Desde o mais recente Hébéphrénie (Uknown Pleasure Records) dos LOVATARAXX à parafernália experimental dos Bukkake Moms com Raisins (Decoherence Records), passamos ainda por território português representado pelos Loosense no seu disco de estreia Saloon (Camaleao), somos completamente arrebatados com o mundo artístico e agoniante dos DROSE na reedição de boy man machine + (Computer Students), e ficamos no chill com os sons funk dos YÏN YÏN no mais recente The Rabbit That Hunts Tigers (Bongo Joe).
Aproveitem, então, para ouvir estas edições e ler as respetivas críticas, abaixo.
A dupla das ondas frias e dos sintetizadores minimais LOVATARAXX regressaram este mês de novembro às edições com Hébéphrénie, disco que se assume como o primeiro lançamento longa-duração oficial da dupla. (Abençoadas as almas que tiveram acesso a Kairos (2016) na sua versão expandida, pois, na história dos LOVATARAXX esse é o primeiro grande registo oficial).
Kleo Pattern e Almond Blossom juntam-se agora ao catálogo da conceituada Uknown Pleasure Records para nos presentearem com um conjunto de 11 canções altamente abrasivas e incontestáveis peças de som prontas para pintarem o ambiente das noites underground mundo fora. Inspirados pelos grandes atos dos anos 80 e finais de 70 como Fad Gadget, Minimal Compact, Tuxedomoon, Suicide ou Kas Product também os LOVATARAXX oferecem-nos música de toada monocromática, numa atmosfera nostálgica mas altamente assimilável e aditiva. A título de exemplo mencione-se os temas que sobressaem logo às primeiras audições como os poderosos “Prostration”, “Sidewalk” e “Anna Vennus”(ambas as duas extraídas da versão original de Kairos) e ainda músicas como “Angst”, “Blok” ou “Craving” – a explorar os sons da nova geração de música eletrónica nos campos da minimal wave. Um disco que repesca desde os sons mais sonhadores e brilhantes às paisagens mais devastadoras e decadentes, sem nunca deixar afincado o seu teor imersivo.
Hébéphrénie é uma homenagem à deusa da juventude, de mesmo nome, e é um disco que aborda a sensação de chegar tarde demais a um mundo velho demais. Sem chegarem tarde a um mundo velho, que se encontra agora em puro revivalismo, os LOVATARAXX oferecem-nos um disco que, sem acrescentar grandes novidades à cena do goth underground, se destaca por ser uma edição com alta qualidade de produção.
Os Loosense são um ensemble oriundo da metrópole de Lisboa que lança o seu segundo álbum Saloon, contendo oito faixas de puros momentos a puxar para o relaxamento e para a pândega em formato sonoro. A banda especializa-se em modelar instrumentações com base no jazz de fusão e no funk, fazendo lembrar a musicalidade de outros grupos pulsantes e arrebitados que irá fazer as delícias dos fãs de bandas como os Vulfpeck, por exemplo. E acrescente-se, alguns dos pontos fortes do grupo serão mesmo a mestria e à vontade ao ver como as instrumentações se envolvem num só tão naturalmente, pontos esses comparáveis com a banda de Michigan.
No entanto, os Loosense acrescentam ao seu cunho próprio um pendor para sonoridades de teor exótico, mais especificamente a convocar uma sonoridade jazz com a mente a pensar em climas mais latinos, cortesia da labuta particularmente vibrante da instrumentação de sopros, o que serve para distinguir um bocado o grupo dos compatriotas do género. Há todo um ambiente de sonoridade sedosa que remete fortemente para algo mais vintage – falemos late 70’s/early 80’s – o que, apesar de fazer perder pontos em termos de originalidade, é sempre algo que é muito bem-vindo, especialmente com o nível de execução tomada aqui a cabo. Há umas belas demonstrações de flamenco em “Capitol II”, um hino à alegria da vida sob a forma de “Flamingo”, ou a energia contagiante do “daBox”.
Este é um disco de origem nacional a ter em conta para servir de catalisador para um ambiente de festa rija, e claro, o mesmo vai para as performances ao vivo.
A banda americana de rock experimental/art-rock DROSE reeditou no passado mês de outubro o seu trabalho boy man machine + numa versão expandida e remasterizada. O álbum, que foi lançado originalmente em 2016 é a primeira edição do catálogo Computer Students a integrar a série Anatomical Reissues, que consiste na reedição de álbuns com alto valor ao nível do design conceptual, apresentação e packaging. Uma edição obrigatória na coleção de qualquer melómano, portanto.
boy man machine + foi escrito e gravado durante o projeto e a construção de um carro de corrida em Columbus, Ohio na instalação que abrigou as atividades de construção, tendo a banda gravado vários dos sons resultantes do trabalho de produção. Neste cenário foi originado, numa primeira instância, um disco composto por 10 temas com foco instrumental no ruído e a explorar desde os ambientes mais ténues do rock aos mais incendiários e inspirados nas atmosferas mais heavy. Agora numa reedição a que se incluem três novos temas e cinco singles remasterizados, o projeto liderado por Dustin Rose volta a mostrar de forma afincada o seu teor altamente artístico, numa música característica que explora os tormentos da senciência através do som de máquinas. Com constantes quebras de ritmos a demarcaram a evolução da sua sonoridade os DROSE facilmente nos projetam para o seu mundo imersivo de sensações extremas neste relevante boy man machine +.
Definitivamente um álbum sem filtros que explora os pormenores mais ínfimos do ruído. De referir ainda que a voz de Dustin Rose e o próprio conteúdo irrepreensível e imprevisível que é criado neste novo disco dos DROSE nos faz lembrar, em certas passagens, a atmosfera arrojada e experimental dos russos Shortparis e os vocais doces de Nikolai Komyagin. Afinal estamos a falar de um alto nível de criatividade aqui.
Se pegarmos num globo para analisarmos os pontos de referência dos YÏN YÏN provavelmente temos que começar por apontar para Maastricht, na Holanda, lar deste conjunto. No entanto, espiritualmente, a sua casa podia muito bem situar-se numa ilha tropical do Japão (algo que faria muito mais sentido), dado os seus exóticos instrumentais, ou numa floresta tailandesa, local que podia muito bem servir de cenário para um filme retro de ação com as músicas deste álbum como banda sonora, mas também paisagens mais urbanas como São Francisco, em pleno movimento hippie, ou Berlim, quando a eletrónica dançável começou a despertar.
Depois do lançamento de inúmeros singles, The Rabbit That Hunts Tigers é o primeiro álbum de longa duração dos holandeses. Dentro desta pérola podemos encontrar resquícios de psych, surf ou funk rock tingidos de exótica e até uma (inesperada) eletrónica e disco, que encerra o álbum em grande estilo com “Dis Kô Dis Kô”.
Um dos álbuns mais curiosos de 2019 e que passou (injustamente) despercebido a alguns audiófilos. Tem todos os ingredientes para deixar os ouvintes presos à sua audição para descobrir o que é que a próxima inesperada curva vai trazer aos seus ouvidos.
Os Bukkake Moms são um sexteto do Texas, a mesma região que também pariu os Jesus Lizard, uma banda mítica à qual eles vão beber inspiração. Aproximando-se do lado mais matemático do pós-hardcore e da estética no-wave, os Bukkake Moms despedem-se das edições com Raisins, o seu mais recente e último disco. O sucessor de Thanksgiving with the Clowns é lançado em 2019 e já vem sendo anunciado desde 2016, ano em que a banda se dissolveu.
Os Bukkake Moms começaram em 2011 e ao longo de cinco de anos de carreira somaram mais de 10 edições discográficas nas quais podem encontrar mais pérolas sonoras de lo-fi experimental (acima de tudo nos primeiros discos) que poderiam perfeitamente constar num catálogo de best off de lados B dos Butthole Surfers. Aliás e em jeito de resenha à obra dos Bukkake Moms, a grande crítica que podemos fazer é que quase toda a sua discografia presta largas e óbvias homenagens aos Butthole Surfers sem nunca se afastar muito destes, o que não é necessariamente mau ou reprovável. Isto porque sem dúvida que seria mais entusiasmante ouvir algo mais complexo que um lado B dos Butthole Surfers, mas a verdade é que são um belíssimo lado B.