Unsafe Space Garden em entrevista: “Muito facilmente se começa a levar tudo demasiado a sério”

Unsafe Space Garden em entrevista: “Muito facilmente se começa a levar tudo demasiado a sério”

| Março 30, 2020 7:36 pm

Unsafe Space Garden em entrevista: “Muito facilmente se começa a levar tudo demasiado a sério”

| Março 30, 2020 7:36 pm

Os Unsafe Space Garden são o filho de Nuno Duarte, apadrinhados por Alexandra Saldanha e Diogo Costa. O trio presenteou-nos a 13 de março com o seu primeiro longa duração com o selo da recém-criada Discos de Platão. Guilty Measures traz consigo dez melodias pop bem caóticas e bem-humoradas.

Um ano depois da sua estreia com o EP Bubble Burst e com a natural maturação da chegada à idade adulta, a composição e execução deste disco foi o processo de aceitar o caos na descoberta do que é a vida terrena.

Em entrevista por e-mail, falámos com os Unsafe Space Garden sobre a sua origem, as suas influências e o processo de composição em Guilty Measures, entre outras temáticas. Leiam a entrevista completa em baixo.


De onde surgiu o nome Unsafe Space Garden?

Unsafe Space Garden (USG) – Unsafe Space vem da crença de que devemos aceitar o caos e o Garden é a relvinha maravilhosa onde um gajo se deita e colhe as flores do ter sido capaz de enfrentar o dito caos.

Podem-nos contar a história por detrás do vosso projeto?


USG – Tudo começou com uma amizade, depois um raio numa testa, seguido de uns papiros em tinta vermelha que nos trouxeram, depois de muitas aventuras, até ao preciso momento em que respondemos a estas perguntas.


Como funcionou o processo de composição de Guilty Measures? Houve alguma diferença relativamente ao EP de estreia, Bubbleburst?


USG – Foi ligeiramente diferente. Primeiro porque levou foi mais tempo por ter surgido muito mais material. Em vez de cinco temas, como no EP, havia uns treze e desses treze ficaram dez. Ainda assim, cada um deles passou por um processo de maturação, houve uma pausa entre compor e produzir, o que gerou um certo distanciamento. Houve músicas que foram completamente alteradas após esse período, como é o caso da “You Broke My Shell”, e outras que apareceram só após esse período, como é o caso da “The Nonsensical Tsunami”. No EP, não houve esse tempo nem a coragem para isso tudo.


Há alguma temática associada a este novo disco?

USG – Sim. O disco é uma reflexão sobre o sentimento de culpa, sobre as emoções no seu auge e a possibilidade de se tornarem prisões.  É sobre o ser-se humano, e andar aqui, sem saber bem porquê nem como.

Que discos é que andaram a ouvir durante a gravação de Guilty Measures?

USG – Ouvimos muitos discos como limpa sabores durante as gravações, assim como a novela do R. Kelly, sugestões do Pedro Ribeiro, que nos gravou e misturou e masterizou o disco.

O que vos motivou a compor músicas tão caóticas, teatrais e, acima de tudo, divertidas e descomprometidas?

USG – Uma vez que se passou aquele limite de decência num momento de criação mais corajoso, o nome que se tem no cartão de cidadão deixa um bocado de fazer sentido. Depois ris-te muito de ti mesmo e do que tu achas serem problemas. Há uma liberdade muito grande nisso, que leva ao absurdo e a gostar muito dele como meio para transmitir ideias. Depois entra na mesma aquele medo de se parecer parvo/ruidoso/dramático e é preciso voltar a saber não ter medo quando se sobe ao palco ou quando se lança algo novo. Muito facilmente se começa a levar tudo demasiado a sério. Ao fazer um projeto assim, não se pode nunca cair nesse erro, caso contrário torna-se contraditório e desonesto.




Neste disco de estreia podemos escutar dez canções bastante diferentes entre si, mas que têm em comum a psicadelia e o experimentalismo. Que instrumentos é que usaram para as gravar?

USG – A formação normal: bateria, baixo, guitarra elétrica, guitarra acústica, synths e vozes. Depois alguns instrumentos de percussão, incluindo um ao qual decidimos chamar de João Miguel porque não conhecíamos o nome. É basicamente um pau com um fio numa das pontas o qual segura um engenho qualquer de madeira. Ao rodar, produz um som muito caricato, usado por duas vezes no disco.

Podem falar-nos sobre a música “Balcony Panoramics”? Há alguma música que queiram destacar?

USG – É acerca do perspetivar o que se está a passar e surgiu porque vivíamos num sótão que tinha uma varanda com vista sobre a cidade. Sempre que tudo parecia assustador, bastava lá ir para perceber que tudo é apenas uma grande coisa estranha e que está a acontecer sempre das mais pequenas formas. De algum modo, assistir ao modo como os dias se desenrolam numa varanda muito alta, coloca em perspetiva o que quer que seja que estejamos a passar. É uma música sobre esperança e um bocado um apelo para que nos dirijamos às mais variadas varandas, que podem ser o que nos apetecer, de modo a cairmos na terra.
Gostamos particularmente da “Confessing My Lila”, por ser tão especial para nós de diferentes maneiras, e por ter sido a que mais dores de cabeça criou.



Já têm concertos marcados para apresentarem o novo disco?

USG – Sim, e não. Com o Covid-19 ninguém sabe bem o rumo dos próximos meses. Mas se alguém nos quiser convidar para tocar quando a poeira assentar, estamos cheios de vontade.

Quais os artistas e/ou álbuns que têm ouvido nas últimas semanas?

USG – O novo disco do King Krule, Erykah Badu, D’Angelo, Le Mystère des Voix Bulgares, Anna Meredith, DakhaBrakha, Jorge Ben JorA Tábua de Esmeralda, Andy ShaufThe Party.


Gravado e masterizado por Pedro Ribeiro, Guilty Measures está disponível para audição integral no Bandcamp dos Unsafe Space Garden, podendo ser adquirido em formato digital.

FacebookTwitter