Sophia Chablau e uma Enorme Perda de Tempo + Marquise: entre Portugal e Brasil, falou-se a linguagem do rock nesta bonita e suada matiné

Sophia Chablau e uma Enorme Perda de Tempo + Marquise: entre Portugal e Brasil, falou-se a linguagem do rock nesta bonita e suada matiné

| Junho 13, 2024 8:00 am

Sophia Chablau e uma Enorme Perda de Tempo + Marquise: entre Portugal e Brasil, falou-se a linguagem do rock nesta bonita e suada matiné

| Junho 13, 2024 8:00 am

No que acreditamos ter sido uma mistura do hype dos Marquise com a elevada comunidade brasileira que cá vive, a verdade é que a matiné que uniu Sophia Chablau e a sua banda aos Marquise esgotou antecipadamente, com algumas pessoas a não conseguirem entrar na cave da Socorro quando chegaram ao local. E se os fatores acima mencionados explicam o cenário, não deixa de ser um feito impressionante tendo em conta que se tratava de uma quarta-feira e que o Primavera Sound estava aí à porta.

Mas os fenómenos são mesmo assim, e foi logo com um chamado Marquise que a sessão se iniciou. A banda do Porto é, como já tínhamos aludido, um extraordinário caso de popularidade capaz de encher salas desde que surgiu no panorama nacional, e naquela que foi a segunda passagem pela Socorro este ano (a primeira aconteceu em janeiro), assinaram a melhor e mais coesa prestação que já vimos deles. Cada vez mais seguros e portentosos, o quarteto destilou a sua dose de rock 90s alternativo, ora a evocar os Ornatos Violeta por alturas do álbum Cão!, ora a espalhar um cheirinho grunge à Nirvana, mas sempre “temperado” com a voz feminina de Mafalda Rodrigues. O resultado é uma sonoridade que tanto “sopra” sedução delicada como rebeldia jovial, existindo entre o rasgo punk e a doçura pop, entre a piscadela ao passado (chegaram mesmo a recordar o legado dos Rage Against the Machine com um trecho da “Bulls On Parade”) e a vontade de olhar para o futuro… Porque para eles o caminho passa mesmo por aí, risonho que o amanhã se apresenta. Numa prestação inspirada que espelhou vitalidade, os Marquise deixaram-nos profundamente orgulhosos, porque acompanhar estes miúdos (literalmente, já que eles são bastante novos) desde o início é ver uma banda crescer até nos presentear com uma prestação fantástica e revigorante – para nós, uma das melhores que alguma vez passou por esta sala.

Claro que se pode afirmar que o som que praticam não é necessariamente original – e alguns até o consideram demasiado “ básico” – , mas o encanto não está na inovação, antes na força e frescura dessa adaptação familiar, na capacidade de criar malhas espantosamente contagiantes (a sério, vão lá escutar o álbum de estreia e absorvam aquela energia inconformada) com uma transparência admirável e uma simplicidade irresistível. Uma banda que é uma fonte de luz e que merece mesmo o nosso amor… Esta é a era dos Marquise, sintamos a sua magia.

Sophia Chablau

Seguiu-se a atuação de Sophia Chablau E uma Enorme Perda de Tempo, oriundos de São Paulo e aqui num registo um pouco diferente mas ainda assim suficientemente próximo do anterior – igualmente indie, mas agora com feeling tropical e uma atitude despojada que ocasionalmente remetia para o universo de uma Snail Mail, mas que depois se enchia de influências do país que os viu nascer – especialmente vibes d’Os Mutantes, Ana Frango Elétrico (com quem quem costumam, aliás, trabalhar em estúdio) ou mesmo Boogarins em determinados momentos. Alternando de forma coesa entre o “chill” sereno e a “loucura” metodicamente descontrolada de intensidade punkish (com ritmos quentes e soalheiros pelo meio, claro está), o grupo ofereceu uma requintada sessão de indie com sabor a Brasil – real para metade da audiência e evocativa para outra -, mas que a todos de alguma forma transportou para lá. Beneficiando da intimidade de uma sala esgotada até ao limite, conseguiram servir-se do calor desse ambiente para elevar a própria atuação e transformá-la numa troca de energia incrivelmente vibrante. O resultado foi um concerto que tanto soube ser uma curtição relaxada como uma festarola no final, com o povo todo a dançar numa explosão de euforia pura que mostrou claramente que o futuro reserva mais partilhas como esta. É que se já havia um burburinho a propagar-se de forma visível, na Socorro assistimos, sem dúvida alguma, à derradeira consagração.

Enfim, acreditem que veremos mais concertos desta malta por cá, pois isto foi somente o início de um romance que se prevê duradouro – que o digam as pessoas que, à saída, se dirigiam à banca de merch para comprar material da banda. Assim se vive a arte e assim deveríamos viver a vida – com união , carinho e respeito mútuo.

 

Texto: Jorge Alves

Fotografia: Bruno Silva

FacebookTwitter