Sábado, dia 17 de agosto, foi o último dos quatro dias do Vodafone Paredes de Coura. A tarde no recinto começou ao som da cantautora sul-africana Alice Phoebe Lou que, aproveitando um pouco de cada subgénero da música pop, apresentou as suas composições charmosas, suaves e dançáveis a um público curioso. A sua atuação no final da tarde, um horário muitas vezes ingrato para artistas menos conhecidos, encontrou ainda algumas dificuldades devido a problemas técnicos que resultaram num som mais baixo que o esperado, deixando que os portugueses Ganso, que tocavam no palco principal, abafassem a sua performance. Quando o problema foi corrigido, uns minutos após o princípio do concerto, o público bateu palmas de alívio e satisfação. Doente, mas bem-disposta, Alice trouxe na bagagem o seu novo álbum, Paper Castles, num dos melhores e mais alegres concertos do dia. Ouviram-se canções como “Girl on an Island”, “Nostalgia” e “Skin Crawl” e houve até tempo para uma versão de “Want Me”, do britânico Puma Blue. “Sinto-me como uma rockstar pela primeira vez na minha vida”, disse Alice a certa altura. O público chegou ao fim do concerto tão satisfeito como ela.
Após a surpresa que foi o primeiro concerto do dia, Mitski, num dos concertos mais aguardados do dia, desiludiu. As suas músicas não estiveram ao nível das versões em estúdio e a coreografia que esta fez ao longode todo o concerto, com uma mesa e uma cadeira, foi confusa e criou alguma distância entre ela e o público. Faltou a produção e dinâmica do seu último álbum, Be the Cowboy, cujas canções não se traduziram de forma eficaz para uma performance ao vivo.
Após uma breve passagem pelo palco secundário, onde os Sensible Soccers exibiam as suas texturas eletrónicas e ritmos dançáveis, presenciámos o regresso de Patti Smith a Portugal. Em 2015, a consagrada música e poetisa veio brindar o público com uma performance na íntegra do seu icónico álbum Horses; desta vez, no entanto, a setlist foi completamente diferente. Começou de forma estrondosa, com a conhecida “People Have the Power”, e tocou versões de variados artistas, desde Jimi Hendrix Experience a Neil Young, intercaladas com canções dos seus próprios discos. Entre as músicas transmitiu mensagens de liberdade e o público respondeu com entusiasmo. A certa altura saiu de palco e a banda tocou um medley de “I’m Free”, dos Rolling Stones, misturada com “Walk on the Wild Side”, de Lou Reed. Patti Smith regressou a tempo de cantar o fim da música e quando esta terminou a assistência gritou o nome dela incessantemente. O melhor sobrou para o fim, quando ouvimos uma longa e épica versão de “Gloria”, que gerou uma explosão de aplausos.
A música de Kamaal Williams deambula entre o jazz e diversos tipos de música de dança. O modo de tocar do teclista baseia-se muitas vezes em ritmos repetitivos que fazem surgir secções mais dançáveis e servem de acompanhamento para solos improvisados por outros membros do grupo. Assistimos apenas a parte do seu concerto, mas gostámos do que ouvimos.
No único concerto de hip hop do festival, Freddie Gibbs & Madlib não conquistaram uma grande parte do público, mas deixaram os seus maiores fãs em êxtase. Madlib encarou o papel de DJ e encarregou-se das alterações de volume e equalização dos beats, cuja mistura original foi arruinada por um exagero das frequências mais graves. Freddie Gibbs mostrou todo o seu talento como rapper, correu e brincou em palco, puxando pelo público. O rapper elogiou o festival, chegando a compará-lo ao Super Bowl, e incentivou muitas vezes os seus fãs a fazer barulho ou a gritar “fuck police”. As primeiras filas levantaram poeira e mostraram-se muito recetivas aos beats de Madlib e versos e humor de Gibbs, mas a maior parte do público pouco reagiu a um concerto que esteve algo desenquadrado do resto do cartaz do festival.
Os Suede são uma das maiores bandas de britpop, mas foram uma escolha estranha para fechar o festival. Não são tão populares como outros cabeças de cartaz do festival e isso refletiu-se no número de pessoas que restou para ver a sua atuação. Ficaram aquém da sua última vinda a Portugal, em 2013, por muito que o vocalista Brett Anderson se tenha esforçado em palco. Deu tudo o que tinha, foi ao chão inúmeras vezes, pegou numa das câmaras ligadas aos ecrãs do palco e chegou a cantar do outro lado das grades, entre os seus fãs, mas a música dos Suede esteve longe de ter o impacto ao vivo que se esperaria depois de ouvir os seus álbuns. A setlist foi um best of da sua discografia, tendo-se ouvido músicas como “Metal Mickey”, “Trash”, “Animal Nitrate”, “The Wild Ones” (numa versão acústica que removeu as melhores frases de guitarra), “Beautiful Ones” e “She’s in Fashion”, mas a energia da banda não passou para o nosso lado: as músicas foram pouco dinâmicas, ou talvez o equilíbrio do som não fosse o melhor. Não era o final que esta excelente edição do Paredes de Coura merecia. Felizmente, no último After Hours, JaydaG esteve ao comando de um excelente DJ set que agitou os festivaleiros até às últimas horas da madrugada.
O Vodafone Paredes de Coura regressa em 2020, nos dias 19, 20, 21 e 22 de agosto.