7 ao mês com CRUA

7 ao mês com CRUA

| Dezembro 4, 2024 9:50 am

7 ao mês com CRUA

| Dezembro 4, 2024 9:50 am

As convidadas desta edição do 7 ao mês são CRUA, que lançaram um tema novo (com videoclipe) no dia 15 novembro, “Moda da Tosquia”, que serve de antecipação daquele que será o álbum a ser lançado em 2026.

O repertório tradicional ibérico é ponto de partida para o encontro e o cantar afetivo de CRUA. Seis mulheres, urbanas, criam e compõem entre a música de transmissão oral e o Adufe. Este instrumento de percussão tradicional português norteia a exploração rítmica mas não está só: bombo, timbalão, crivos, pandeiretas, conchas e outras percussões tradicionais são parte integrante do ensemble base. As canções viajam entre temas tradicionais e originais, despertando para reflexões transversais ao tempo – afeto, cuidado, labuta, coletivo. Vozes próximas do primal que convidam a estar e ouvir, num entrecruzamento de tempo e geografias. Uma dramaturgia do feminino na música de raiz tradicional, oferecida generosamente a quem ouve como se em casa estivéssemos.

“Moda da Tosquia” é uma reinterpretação imersiva que evoca as tradições ibéricas e as histórias de labuta e coletividade. Inspirado por uma recolha tradicional do Fundão, onde se ouve um homem a cantar enquanto realiza a tosquia, acompanhado apenas pelo som irregular das tesouras, o tema foi trabalhado ao longo de uma série de ensaios onde a banda procurou compreender e traduzir a essência do registo. Num processo de experimentação e expansão sonora, o grupo procurou habitar o corpo e a perspectiva do tosquiador, num exercício de empatia e descoberta pessoal. O resultado é um tema que habita a natureza tangível e intangível, entre o mundano e o etéreo, o terreno e o quase sagrado.

Aproveitando o lançamento deste novo tema, convidámos a banda para a nossa rubrica de novembro.

Coetus – Maria Ramo de Palma

Coetus é das grandes referências musicais de todas nós, dentro e fora de CRUA, é um projeto único e que marcou de forma incontornável a composição e o conhecimento da música tradicional ibérica e a forma como nós olhamos para as possibilidade e encontros rítmicos que existem no nosso território. Camadas sobre camadas de percussão que elevam a melodia. De uma qualidade impar, quer na composição ritmica, vocal, harmonica, melodica. Um grupo como poucos ou nenhuns. Um enorme grupo de músicos fenomenais, uma alegria e felicidade no toque e no canto, uma grande variedade de instrumentos convencionais ou não. O ensemble de percussão ibérico é um marco fundamental na música de raiz ibérica e um exemplo de composição rítmica partindo de bases tradicionais.

Berroguetto – Cantos de Monzo

Berrogüetto foi um grupo folk findo em 2014, Galego e foi marcante no crescimento musical de todas nós, antes de estarmos juntas em CRUA. De Berrogüetto lembramos a liberdade de trazer outras formas de compor e outras influências para o folk galego, com uma linguagem trad muito marcada. Este tema escolhemos, mais uma vez, pela simplicidade de um bordão e duas vozes.

Habelas Hainas – Medida Calada

Habelas Hainas são um grupo galego de grandes músicas, com a linguagem da música tradicional muito consolidada na sua forma de toque e composição e com muito para dizer. A mensagem política, o inconformismo, a luta social é trazida pela música trad cheia de humor e força. Desde a forma como escrevem, aos arranjos, as influências e a forma como olham e nos contam a galiza fazem delas uma referência incontornável. Em media calada, Carmina- uma personagem conhecida na música tradicional galega deixa de estar na posição frágil, onde normalmente é retratada, para ser uma mulher emancipada que faz a foliada e vai ao Avante.

Banda do Casaco – Morgadinha dos Canibais

Uma música tradicionalmente da Beira Baixa com um arranjo progressivo e com alteração de letra. A Banda do Casaco foi pródiga na pesquisa etnográfica e na mistura com pop, rock, prog e até crítica social. Abriu portas para um novo olhar para a música tradicional, para a sua transformação, uso e propriedade.

Catarina Chitas – Virgem da Conciliação

Catarina Chitas é chamada aqui na representação das adufeiras e das músicas de adufe que nos chegaram até hoje pelo processo de recolha. De nome incontornável, Michel Giacometti fez com que o futuro conhecesse a Adufeira Catarina Chitas e que os seus temas fossem cantados e reinventados de várias formas, línguas e estilos musicais. Trabalhamos e compomos muito com base em recolhas e esta está aqui por isso, também. A Catarina Chitas e o seu grupo de adufeiras são do mais preciosos que podemos ainda escutar do repertório de adufe português. Este tema traz-nos uma memória de voz real, fora academia, onde adufe e canto são suficientes para nos trazer um tema das beiras e que, ao mesmo tempo, nos faz viajar por várias culturas basilares da península ao longo dos séculos.

Cramol – Senhora do Alívio

Entre muitas outras músicas reouvidas, repensadas e recantadas, esta Senhora do Alivio, na voz das Cramol, um grupo também de origem urbana, tem acompanhado a mente no momento de composição vocal em CRUA sendo inspirador da Voz que buscamos juntas. Uma polifonia a quatro vozes. Um canto, a fala das mulheres.

Laboratorium Pieśni – Sztoj pa moru

Falando em polifonia e harmonia, outra banda que é referência em CRUA é Laboratorium Piesni. É um laboratório, à semelhança do que sentimos que CRUA é, com espaço para a experimentação do que é a música tradicional, apenas com voz e percussão, num ponto de busca livre, feminino e selvagem.

Podem conhecer um pouco melhor o trabalho da banda no seu BandcampInstagram ou Spotify.

Foto: Meru Freire

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