7 ao mês com Maus Hábitos
7 ao mês com Maus Hábitos
7 ao mês com Maus Hábitos
Finda o mês de Abril onde, entre outras celebrações, se deu o 22º aniversário do Maus Hábitos, não precisamos de mais nenhuma prova de como tudo se transforma… mesmo aquilo que continua difícil de classificar mesmo após 22 voltas ao astro-rei.
Porque tod@s fomos ou vamos ao Maus por diferentes razões… seja para curtir um concerto, beber um copo, mergulhar na disruptividade das exposições e performances da Saco Azul Associação Cultural, dar uma dentada na pizza massa fina… sabemos lá.
À falta de maneiras de expressar “in vitro” o que se passa e foi passando naquele 4ª andar da Rua Passos Manuel ao longo destas duas décadas, convidámos o fundador e líder espiritual Daniel Pires e o programador Luís Salgado para a ingrata missão de destacarem sete momentos marcantes ao longo desta escadaria toda.
A Sala
Entre 2006 e 2010, “A Sala” foi uma das obras curatoriais mais punchy e desconfortáveis que passaram pelo Maus Hábitos. Com a assinatura de Susana Chiocca e António Lago, fizeram uma rubrica mensal onde tod@s éramos convidados a visitar o seu próprio apartamento num ciclo de performances que, não deixando ninguém indiferente, o conteúdo faz parte de um (óptimo) passado cujas características aqui não podemos revelar.
Trabalha-Dores do Cu
Uma exposição colectiva realizada entre Agosto e Setembro de 2015, com a curadoria de Tales Frey e Paulo Aureliano da Mata e com um propósito que (infelizmente) se mantém actual.
A precariedade d@s trabalhadores/as da Cultura e a normatividade dominante provocam brechas e desigualdades que só a arte, a paixão e a resiliência conseguem contornar com muito esforço… mas não sendo (de todo) uma questão de “não-esforço”, preferimos relembrar aqui o manifesto que levaremos connosco até ao caixão:
“São trabalhadores do CU aquelas/aqueles CUjos trabalhos expressam as dores mais densas/intensas/profundas de seus CUs.
São as/os que abrem passagem para mandarem à merda todo um regime normalizado(r) que impõe princípios amparados por um privilegiado sistema heterocentrado.
Para trabalharmos o nosso CU, precisamos ter CUlhão, precisamos ter bravura para emitirmos com força o nosso disCUrso contra o asqueroso binarismo instituído e reafirmado diariamente na nossa CUltura tão CUrta, tão excludente.
É preciso sermos radicais nas nossas posturas artísticas/políticas para que possamos CUlminar nossa produção em uma verdadeira TRANSformação que não propague ódio ao que não se enquadra num contorno tão limitado.
Que saia pela CUlatra o tiro vindo de uma massa intolerante! Que o respeito substitua os CUspes! Que a intransigência faça CUrva e se CUrve diante de um aCÚmulo de amor.
CUbramos o CUbo branco com nossos disCUrsos que CUlminam em CUs sem CUlpa, em CUs livres!
Que o disCUrso do CU (parte do corpo que não revela sexo e muito menos gênero) seja a CUra para um verdadeiro avanço na nossa CUltura…
DisCUrsemos… CUste o que CUstar!”
Expedição
Um vasto projecto de programação artística que, entre 2013 e 2015, tomou o edifício de assalto nos seus vários vértices sem pretender limitar arestas.
Desde conversas a performances, passando pela música e instalação, a ocupação do espaço numa agenda transversal com mais de 20 eventos foi, talvez, das viagens mais desafiantes desta longa expedição do Maus Hábitos e da Saco Azul Associação Cultural e que contou com a uma vasta direcção artística composta por Carmo Osul, Horácio Frutuoso, Hugo Soares, Jérémy Pajeanc e Maria Trabulo e com a imagem gráfica do projeto foi da autoria de André Covas.
Melt Banana
Possivelmente o concerto mais pesado que por lá passou, os japoneses Melt Banana estrearam-se em Portugal num threesome entre o Maus Hábitos, a Lovers & Lollypops e a Amplificasom, num concerto que, para quem não se lembrar por esta rubrica, por certo manterá a recordação auditiva nos tímpanos.
Super Bock Super Nova
Com o propósito de 1) dar o maior palco possível às nossas bandas emergentes e 2) fazer desses palcos um epicentro não exclusivo ao eixo Porto-Lisboa, a Super Bock Super Nova é um dos projectos com mais carimbo no ADN do Maus Hábitos. Com início em 2017 enquanto uma noite isolada no 4º andar, rapidamente evoluiu para um ciclo itinerante que ligou uma rede de salas de espectáculos que põe o underground a mexer de Norte a Sul e, mais importante que isso, a falar entre si.
Depois de várias rodadas, bandas, salas e cidades, a boa notícia é que o barril continua a bombar em 2023 com ainda mais sede de fazer tocar.
Vivarium Festival
Com início em 2018 e projectado desde as cabeças de Marionne Baillot e Daniel Pires, eis um festival que desde a génese pretende questionar, expôr e debater as relações entre o orgânico e o digital dentro do contexto da producção artística.
Logo na 1ª edição, destaque para a estreia nacional de Marco Donnaruma, numa prova de ambição que veio desde o berço, foi temporariamente interrompida no recreio da pandemia, mas que em 2022 regressou como gente grande com uma tal de Lucrecia Dalt a figurar em mais um cartaz vibrante.
Salgado Faz Anos Fest
E como não poderia deixar de ser… a festa de anos mais famosa do nosso underground.
Num desafio em jeito de bullying, nasceu um aniversário que rapidamente se tornou um festival e numa data a marcar na agenda naquele sempre difícil mês de Janeiro. Já lá vão 11 anos de enchentes, de filas intermináveis, de mensagens a pedir guest ao Salgado e de bandas… tantas bandas que por aqui passaram e continuam a passar que este deve ser, sem dúvida, um dos mais fiéis espelhos do talento musical que paira neste país.
Um festival que é um grande monumento, embora menos imponente do que esta foto.