Para LUNACY não há barreiras ao nível da distorção e do ruído. Recriá-los em forma de arte sonora, incluindo toda a capacidade de os elevar a um limite suportável para o espectro auditivo humano são as bases do seu caminho no panorama da música contemporânea. A prova disso foi-nos apresentada logo em outubro, com o primeiro tema de antecipação do disco, “Perception”, que se fez acompanhar de um trabalho audiovisual com assinatura de Timothée Gainet (Poison Point, IV Horsemen): nostalgia em força num contraste entre a cor e o negro. Tudo a depender da nossa própria perceção.
Navegar por ambiente submersos em distorção entrelaçados às diversas dimensões da eletrónica parece ser uma atividade bastante corriqueira no portefólio musical do artista. Se, já com a compilação Just The Beggining (2018; Altarpiece / Third Coming Records) que antecedeu este Age of Truth, LUNACY nos mostrou o seu vigor em transgredir a perceção do nosso estado de consciência, ainda no cenário de antecipação do novo disco o projeto voltava a apresentar pano para mangas. Numa versão mais poderosa e techno-inspired chegava-nos “Imminent”, a segunda amostra de Age of Truth que a nível audiovisual afinca à abertura de novas perspetivas, sob outros ângulos, a partir da distorção de imagens. Por trás riffs de guitarra cintilantes que, de certa forma, nos confortam.
A 22 de novembro chegava, então, às prateleiras aquele que é o primeiro LP da carreira de LUNACY e que sucede quatro EP’s e uma compilação lançados entre 2016 e 2018. Marcado pela abertura com a faixa “Sullen”, uma malha a introduzir as ambiências base que LUNACY tem explorado ao longo dos últimos anos é em temas como “Fall of Arms” – numa eletrónica potente com uma mensagem vocal arduamente percetível; ou “Age of Truth” – um dos momentos graciosos do disco, com atmosferas densas, extremamente melódicas e absolutamente abrangentes, que LUNACY nos conquista e faz-nos compreender o seu tão sombrio e caótico mundo.
Em Age of Truth – disco que contou com a masterização de Oliver Ackermann (A Place To Bury Strangers) – LUNACY aborda essencialmente a temática do envelhecimento da humanidade e os danos resultantes, num exercício sonoro que, para além de entreter, tem o princípio de nos fazer pensar nas atitudes e comportamentos que tomamos como seres conscientes. A música que encerra o disco, “The Ripple” é um bom exemplo deste conceito. Tendo ido buscar nome ao efeito ou ideia de que uma pequena decisão incorreta pode ter consequências duradouras e de longo alcance, “The Ripple” é o fecho perfeito da interrogação relativamente aos tempos vindouros. E quiçá, uma solução.
Ao apresentar um conceito que conjuga toda a estética da imagem com a sonoridade criada, LUNACY tem jogado boas cartas no cenário underground contemporâneo. Nesta “estreia” com Age Of Truth há espaço para explorar em força a garra do ruído e ampliá-lo para novos cenários de escalamento rítmico, com toda uma mensagem social subliminar por trás. Numa eletrónica imperativa, vibrante e amplamente ruidosa, LUNACY apresenta um disco que não é fácil de assimilar para um ouvido comum, mas que marcará o coração dos amantes da eletrónica experimental e das intermitências do shoegaze.
O disco está comercializado nos formatos vinil (numa edição rosa ultra limitada a 100 unidades e quase esgotada, e edição preta normal) além disso foi também disponibilizado em cassete, numa edição limitada a 50 unidades, tudo na alçada da Third Coming Records. Aproveitem para comprar a vossa cópia aqui.