Helicoide é ainda um trabalho que vai ainda além do seu resultado como produto sonoro. A banda afirma em press-release que este novo disco foi gravado nas cidades de Atenas e Salónica entre janeiro e março de 2018, enquanto ambos os lugares eram vendidos ao Airbnb. Avaliando o desígnio pelo o qual o projeto recorre para nomear o seu trabalho, encontra-se inerte, portanto, uma ténue crítica política e social, esta última inclusa na exploração dos temas que incorporam este novo registo. O disco abre com o tema homónimo “Helicoide” que nos apresenta a primeira interseção resultante entre os sons sintetizados em loop, os efeitos de pedais e uma dose de experimentação altamente narcótica. Através de um desenvolvimento moroso que abrange a introdução de cada vez mais elementos (incluindo os primeiros vocais), os Millions of Dead Tourists vão-nos mostrando uma interessante evolução relativamente às sonoridades que já nos tinham exposto no disco de estreia, com um som ainda mais aditivo.
Além da tradicional abordagem eletrónica, em Helicoide os Millions of Dead Tourists destacam ainda a sua veia influenciada no movimento kraut-rock sempre com o característico ponto de foco no baixo e na emulação de ritmos potentes que abordam os mais divergentes ambientes da música eletrónica de traços essencialmente negros. Se em temas como “Nothing is Possible” somos introduzidos a um ambiente soturno – onde o baixo nos conduz a um ambiente sonoro que consegue soar a industrial, fantasmagórico, sinistro e altamente dinâmico -; em “Social media as a concentration camp” somos absorvidos por um techno mais colorido com um ritmo altamente demarcado, ao mesmo tempo que somos confrontados com algumas ténues questões do foro social, descritas na nominação do próprio tema.
Antes de se despedir, o trio grego recorre ao tema final “The long and sufficiently agonizing death of a chicago boy”, que chega para abarcar o ouvinte a um porto de abrigo completamente divergente dos padrões de conforto a que este está habituado. Um ensaio sonoro que aporta um terreno explorativo entre os elementos da “avant-electronics“, dark ambient e o confronto existencialista de se ser humano. Difícil de consumir, mas altamente engenhoso do ponto de vista da produção e como produto final.
Através de um conjunto de quatro temas produzidos com recurso a sintetizadores, baixo e efeitos eletrónicos, os Millions of Dead Tourists constroem em Helicoide um disco com uma duração aproximada a 38 minutos, onde as suas experimentações eletrónicas conduzem a um efeito altamente imersivo. É quase tão instantâneo quanto o café solúvel. Ora experimentem a clicar no play.
Helicode está disponível nos formatos vinil e CD – este último com recurso a um packaging esteticamente apelativo. Podem comprar aqui.