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Quinto aniversário da Saliva Diva: a música é amizade e partilha numa aventura vivida com amor
Quinto aniversário da Saliva Diva: a música é amizade e partilha numa aventura vivida com amor
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Quinto aniversário da Saliva Diva: a música é amizade e partilha numa aventura vivida com amor
Parece que foi ontem, mas já foi há cinco anos que a Saliva Diva foi criada com o intuito de divulgar e fazer crescer o movimento underground em que tanto acreditava e continua a acreditar – no fundo, ser uma “família” de melómanos para melómanos que se reúne para experienciar uma paixão comum. E foi precisamente isso que aconteceu no passado dia 6 na Cave da Socorro – um local que a própria Saliva foi responsável por estrear em Junho de 2023 – com o primeiro capítulo de um mês em que cada concerto representa um ato de celebração.
Nesse sentido, a primeira destas múltiplas festas iniciou-se ao som de O Marta, aqui em formato quarteto e a exibir uma coesão notável. Apoiado numa fórmula em que a sensibilidade pop se associa à riqueza dos sons tradicionais – no fundo, é a “portugalidade” a ser reinventada para que a partir do passado se criem novos futuros sustentáveis -, o talentoso compositor assinou uma atuação bem divertida onde nem os ocasionais problemas técnicos o desmotivaram. Afinal, tocar na Socorro era, nas suas palavras, “um sonho”, pelo que concretizá-lo originou assim um momento bonito de felicidade coletiva. Contudo, se todos os elementos desta equação funcionam bem, são claramente os sons mais “exóticos” – desde as flautas à gaita de foles, passando pela tarota – que realmente enriquecem estas composições e lhes dão mais vida e cor. No final, fomos brindados com uma prestação dinâmica e empolgante que, acima de tudo, representou uma bela ode à criatividade sem barreiras.
A fechar tivemos o regresso de Daniel Catarino à casa que ajudou a estrear, juntamente com Acid Acid, no supracitado primeiro evento da Socorro que também constituiu uma matiné da Saliva. E se essa atuação já tinha sido boa, nesta ocasião saímos de lá a sentir que tínhamos acabado de assistir ao melhor concerto deste trio, pois o que aqui testemunhamos foi uma excelente sessão de rock clássico servido com garra e paixão, riffalhada suprema que parece emanar da intimidade de um bar para ecoar com pujança nas colunas do mundo.
Numa atuação particularmente inspirada, dotada de uma “magia” espontânea que só a intimidade deste ambiente consegue instalar, Catarino proporcionou-nos uma soberba dose de energia vital, um “grito” de paixão rockeira feito à base de letras astutas (por vezes até mordazes na sua observação social crua) que nos arrepiou o corpo e revigorou a alma. Tudo estava no ponto – o som, a postura, a alegria visível na cara do nosso anfitrião, as danças da malta na fila da frente -, e o resultado foi um daqueles concertos fantásticos que ficarão para sempre guardados nos arquivos da memória. Obrigado, Catarino, adoramos-te.
Enfim, uma tarde memorável para começar bem o ano, e uma excelente maneira de dar os parabéns a um coletivo que muito tem feito para revitalizar este underground que a todos pertence. Afinal, no catálogo desta editora/promotora encontram-se nomes como os MAQUINA, Marquise, Baleia Baleia Baleia, Evaya ou mesmo MONCHMONCH a partir do momento em que cá chegou de São Paulo – numa prova irrefutável de que a Saliva, mais do que uma comunidade de melómanos unida pelo mesmo sonho, é também uma importante plataforma de divulgação artística, um vislumbre do amanhã saboreado na magia do presente. Resta esperar que possamos celebrar mais cinco, dez, talvez até quinze anos desta incrível viagem, pois o underground sem a Saliva seria um mundo mais pobre.
Texto: Jorge Alves