Cinco anos após o seu álbum de estreia Weighting of the Heart, Nabihah Iqbal revelou a sua segunda obra, Dreamer, um testemunho sublime da sua evolução artística.
Refletindo sobre o seu trabalho prévio, torna-se evidente que a exploração profunda dos santuários da mente sempre fez parte da receita para a sua música. Dreamer não deixou de prestar homenagem às suas raízes, mas eleva-se autonomamente como um projeto mais introspetivo, maduro e repleto de personalidade.
Inicialmente reconhecida pelo seu trabalho como DJ, Iqbal surpreendeu os seus ouvintes com toques de guitarra acústica e poemas embebidos em deep house. Perante esta quebra de paradigma, a reação normal é questionar o que poderá ter acontecido. Bem… a vida fez das suas, um assalto privou-a do seu equipamento de estúdio e uma emergência familiar manteve-a presa no Paquistão por vários meses, tudo isto com o início da pandemia ao virar da esquina. Assim, feita refém doméstica, Nabihah viu-se forçada a traduzir o seu coração pesado e a crescer os seus sons de forma mais orgânica. O resultado é um álbum hipnotizante, tecido com fios de melancolia tingidos de sussurros ardentes de esperança. No centro desta atmosfera está a sua escrita assombrosa, organizada sob a forma de poemas sóbrios e confissões de vulnerabilidade que enfeitam as faixas de Dreamer.
Não obstante, músicas como “Gentle Heart” e “This World Couldn’t See Us” continuam a acenar à sua estética original de discoteca. No entanto, à medida que o álbum desenrola, vêm ao de cima com crescente clareza as vozes melancólicas que acompanham os passos de dança.
Em última análise, Dreamer destaca-se como um dos muitos artefactos do seu tempo, sendo mais um projeto que ganhou vida durante o confinamento. À semelhança de grande parte dos outros bebés da pandemia musicais, este álbum baloiça interminavelmente entre um sonho doce e um pesadelo. Surge uma questão: será esta característica uma escolha artística, ou um dos sintomas da Covid-19 que não foram oficialmente reconhecidos? Seja como for, creio que falo por todos quando digo que não desejo regressar ao confinamento, mas que definitivamente regressarei a Dreamer. Texto redigido por Tomás Peixoto