O álbum de estreia de a.s.o. é mais bem descrito como uma viagem repleta de nostalgia pelas sombras do legado do trip-hop. Embora a dupla não faça muito para se distinguir dentro do género, isso não significa que não haja aqui nada para apreciar – e eles sabem isso. Essa confiança transparece em cada faixa, e somos presenteados com um álbum de trip-hop sereno e cheio de personalidade que não tenta desesperadamente imitar os seus precedentes, apenas soa como eles querem.
Desde a faixa de abertura “Go On”, os a.s.o. dão o mote com teclas suaves. O produtor Lewie Day, também conhecido como Tornado Wallace, mantém o ritmo lento e envolto numa névoa de fumo. É como se estivesse a convidar-nos a aproximarmo-nos, sussurrando segredos que só podemos ouvir nos momentos mais calmos do álbum. Esta atmosfera é complementada com o ocasional aparecimento de “guitarras à filme de espionagem” e sintetizadores ácidos, que acrescentam uma camada de film-noir à já existente aura de mistério e suspense. No coração do som dos a.s.o. está a vocalista Alia Seror-O’Neill, cuja voz combina perfeitamente com a natureza do álbum. Ela é inquestionavelmente a alma deste projeto, acrescentando profundidade e emoção a faixas como “Rain Down” e “Love in the Darkness”, onde dança habilmente por temas de amor e saudade. Alia também demonstra ser uma contadora de histórias cativante, alternando sem esforço entre tons sonhadores e toques de introspeção melancólica.
O que realmente distingue os a.s.o. é a sua capacidade de misturar géneros musicais. Não deixando de prestar homenagem aos pioneiros do trip-hop, acrescentam uma pitada de pop eletrónico e de sons cinematográficos. É como se tivessem pegado numa paleta de sons e cores e as tivessem conjugado numa pintura que consegue ser ao mesmo tempo familiar e refrescantemente nova. Apesar de alguns momentos poderem estar à beira do pastiche, a autoconsciência e a atenção ao detalhe da dupla elevam a sua música para além da mera imitação, resultando numa mistela auditiva elegante.
Este álbum não é apenas um aceno ao passado; é um passo ousado em direção ao futuro do trip-hop. Tem estilo, é cativante e, acima de tudo, é exclusivamente deles. E num mundo cheio de imitações, isso é algo verdadeiramente importante.
Texto redigido por Tomás Peixoto