PAAR
Die Notwendigkeit der Notwendigkeit

| Abril 13, 2020 12:00 am

Die Notwendigkeit der NotwendigkeitGrzegorzki Records | março de 2020
9.0/10

O novo grito da cena underground da Alemanha – PAAR – iniciou carreira corria o ano de 2015, quando colocavam cá para fora o tema “She Brings The Rain”, o primeiro esforço colaborativo de estreia que começava a refinar uma aproximação fustigante aos cenários abandonados de cor, num reino de tessituras negras e desoladas. Ainda sem uma característica de unicidade precoce, a banda destilava uma base sonora à qual quatro anos mais tarde, em 2019, acrescentaria os elementos que agora inspiram esta estreia em Die Notwendigkeit der Notwendigkeit. Estávamos em abril de 2019 quando o trio formado por Ly Nguyen, Rico Sperl e Matthias Zimmermann colocava no posto de escuta HONE, EP de quatro faixas embalado em atmosferas sonhadoras, conduzidas por sintetizadores brilhantes e uma voz dinâmica absolutamente conquistadora. 

Conduzindo-nos calmamente às paisagens monocromáticas da minimal e coldwave modernas, a banda apresentava ainda assim um mundo ambíguo, ao ser fortemente influenciado por uma aura melancólica, mas de vivacidade brutal. Numa sonoridade a incorporar as vibrações do post-punk dos anos 80 em conjugação com uma maquete muito contemporânea, os PAAR criavam então o seu corpo musical composto por batidas minimais e sintetizadores almofadados, refinados entre um jogo de guitarras fugaz, linhas de baixo atraentes e uma voz altamente querida a amenizar qualquer brutalidade ecoada pela instrumentação circundante. HONE foi o EP que mostrou, sem margem de dúvidas, que os PAAR tinham algo a oferecer ao mundo, mas esse produto só se tornou evidente com este novo Die Notwendigkeit der Notwendigkeit


Não referindo apenas a produção geral do álbum – que se tornou estrondosamente obtusa -neste novo longa-duração prima essencialmente toda uma lírica que comunica mensagens profundas e existencialistas, mas também a capacidade condutora e progressiva que os PAAR têm para nos guiar entre mundos bruscos de incerteza, esperança e desilusão. O álbum, anunciado em fevereiro, viu a luz do crepúsculo a 20 de março tendo anteriormente sido promovido com “Rework”, a primeira extração do trabalho a apostar em força nos sintetizadores analógicos, camadas de ritmos poderosas e adocicadas por uma suave estética negra, numa onde de confronto com a obediência (“We just do what we’ve been told // and we can’t remember // who we were before“) e a solidão existencial (“I and I we are dust // I and I we catch fire // I and I we swim under the storm“). 



Através de uma força vigorosa – não tão denotada outrora – os PAAR começam por abrir a sua nova obra de arte com “Common Crimes”, uma malha catártica recheada por um desenho de guitarras absolutamente faustoso e uma progressão de ritmos deliciosa. No meio, uma voz que nos conduz a uma realidade muitas vezes não equacionada: “When We’re Awake // We’re dreaming of a life in red // wishing to push all the boundaries // wishing to overcome our fears // but in the end we just turn off the light“, mas sempre vivida. Numa metodologia de conforto existencial os PAAR voltam a surpreender com o tema que lhe dá sucessão “Beauty Needs Witness”. Inicialmente construído ao redor das ambiências noise e feedbacks de guitarra popularizados por nomes como My Bloody Valentine, os PAAR vão abrindo lugar para o seu mundo de decadência poética não só sentido na estrutura sonora, mas mais uma vez, nas palavras que nos declamam: “our eyes got weak // and our brain got thin // we won’t be there // to see success or sin“. Já a fechar o lado A do LP, em “Modern” os PAAR surpreendem com o trabalho vocal vastamente celestial que lhe dá fim. 

A necessidade da necessidade, afirmam eles no título que escolheram para nomear este primeiro esforço longa-duração. Escrito originalmente em alemão, a língua do país que acolhe a sua residência, os PAAR trazem inerte em Die Notwendigkeit der Notwendigkeit um mundo sonoro extremamente cativante e necessário nos dias que correm. Uma amálgama sonora altamente aditiva e pronta para nos fazer dançar. O lado B do LP abre com “Pure”, o único tema do LP a ser repescado do anterior HONE (2019) e que, aqui, se apresenta retrabalhado com uma gravação aprimorada e um trabalho vocal extremamente refinado. Torna-se então, óbvia a evolução dos PAAR como banda: mais seguros, mais poderosos e cada vez mais conquistadores. 



O registo progride com “Eis”, um dos temas mais energéticos do disco – fortemente influenciado pelas correntes da darkwave e post-punk contemporâneos – que ganha destaque essencialmente no trabalho entre guitarra e baixo construído desde o início, até alcançar o êxtase numa ambiência mais rock’n’roll, onde a guitarra passa a dominar todo um cenário apoteótico. Vigor para dar e vender. Por sua vez, “Lakes” aproxima-se das tendências já enraizadas no panorama por bandas como Second Still sem, contudo, perder o ar da sua graça. Para fechar o álbum de forma surpreendente, tal como o começaram, os PAAR escolheram “Metal” para a despedida. O tema, que abre numa estética meia industrial, rapidamente se transforma numa mescla de sintetizadores propulsivos, onde Ly Nguyen nos volta a cativar com os seus gritos motivadores: “Control”! Numa letra mais romântica que a presente nos temas antecessores (“I want you to be near me // to save me from the afterlife // I want you to defend me // It’s everything I needed from you // fear is the most I fear“) os PAAR mostram-nos um dos sentimentos que mais transgride o controlo humano: o medo. E tudo isto cantado e tocado sem nenhuma aversão ou temor. 

Os PAAR são sem dúvida uma das melhores descobertas da atualidade: uma banda de atmosferas escuras recheada de uma elasticidade sonora pegajosa, escura e violentamente bela. Em Die Notwendigkeit der Notwendigkeit o trio mostra uma maturidade bastante afincada numa produção estimulante e cheia de traços minimalistas e atmosferas de som complexas. As batidas simples e intrigantes que nos apresentaram no EP de estreia ganham neste LP toda uma harmonia contagiante e imersiva à qual integram sintetizadores elegantes exíguos, com texturas abrasivas oriundas das guitarras em angústia e de um baixo monocromático que destila emoções puras. No conjunto ganha também destaque a voz de Ly Nguyen cantada em texturas ora doces, ora imperativas, que resultam num disco amplamente acarinhado. Sem dúvida uma edição a marcar este estranho 2020.


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