Fotografia de Anaïs Thinon
“O que eu faço não é nada de original; escrevo canções, como sempre se fez”, conta serenamente Gabriel Pepe à Threshold Magazine, a propósito do seu EP de estreia Pela Terra a Navegar, disponível no Youtube desde dia 4. Em cinco faixas de folk, canta “a união da carne com o espírito”, almejando “realçar o lado espiritual do mundano e o lado mundano do espiritual”.
Cantor-compositor e multi-instrumentista, Gabriel Pepe é natural de Lisboa e teve já algum contacto com o mundo da música. “Costumava tocar em bandas como guitarrista solo e estava mais dentro do rock psicadélico e progressivo”, relembra, nomeando as bandas Odyssey, Os Argonautas e The Blue Drones, que integrava também como flautista.
“A certo ponto, comecei a compôr originais para The Blue Drones (escritos em inglês)” e assim nasceu o gosto pela composição. “Mas, para minha tristeza, a banda acabou”, refere. E o que surgiu depois foi “um Gabriel muito novo, cheio de ideias e criatividade mas sem um projeto para se poder expressar”, motivo pelo qual imerge agora num projeto a solo.
Embora a paixão pela música portuguesa fosse já de longa-data, “tinha uma simplicidade” com a qual não se identificava. O gatilho foi acionado assim que se deparou com Fausto, o seu “derradeiro vício da música portuguesa”, porém, “a verdadeira transformação” deu-se quando descobriu Tom Jobim.
“[Nesse momento] a minha mente expandiu de uma forma radical e, do nada, foi como se soubesse perfeitamente o que queria fazer”, explica o artista. Mas a verdade é que Gabriel Pepe nunca pensou “fazer este tipo de música” e “muito menos cantar”.
No baú das inspirações guarda também as vozes de Chico Buarque e Caetano Veloso, além de, entre várias outras, José Mário Branco, Zeca Afonso e Quinteto Tati. Recentemente, tem-se debruçado sobre o universo sónico de Manel Cruz mas, quando se fala de influências, uma coisa é certa. “Sem dúvida que as maiores influências que tenho são os meus amigos”, avança.
Menciona Vasco Ribeiro & Os Clandestinos, que há cerca de um ano lançaram Mais Um Dia, disco no qual participa com vocais e flauta, e ainda A Criatura, para quem fez coro junto com o Coro dos Anjos, além de Javisol, ainda sem estreia, e Orfélia. “[São] todos excelentes artistas, o que me faz sentir em muito boa companhia”, sublinha.
Sendo “uma pessoa que dá bastante importância tanto ao lado espiritual da vida quanto ao lado terreno”, quer conjugar na sua lírica ambos os mundos. Entre os acordes, Gabriel Pepe cultiva uma paisagem sonora na qual paira livremente entre o existencialismo e o onírico.
Com ilustração de Daniel Arthur, fotografia e design de Sara Baga e masterização de João Carvalho, o disco está disponível para compra desde dezembro. Agora, já podes navegar pela terra a partir do Youtube ou Bandcamp.