SKY H1 em entrevista: “Acho que, especialmente com este álbum, mudei para um som que é muito mais inspirado no Reino Unido”

SKY H1 em entrevista: “Acho que, especialmente com este álbum, mudei para um som que é muito mais inspirado no Reino Unido”

| Dezembro 22, 2021 7:00 pm

SKY H1 em entrevista: “Acho que, especialmente com este álbum, mudei para um som que é muito mais inspirado no Reino Unido”

| Dezembro 22, 2021 7:00 pm

O percurso de Sky H1 pode parecer, à primeira vista, discreto. Se tivermos em conta os números recolhidos a partir do Spotify, nenhuma das suas músicas atinge a marca das 500 mil audições (“Huit”, tema que integrou o alinhamento da compilação de culto mono no aware em 2017, é a sua faixa mais ouvida até à data, totalizando cerca de 300 mil audições). No entanto, o estatuto da elusiva produtora belga, que prefere não revelar o seu verdadeiro nome, é de grande adoração dentro dos círculos da eletrónica e da música de dança com um cunho mais experimental.

Bladee, bastião das tendências pop de recorte emocional e um dos fundadores do coletivo Drain Gang, incluiu um dos seus temas na popular playlist Hyperpop, que reúne alguns dos mais inovadores valores emergentes da pop moderna desde 2019, e a sua música — situada entre o grime flutuante de Logos, Mumdance e Visionist e o trance pontilhista de Toxe e Lorenzo Senni — tem vindo a conquistar a atenção de selos tão reputados como a AlterCreamcake ou Codes, subsidiária da PAN, de Bill Kouligas, que editou o seu segundo e aclamado EP, Motion, em 2016.

Azure, a estreia de SKY H1 em longa-duração, foi dado a conhecer ao mundo nos primeiros metros de dezembro — uma inconveniência para quem acompanha de perto as habituais listas de melhores de ano, já que não cumpre as metas necessárias para integrar grande parte destas, mas que não deve ser de modo algum desvalorizado.

É por esta razão que a desafiámos, através de uma conversa por e-mail, a aprofundar um pouco sobre os processos que levaram à concepção do seu primeiro álbum, um auto de esperança movido a emoções sintéticas e padrões subtis da mais futurista bass music.  

Quando se deu o teu primeiro encontro com o drum and bass. E o que te atraiu mais neste género em particular?

A primeira vez que ouvi drum and bass foi através de uma transmissão ao vivo de um festival na Holanda, e vi o Roni Size com o Leonie Laws e o DJ Die (Breakbeat Era). Naquela altura não soava a nada que eu já tivesse ouvido antes, era futurista e negro, mas ao mesmo tempo também acessível porque traziam de tudo nesta espécie de embalagem-pop. Eu comprei o álbum deles e escutei tanto que comecei a pesquisar mais sobre o género, e depois entrei num loophole do qual só acabei por sair seis anos depois. Durante algum tempo a minha vida só girava em torno disso, só ia a eventos de drum and bass, ia muito a fóruns online e era a única coisa que eu ouvia. Tudo isto aconteceu muito antes de eu começar a fazer música, mas acho que esse foi um momento tão decisivo na forma como eu ouvia música que moldou o meu próprio som, embora nem sempre seja a referência mais aparente.

Embora o Azure seja o teu primeiro LP — e o teu primeiro lançamento em quatro anos, à exceção de algumas faixas soltas —, tens vindo a colaborar bastante com artistas e galerias como a Supriya Lele e o Centre Pompidou, compondo para filmes e vídeos e a atuar em clubes e salas um pouco por todo o mundo. De que forma é que estas experiências informaram o processo por trás de teu novo álbum?

Trabalhar com várias pessoas e em circunstâncias diferentes retira-te sempre um pouco da tua zona de conforto, acho que a adaptação a tudo isso fez-me aprender muito. Algumas das faixas do álbum também começaram a ser escritas para filmes ou espetáculos ao vivo.

Podes-me falar um pouco sobre os teus processos de gravação?

Normalmente começo apenas com um som que me inspira — isto pode ser um sample, o som de um sintetizador, um loop que gravei antes, uma faixa que ouvi, o som de um filme ou de uma performance que vi, e começo a partir daí. Na maioria das vezes não sei que tipo de faixa estou a planear fazer, defino os BPMs aleatoriamente e vejo o que surge daí. A direção que a faixa vai seguir depende um pouco do meu humor naquele dia. Acho que é por isso que as minhas produções vão em todo o tipo de direções.

A maioria das faixas é feita em poucas horas, se eu trabalhar em algo por muito tempo fico entediada ou simplesmente perco o sentimento original. Às vezes volto a algumas coisas mais antigas que fiz e tento fazer algo diferente a partir delas.

O teu álbum aborda a solidão da vida na estrada. De que modo é que a música — e o ato de fazer música — ajudaram a combater a solidão que permeia esse estilo de vida?

Foi muito difícil lidar com a solidão durante as minhas viagens, encontrar-me em lugares com os quais não estava familiarizada e com pessoas que não conhecia durante longos períodos de tempo. Acho que subestimei o impacto que isso teve em mim durante muito tempo, e só me apercebi disso mais tarde, ao ver onde fiz as faixas que acabaram por ficar no álbum. Foram feitas em Bruxelas, um lugar onde me senti de alguma forma em paz e rodeada de rostos familiares, num estúdio que eu conheço. Ao voltares de uma viagem nunca te sentes realmente como tu próprio e leva sempre algum tempo para te sentires um pouco mais ambientada. Ser constantemente influenciada por outras pessoas às vezes também faz com que percas o controlo do que estás a fazer. Não acho que o meu álbum aborde necessariamente a solidão, mas acho que o facto de ter levado algum tempo para o construir vem da adaptação a esse estilo de vida.

A família parece desempenhar um papel importante no teu trabalho — o título do Azure é uma referência à tua mãe, a quem o álbum é dedicado, enquanto o Motion explorava a dor e o luto que atravessaste depois da morte do teu pai.

Não colocaria bem as coisas dessa maneira, mas mudanças como essas — membros da família a falecer, especialmente pais — são eventos traumatizantes. No meu caso, a música será sempre influenciada por esse tipo de eventos. É realmente um momento em que tu pensas profundamente sobre o que estás a fazer e as coisas começam a ter muito menos importância. Por uma coincidência horrível, esses dois eventos desencadearam um sentimento semelhante onde eu pensei, “porque é que estou hesitante em fazer algo?”, e isso deu-me muito mais confiança para lançar música.

O Azure assinala a tua estreia pela AD 93. Como é que se deu este encontro?

Sempre gostei muito da AD93 e da música que o Nic reúne na sua editora. Gosto também que a maioria dos artistas tem um perfil anónimo. É claramente pela música, mais do que qualquer outra coisa. Sinto que ultimamente, com a presença das redes sociais, isso é algo que é tão frequentemente deixado para segundo plano. Curiosamente, o Nic contactou-me no dia em que eu fiz a mistura de todas as faixas, então pareceu-me uma coincidência demasiado estranha para não aceitar. Acho que, especialmente com este álbum, mudei para um som que é muito mais inspirado no Reino Unido, então fez todo o sentido para mim trabalhar com uma editora sediada no Reino Unido que tem as mesmas raízes e inspirações. Desde então, conheci também algumas pessoas da editora e todos foram super amáveis e solidárias.

“Huit”, a tua faixa incluída na compilação mono no aware, ajudou a expandir a tua audiência — quatro anos após o seu lançamento continua a ser a tua música mais ouvida no Spotify. Que mudanças é que isto trouxe para ti?

Não tenho certeza, é difícil dizer que mudanças específicas é que isso trouxe para mim. Ampliou o público, com certeza. Muitos dos artistas incluídos nesse lançamento seguiram direções tão diferentes que a compilação trouxe claramente um público pouco familiarizado com toda a nossa música, mas não seria realmente capaz de apontar o dedo para algo em concreto.

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