7 ao mês com Unsafe Space Garden
7 ao mês com Unsafe Space Garden
7 ao mês com Unsafe Space Garden
Os Unsafe Space Garden nasceram na Penha, a serra que acarinha a cidade de Guimarães, e cantam o musgo e o absurdo. Isto porque o caminho pelas Penhas do mundo faz-se sempre às gargalhadas: a arma neutralizadora de todos os males. Vozes, cores, teatralidade são os três eixos a partir de onde se ergue a música deste trio e o caminho que firmaram com três discos já editados (Bubble Burst, Guilty Measures e Bro, You Got Something In Your Eye). Foi já neste ano que lançaram o seu último trabalho, Bro, You Got Something In Your Eye, o terceiro disco de originais a sair com selo Discos de Platão. Foi esse o propósito deste convite para a edição do 7 ao mês, onde os Unsafe Space Garden falam um pouco sobre músicas/bandas que os inspiram ou que simplesmente não lhes saem do ouvido.
Bo Burnham – Inside
Está ainda quente mas arrebatou-nos um pouco a todos. Já éramos fãs do Bo Burnham há algum tempo mas este último trabalho (uma espécie de post-comedy, post-special, post-music, post-foda-se-meu que até pode ser lançado em disco) é virar tudo do avesso. De repente aquilo que há de mais automático e ensurdecedor na música pop é posto num contexto em que ganha rios de humanidade e honestidade. De repente vamos no carro a gritar “CEO, entrepreneur, born in 1984, Jeffrey, Jeffrey Bezos” e faz todo o sentido: estamos a rir e a chorar ao mesmo tempo ao nos debruçarmos sobre esta dissociação total do que é a realidade e acabamos por nos unir na absurdez que é o mundo atual. É isto e mais mil cenas. É ver/ouvir.
Alice Coltrane – Prema (on Marian McPartland’s Piano Jazz)
“…Prema which means Divine Love”. É assim que a Alice Coltrane começa por explicar à Marian o que vai tocar a seguir. A seguir ela toca essa música ao piano e uma pessoa percebe exatamente o que ela quis dizer. Se houvesse mais palavras para descrever a magnitude desta performance/tema punha-las-emos (hein?) aqui: mas não há. Qualquer estado em que estejamos, física ou mentalmente, esta música diz “com licença” e esclarece a desimportância do que quer que seja em pouco mais de cinco minutos. Sempre. Não há muitas mais que façam isto. Basta carregar no play.
Hilda T – Futurer
Todo o disco é um deleite, mas só pode ser encontrado no site dele, por isso estamos a pôr a única música que tem no Youtube. Não vamos dizer o nome do site porque estamos sem tinta para continuar a escrever. Talento incomensurável de alguém muito especial que volta e meia nos pinta os dias com as cores mais belas e místicas. “Futurer” é só um exemplo. Ide lá à procura.
Chris Weisman – Everybody’s Old
A forma de trabalhar do Chris Weisman é a receita perfeita para nunca ter sucesso. Faz discos (compulsivamente, desde janeiro de 2021 lançou 11 discos), mete-os no bandcamp e vai fazer mais um. No entanto, nós aqui de Guimarães descobrimos o gajo (depois do nosso Filips nos mostrar) por isso ele lá tem o seu sucesso na mesma. Everybody’s Old tem trinta temas, basicamente uma voz e uma guitarra acústica sempre, e são duma “giganteza” como não há igual. Quem quiser perceber de harmonia, escusa de dar 50.000$ por ano à Berklee, basta dar 15 paus ao Chris e aprendem tudo o que há para aprender (e ainda desfrutam!). Está presente várias vezes na nossa vida e é mesmo bom poder ouvi-lo.
Andy Shauf – The Party
Já perdemos a conta às vezes que ouvimos este disco. É daqueles que tem tudo sem exigir praticamente nada. Fica connosco, acompanha-nos, dá-nos a mão e contempla connosco. Estamos sempre a voltar a ele.
Black Sabbath – Changes
Volta e meia gritamos isto a pulmões cheios e de lágrima no canto do olho. Quem estiver a ouvir junta-se à festa sob aquele piano, aqueles strings e a frase mais transversal de todo o sempre: “I’M GOING THROUGH CHANGES”. Apreciamos quando uma canção une pessoas abordando aquilo que de mais humano existe. É preciso dar mais atenção a estas coisas em vez de andarmos aqui todos à batatada. Vamos lá: I’M GOING THROUGH CHANGESEHEEEHEEESSSS *cries in portuguese*
Etron Fou LeLoublan – Les Trois Fous Perdégagnent (Au Pays Des…)
O “Cagalhão Maluco, o Lobo Branco” (tradução de Etron Fou LeLoublan) volta a atacar nas nossas vidas depois de já termos amado o clássico Battelages. Não há nada assim em mais lado nenhum. Se houver, mandem email para unsafespacegarden@gmail.com. Parece maluqueira, mas é só fome de vida #fomedevida. Cruza declamação poética com soundscape com free-tudo, mete tudo na blender e adiciona-lhe umas pitadas de teatro, saxofones e guitarradas deslavadíssimas. Tudo cru, a pingar sangue e pronto a servir. Só tem dentes pra isto quem é feliz. Continuação de um bom domingo (mesmo que não seja).
Os Unsafe Space Garden são o filho de Nuno Duarte, apadrinhados por Alexandra Saldanha e Diogo Costa. Bro, You Got Something In Your Eye é o seu último trabalho e pode ser escutado nas várias plataformas digitais. Sigam-nos no Facebook, Instagram e/ou Bandcamp.