Banish
Control Yourself

| Março 17, 2020 12:56 am

Control Yourself | MMXX | janeiro de 2020
8.0/10

Em tempos de incerteza controlem-se. Controlo é a palavra de ordem no período da iminência do pânico onde nos vimos automaticamente imersos numa bolha de liberdade condicionada. O trio australiano Banish sabe-o tão bem e por isso, a antecipar todo o caos que se torna cada vez mais evidente nos dias que correm, apresenta ao mundo Control Yourself um conjunto de oito faixas estarrecidas no negrume da existência humana com uma mensagem tão intensa e forte que se deixa dissipar entre o ruído e confusão. É, portanto, entre caixas de ritmo descontroladas e sintetizadores minimais a fazerem soar tempos de emergência que, o synth-punk dos Banish se torna tão aclamado entre as ruínas da estabilidade evidenciadas nos dias que correm. Gravadas em 2019, as oito faixas comprimidas em Control Yourself capturam as mudanças de temperatura, a melancolia e os desejos longínquos que acompanham a vida no hemisfério sul e que agora se tornam notórios numa escala global. 


A banda formada por Christopher Gray (baixo, sintetizadores, programação), Sarah McKenna (voz, sintetizadores) e René Schaefer (guitarra) faz a estreia nas edições de estúdio com um disco que traz uma amálgama de sons crus, estruturados entre uma base minimalista e acentuados exercícios de voz, ora melodiosos ora abrasivos. Como primeira amostra encontra-se “Simple Animal”, faixa de abertura do disco a encapsular a estética sombria dos Banish por entre um baixo imperativo, guitarras insistentes, sintetizadores vigorosos e toda uma aura misteriosa ao seu redor. “Simple Animal” é um tema que os Banish escreveram para retratar a tendência humana de desviar-se da racionalidade quando uma situação se torna desafiadora. No vídeo, a preto e branco, que o acompanha e conta com a direção do artista Don Grey podemos comprovar a sua essência ora sóbria ora enervante.




Numa decadência melodiosa e textural os Banish continuam a construir as suas paisagens sonoras em “Tristan da Cunha”, tema que nos aporta aos territórios sonoros de nomes como Second Still e Whispering Sons pelas suas paisagens sonoras monocromáticas de ambiências gélidas. Aqui Sarah McKenna deixa claro o seu estado de ansiedade, num trabalho de voz que vai da evocação, ao hipnotismo culminando numa decadência algures celestial. Este ambiente eucarístico mantém-se na abertura da faixa que lhe dá sucessão, “Milk” onde o coro faz as delícias dos primeiros segundos de avanço, sendo procedido por sintetizadores com um trago minimal e, ainda, um jogo de guitarra e baixo comum nas atmosferas post-punk, mas cativante o suficiente para prender o ouvinte até aos segundos finais. Para encerrar o lado A encontra-se o profilático tema de encerramento, “Control Yourself” que viaja entre o subversivo mundo de contemplação de nomes como A Dead Forest Index até às atmosferas mais abrasivas e envoltas em gritos de revolta. Música para os perdidos. 




A dar início ao lado B encontra-se toda uma abordagem mais ruidosa, tendencialmente distorcida e dominada por vocais distantes com o tema “Death on the Installment Plan” a fazer-se ecoar em pano de fundo. Através da essência do synth-punk, bastante notória na produção, sobressaem também alguns elementos sonoros característicos do kraut-rock e ainda um choque experimental arrasado pelo pontual saxofone, à procura de um lugar no meio da parafernália sonora. Em contraste, “Cover You Up” procura o carisma da eletrónica minimal num tema mais badalado e que inspira uma maturidade bastante apelativa por parte do trio australiano. Entre sussurros Mckenna deixa-nos uma provocativa mensagem de despedida “I’ll cover you up // And when they ask // We were just ships (We are two ships) // That never passed“. 

Já a chegar à reta final do disco encontramos “Undress”, uma pequena colisão de energia efervescente transmitida numa atitude punk arrojada e todo um cunho musical a fazer tornar iminentes sentimentos de fúria, revolta e necessidade de mudança. Sarah McKenna absorve todo um lado mais grave em presença e emana um poder incontrolável no meio da desordem instrumental. A encerrar encontra-se “A White Rose”, tema prepotente a abrir com uma batida eletrónica poderosa à qual se vão juntando lentamente, sintetizadores, guitarra e voz num clima que tão depressa soa a confortante como sinistro. Afagados na impotência, os Banish distorcem todas as camadas criadas, até então, para encerrar o marco de estreia com um final aberto e algures espacial. 


Em Control Yourself o trio oriundo de Melbourne apresenta-nos um conjunto de oito faixas que viajam entre atmosferas intensas, cumulativas mas altamente absorvidas por um senso de decadência iminente. Num disco que se foca na estrutura e sintonia do universo como um fator essencial para o progresso, a banda apresenta um trabalho bastante interessante que prima pelo certo teor inventivo pormenorizado em algumas faixas. Para uma estreia os Banish destacam-se essencialmente pela sensibilidade que tornam evidente ao longo das composições, conjugando ritmos e melodias de forma divergente e sem nunca soar dissonante. Em tempos de incerteza, uma coisa que é certa: os Banish trazem da Austrália um disco que certamente encontrará o seu espaço para ecoar nas playlists mundo fora.




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