Wave Gotik Treffen 2024: antevisão da 31ª edição
Wave Gotik Treffen 2024: antevisão da 31ª edição
Wave Gotik Treffen 2024: antevisão da 31ª edição
O ritual repete-se. Quando faltam apenas algumas semanas para maio, começam o nervosismo e a ansiedade por saber que faltam poucos dias para regressar à maravilhosa cidade de Leipzig e ao Wave Gotik Treffen. Depois de no ano passado termos feito a nossa estreia no maior festival gótico, que se realiza anualmente em todo o mundo, este ano não resistimos a repetir a dose. A experiência do ano transato foi de tal forma impactante que, perante a possibilidade de voltarmos a Leipzig, não houve hesitação possível.
Pela 31ª vez, Leipzig acolhe o fantástico festival gótico que já se tornou parte da cidade. Se no início, ainda nos anos 90, numa parte da Alemanha saída há pouco de um regime autoritário sob influência soviética, a população de Leipzig via com desconfiança largas centenas de góticos invadirem a cidade, com o tempo os residentes perceberam que todas aquelas pessoas que anualmente ali se deslocavam eram, afinal, boa gente e que a cidade só tinha a ganhar em acolher de braços abertos os muitos góticos que, de ano para ano, iam engrossando o número de visitantes do festival.
O WGT começou em 1992 fruto da ideia de dois góticos de Leipzig que, segundo se conta, após terem assistido a um concerto de The Cure na sua cidade, em 1989, e terem tido a oportunidade de contactar com milhares de góticos de outros países, especialmente da irmã ocidental que era a RFA, decidiram que seria interessante poder ter um evento dedicado à subcultura gótica na sua cidade. E tinham razão! Leipzig era a cidade ideal para um evento deste tipo. É uma cidade lindíssima, uma Paris do Leste, poderia dizer-se, com edifícios históricos de estilo renascentista, barroco e de art nouveau que convivem com alguns (muitos) feios prédios, herança de mais de meio século de influência soviética nesta parte da Alemanha. O contraste entre estes estilos, contudo, confere um charme especial à cidade e, por isso, torna este espaço o lugar ideal para um festival deste tipo. Mas não é só pela arquitetura da cidade. Também as marcas que a história lhe foi deixando ao longo do tempo oferecem monumentos e lugares de uma ambiência gótica inexcedível. Um desses lugares é, sem dúvida, o deslumbrante Südfriedhof, um gigantesco cemitério que ocupa 82 hectares e que é de uma beleza absolutamente intraduzível. Durante a semana do festival, poderão, certamente, encontrar centenas de góticos que aproveitam os dias do WGT para encenar fotografias, passear ou simplesmente conhecer este maravilhoso espaço. Só este cemitério merecia um ou dois dias para ser convenientemente explorado. Bem perto do Südfriedhof fica outro dos lugares emblemáticos da cidade. Falamos do famosíssimo Völkerschlachtdenkmal, o monumento da chacina do povo, erigido em 1913 para comemorar os cem anos da batalha das nações onde pereceram cerca de 100.000 soldados de várias nações. Este é o maior memorial da Europa com 92 metros de altura e que se avista a quilómetros de distância. O seu tamanho impressiona e o inteligente espelho de água, que foi construído à sua frente, constitui um cenário muito interessante para fotografias.
Mas voltemos ao festival. A primeira coisa que o visitante tem de saber é que o WGT é um festival que também é de música, mas que vai muito para além disso. Para se ter uma ideia da dimensão deste festival, na edição do ano passado o WGT ofereceu aos seus visitantes quase 600 eventos em apenas quatro dias. Claro está que, com as suas mais de 200 bandas, a música ocupa o lugar principal, mas há que contar também com outras atividades igualmente interessantes que o visitante pode aproveitar durante o evento. Destacamos aqui algumas: o piquenique vitoriano no Clara-Zetkin Park, por exemplo, é das mais interessantes atividades que ocorrem durante o festival. Realiza-se sempre na sexta-feira, primeiro dia oficial do festival, durante toda a tarde. Inicialmente acontecia um pouco à margem do programa oficial, mas hoje já faz parte do WGT. Haverá a possibilidade de ver milhares de pessoas em trajes indescritíveis, mas todos espetaculares, que durante várias horas se disponibilizam para ser fotografadas pelos muitos curiosos que ali se deslocam de propósito para assistirem ao espetáculo. A não perder!
O dia seguinte, sábado, é um dia que habitualmente está repleto de atividades interessantes. Os mais desportistas poderão participar numaa corrida gótica, uma prova de atletismo com góticos que, naturalmente todos equipados de preto, correrão pela cidade de Leipzig. A competição aqui interessa pouco, o que sobressai é o convívio. Para os menos propensos a corridas, poderão optar por tranquilamente ir até à principal praça da cidade, a Augustusplatz, e assistir ao desfile de carros funerários, que sai deste lugar em direção ao cemitério sul. Macabro? Talvez. Mas uma experiência única e que só aqui faz sentido. E se gostaram do piquenique vitoriano da véspera, porque não ir à tarde a outro, desta vez dedicado à cultura steampunk? Realiza-se num parque mais pequeno, mas convoca igualmente largas centenas de visitantes.
De destacar ainda que, além destas atividades, os visitantes poderão ainda, durante o festival, visitar museus, galerias, teatros ou a ópera, pois todos estes espaços acolhem igualmente eventos relacionados com o festival. Existem ainda durante todos os dias do festival as palestras inseridas nas Gothic Identity Lectures. Aqui poderão assistir a interessantes apresentações de temas relacionados com a cultura gótica feitas por estudiosos e académicos que se dedicam a estes temas. O espaço que albergava estas palestras era, até ao ano passado, a bolsa velha de Leipzig, um edifício absolutamente deslumbrante, mas pequeno para tantos interessados. Este ano, as Gothic Lectures acontecerão num espaço maior, mas que ainda não se sabe qual vai ser. Mantenham-se atentos à atualização da programação.
No que diz respeito aos concertos, haverá dezenas de espaços distribuídos pela cidade que irão acolher as mais de duas centenas de grupos que o festival vai disponibilizar aos festivaleiros. É claro que será impossível assistir a todos os concertos, até porque muitos acontecem simultaneamente. Aqui a dificuldade vai ser fazer opções. Mas não há outra forma. É tentar organizar as coisas de maneira a ver o máximo possível e traçar rotas de proximidade. Para os visitantes se deslocarem de um sítio para o outro existe a muito robusta e eficiente linha de transportes públicos de Leipzig, especialmente o TRAM, e que permite rapidamente aos visitantes chegar de um ponto a outro da cidade. E o transporte é gratuito para quem tiver a pulseira do festival durante os dias do WGT.
Por norma os concertos terminam relativamente cedo. Mas para aqueles que são mais dados a aproveitar a noite até mais tarde haverá muitas opções. Uma delas é uma ida à emblemática discoteca Darkflower, espaço de culto da subcultura gótica não só em Leipzig como em toda a Alemanha. Depois de um pequeno susto provocado pelo seu encerramento em finais do ano passado, por dificuldades do anterior dono em resistir à inflação das rendas decorrentes da gentrificação dos espaços centrais urbanos, uma nova gerência não permitiu que este ícone da noite gótica de Leipzig morresse e ressuscitou-o de imediato, reabrindo-o pouco tempo após o seu encerramento. Também convém dar um salto até ao Moritzbastei, conjunto edificado que é o último vestígio da fortaleza de Leipzig, e que acolhe também nas suas catacumbas sessões de DJ sets após os concertos. Vale a pena visitar este espaço.
É um facto que o WGT se espraia por toda a cidade de Leipzig, mas o seu centro nevrálgico continua a ser o Agra, o centro de exposições comerciais e industriais da cidade. É aí que os muitos visitantes trocam o bilhete pelas pulseiras mágicas que lhes darão acesso aos muitos eventos do festival. É também aí que se realizam os maiores concertos, por norma com as bandas que chamam mais nomes, pois o pavilhão que acolhe os concertos comporta cerca de 6000 pessoas. E é igualmente neste local que os festivaleiros poderão visitar aquele que é considerado o maior mercado comercial da cultura gótica no mundo, um enorme pavilhão contíguo ao dos concertos e onde encontrarão largas dezenas de lojas de roupa, calçado, joias, acessórios, música, livros e arte gótica. Uma verdadeira loucura que exige uma carteira bem recheada ou um cartão de crédito bem robusto para aguentar tanta atividade.
Leipzig é uma cidade com uma boa capacidade hoteleira. Infelizmente, de há vários anos para cá o WGT tem-se afigurado como uma excelente oportunidade de negócio para a cidade e os preços inflacionam bastante durante o evento, especialmente no que o alojamento diz respeito. Afinal, sempre são 20000 visitantes que anualmente se deslocam até esta cidade para o festival, e isto considerando apenas os pagantes, pois muitos outros fazem-no apenas para viver o ambiente. O ideal é marcar alojamento com bastante antecedência, pois em cima do evento poderá ser difícil encontrar alguma coisa disponível. E preparem-se para gastar dinheiro: os preços de um ano para o outro têm tendência para aumentar, e muito. Este ano é uma boa prova disso. Perto do centro, o sítio ideal para poder circular rápida e facilmente entre os concertos, os preços dos hotéis e pensões estão proibitivos. Mas existe sempre a alternativa, mais barata, de acampar junto ao Agra, num enorme terreno que serve de parque de campismo. Fica mais barato, mas não é tão cómodo.
Também perto do Agra fica outro dos espaços emblemáticos do festival: a vila pagã. Trata-se de um terreno bastante arborizado que é transformado em vila medieval durante os dias do festival. Lá dentro poderão encontrar várias tendas que nos farão regressar vários séculos na história. Não estranhem se virem um concurso de archeiros, um falcoeiro a passear as suas aves pelo recinto ou um ferreiro a forjar uma espada no lume. Tudo isto, e muito mais, pode ser encontrado neste espaço. E, claro, concertos. Na vila pagã esperem encontrar bandas mais pesadas, de medieval, folk ou que misturem todos estes géneros. Para sons mais Pós-Punk, Darkwave e afins terão de procurar outros espaços, como o Stadtbad ou o Volkspalast, por exemplo. Mas também haverá EBM, Electro-Pop, Goth Metal e por aí adiante. É só consultar o programa e fazer as escolhas.
A terminar, uma nota relativamente à presença portuguesa no festival. Tem sido hábito a programação do WGT contar com presença de artistas nacionais na sua oferta. No ano passado não houve qualquer banda de portugueses a atuar, mas tivemos um DJ a animar uma das noites no Täubchenthal, um dos sítios mais bonitos do festival. E para este ano um passarinho já nos contou que haverá, pelo menos, um nosso conterrâneo a atuar como DJ no mesmo espaço e também este humilde escriva assegurará uma das palestras das Gothic Lectures. A participação nacional está, portanto, assegurada este ano. E é possível que, nos muitos nomes de bandas que ainda falta anunciar até ao evento, surja ainda alguma banda portuguesa. Vamos ver.
Restam poucas semanas até que a magia aconteça novamente em Leipzig. Pode ser que nos encontremos lá e possamos conversar um pouco e beber uma cerveja. Para quem não puder ir, haverá sempre a possibilidade de ler a reportagem que farei posteriormente aqui do WGT.
Para vos aguçar o apetite, fica a lista das 154 bandas que, à data de hoje (meados de abril) estão já confirmadas. Mas podem esperar pelo menos mais meia centena de novas confirmações até maio. Vão vendo as atualizações no site oficial do WGT.
Até maio, vemo-nos em Leipzig!
Bandas confirmadas para o WGT 2024:
12 Illusions (D) – A Projection (S) – Abu Nein (S) – Agent Side Grinder (S) – Agnis (PL) – Agonoize (D) – Almara (D) – Amduscia (MEX) – Andi Sex Gang (GB) solo – Angels & Agony (NL) – Anneke Van Giersbergen (NL) Heavy Strings – Årabrot (N) – Artwork/Belladonna (D) – Ashbury Heights (S) – Aska (IS) – Ausgang (GB) – Automelodi (CDN) – Backworld (USA) – Banane Metalik (F) – Barnacle Boi (USA) – Basscalate (D) – Batboner (N) – Blackbook (CH) – Blitzkid (USA) – Bloodsucking Zombies From Outer Space (A) – Bon Harris (GB) “Songs from the lemon tree” – Brigade Enzephalon (D) – Brothel (USA) – Camerata Mediolanense (I) – CASHFORGOLD (USA) – Chain Of Flowers (GB) – Christian Death (USA) – Circuit Preacher (USA) exclusive european premiere – Clock DVA (GB) – Clout Blued (D) – Cumulo Nimbus (D) – Dalriada (H) – Dancing Plague (USA) – David Leubner (D) – Dead Astronauts (USA) european premiere – Death Loves Veronica (USA) Europapremiere – Deloraine (CZ) – Derniere Volonte (F) – Deus Vult (D) – Die Habenichtse (D) – Die Kammer (A/D) – Diva Destruction (USA) exclusive european show after 20 years – Dive (B) – Dorsetshire (D) Farewell-Show – Echoberyl (F) – Eihwar (F) – Elbland Philharmonie Sachsen (D) – Emmon (S) – Enemy Inside (D) – Ensemble Nobiles (D) – Esplendor Geometrico (E) – Extize (D/F) – Fixmer & McCarthy (F/GB) – Flawless Issues (D) – Frozen Plasma (D) – Gast (D) – Gossenpoeten (D) – Gothminister (N) – Gvllow (USA) european premiere – Haunt Me (USA) european premiere – Heppner (D) – Hope (D) – In Strict Confidence (D) – Irdorath (BY) – Karin Park (N) – Keep Of Kalessin (N) – Kellermensch (DK) – Klez.e (D) – Klutae (DK) – Knight$ (GB) – Kollaps (AUS) – Kontravoid (CDN) – Ladytron (GB) exclusive show in Germany in 2024 – Lament (D) – Lili Refrain (I) – Lisieux (F) – Maerzfeld (D) – Martial Canterel (USA) – Martin Dupont (F) – Maschinenkrieger KR 52 (D) – Massiv In Mensch (D) – Megaherz (D) – Mia Morgan (D) – Mila Mar (D) – Miranda Sex Garden (GB) – Model Collapse (D) Livepremiere – MorphiuM (E) – Mr. Irish Bastard (D) – Neila Invo (I) – Nemuer (CZ) – Night Club (USA) – Nils Keppel (D) – Nitzer Ebb(GB) – Nürnberg (BY) – Omnimar (RUS) – Opernensemble der Landesbühnen Sachsen (D) – Orphx (CDN) – Ostara (AUS) – Other Day (D) – Plantec (F) – Plastikstrom (D) – Playfellow (D) – Position Parallele (F) – Primordial (IRL) – Principe Valiente (S) – Psyclon Nine (USA) – Public Memory (USA) – Reaper (D) exclusive band-reunionshow – Rendez-Vous (F) – Rosa Anschütz (D) – Rose Of Avalanche (GB) – Rroyce (D) – Safi (D) – Saint City Orchestra (CH) – Schattenmann (D) – Schwarzer Engel (D) – SDH (Semoitics Department of Heteronyms) (E) – Sex Gang Children (GB) – Sextile (USA) – She Hates Emotions (D) – Sidewalks and Skeletons (GB) – Sierra (F) – Sirenia (N) – Skeler (AUS) – Social Station (USA) – Soviet Soviet (I) – Sowulo (NL) – Spiritual Front (I) – Statiqbloom (USA) – Stoneman (CH) – Strikkland (S) – Suono (D) – Tanzwut (D) – Terence Fixmer (F) – The Beauty Of Gemina (CH) – The Bellwether Syndicate (USA) – The Cassandra Complex (GB) – The Cemetary Girlz (F) – The Feelgod McClouds (D) – The Foreign Resort (DK) – The Secret French Postcards (S) Livepremiere – Theatre Of Hate (GB) – This Morn Omina (B) – Tiamat (S) Clouds & Wildhoney-Set – Topographies (USA) – Tourdeforce (I) – Tragic Black (USA) – Traumatin (D) – Twin Noir (D) – Twins In Fear (UA/CH) – Two Witches (FIN) – Umbra Et Imago (D) – Vanaheim (NL) – Vanguard (S) – Veljanov (D) – Vera Lux (D) – Vive La Fete (B) – Walt Disco (GB) – X-RX (D) – Xeno & Oaklander (USA) – Years Of Denial (F) – Zombeast (USA) reunionshow/european premiere – Zombiesuckers (S) – Zweite Jugend (D)
Texto: Manuel Soares
Fotografia: Miguel Silva