Chuquimamani-Condori apresenta DJ E no B.Leza, em Lisboa, em junho

| Maio 30, 2024 2:10 pm

Elysia Crampton regressa a Portugal para um concerto no B.Leza, em Lisboa, a 20 de junho. O espetáculo da norte-americana, que hoje se apresenta sob o nome nativo Chuquimamani-Condori, tem como pretexto DJ E, o mais recente álbum da artista de ascendência aimara sob essa designação.

Editado nos metros finais de 2023, DJ E chegou dez anos após The Light That You Gave Me to See You, a  estreia de Elysia Crampton, que então respondia pelo nome E+E, em longa-duração. Desde então, a artista sediada Woodland, na Califórnia, editou uma mão cheia de obras enquanto Elysia Crampton, cruzando na sua música os ritmos da diáspora andina com a memória do legado colonialista espanhol, através da poesia e da utilização de samples de diversas paragens.

Quirquincho Medicine, editado em 2019, depois de uma estadia na Bolívia para cuidar de sua avó, assinalou a estreia da artista enquanto Chuquimamani-Condori, nome com que assina também a edição do mais recente DJ E, apontado por várias publicações como um dos melhores lançamentos de 2023.

Em fevereiro deste ano, Filipe Costa debruçou-se sobre a música “excessiva” e “impossível de classificar” que compõe esse mesmo disco, numa crítica que pode ser lida desde já em baixo:

“Elysia Chuquimia Crampton, que hoje se apresenta sob o nome nativo Chuquimamani-Condori, é uma artista, compositora e poeta ameríndia de ascendência aimara. As suas obras são verdadeiras investigações, um laboratório de pesquisa sobre as profundas feridas por cicatrizar do legado colonialista espanhol e dos crimes que ainda assaltam a memória sul-americana. A crítica da soberania e a abolição carcerária, a tradição andina e a história e resistência de pessoas trans são algumas das causas que a artista e ativista sediada no sul da Califórnia tem vindo a abordar ao longo da última década, explorando a relação entre o moderno e o tradicional a partir de um reencontro com o que é primordial (história, memória, identidade).

No seu mais recente álbum, DJ E, descrito pela própria como o som de “40 bandas a tocar” ao “mesmo tempo”, a autora de American Drift volta a evocar os sons da diáspora andina como o huayno, a cumbia e o caporal, reconfigurando-os em camadas hiper-saturadas de fragmentos e outros detritos digitais de fidelidade reduzida, batidas quebradas e espectros de vozes processados até à medula. Há aqui guitarras monolíticas (cortesia do irmão Joshua Chuquimia Crampton), linhas de piano desafinadas, acordeões vibrantes e samples de paragens diversas a embater uns nos outros, tudo filtrado por um CDJ, um sampler e alguns teclados adicionais.

Tal como todos os seus lançamentos, é mais uma declaração de independência, um apelo à libertação que desafia códigos binários de sexo e género, pátria e apátrida, (re)construção em oposição à desconstrução. Orgulhosamente cru, primitivo e não masterizado, DJ E representa o farol de uma artista em dilatação, corporizado no ideal combativo de uma figura em contracorrente com a homogeneidade branca, heteronormativa e socialmente padronizada. É música que só poderia existir neste efervescente presente: excessiva, libertária, impossível de classificar. A única lógica é a ausência dela.”

Os bilhetes para o concerto em Lisboa, que irá contar com os portugueses Tomé, Herlander e Diana XL na primeira parte, já se encontram à venda em shotgun.live, pelo custo de 15 euros.

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