “Rzurekt”, outro caótico e pirómano tema que explora os elementos da darkwave, new wave, electropunk e derivados, que certamente se fará ouvir entre as setlists dos DJ’s mais atentos do panorama underground.
Um ponto de foco que é encontrado em How Many Lives está diretamente relacionado com a recriação sonora que Sydney Valette executou do icónico tema “Anarchy in the UK” original dos Sex Pistols – a sétima canção deste disco comemorativo que acaba por surpreender pelo tratamento dream-punk e os apetrechos “fofinhos” que a rodeiam. Além desta nova roupagem na sonoridade, Sydney Valette também incorpora algumas experimentações vocais o que acaba por surtir um efeito positivo relativamente à música original.
Antes de se despedir, o músico apresenta ainda duas faixas bónus datadas de 2013 e 2014. A primeira, “My Pride” (2014), a integrar a estética da dream-pop numa eletrónica pegajosa e completamente viciante (um daqueles temas que ficam obrigatoriamente em loop após uma primeira audição). A segunda, “Polished Mirrors” (2013), a apresentar-se do tipo balada em formato eletrónica explorativa e num desenvolvimento arrastado que, não sendo um dos mais apelativos temas do disco, representa uma parte da história na carreira de Sydney Valette, à semelhança de todo este How Many Lives. Um disco que vale a pena explorar.