
The Pains of Being Pure at Heart no M.Ou.Co: se recordar é viver, então nesta noite renascemos
The Pains of Being Pure at Heart no M.Ou.Co: se recordar é viver, então nesta noite renascemos

The Pains of Being Pure at Heart no M.Ou.Co: se recordar é viver, então nesta noite renascemos
Mais do que um simples concerto, este regresso dos The Pains of Being Pure at Heart ao nosso país para o segundo concerto da sua digressão de reunião (precedido apenas por um warm-up em Nova Iorque, realizado dois dias antes) representou uma autêntica celebração de felicidade melómana, um daqueles momentos mágicos que fez a alma rejubilar.
Para isso muito contribuiu o sentimento de nostalgia como qual hoje recordamos o maravilhoso álbum de estreia que a banda lançou em 2009 – coleção fabulosa de dez malhas de noise pop a piscar o olho ao shoegaze, onde a melodia e o ruído se unem num abraço ternurento. Um disco especial, que marcou a época e a geração que o acolheu, e que nesta noite foi interpretado na íntegra durante a primeira parte do concerto. Mas o mais gratificante, contudo, foi a pureza espantosa com que esta sessão de nostalgia foi levada a cabo, num ambiente tão vibrante e enérgico que os temas pareciam ganhar nova vida à medida que todos os recordávamos, como se o ontem fosse hoje. Mais do que saudosismo barato e meramente mercantil, o que aqui testemunhamos foi o despertar de uma “garra” que nunca chegou realmente a morrer, mas que permaneceu efetivamente “adormecida“ durante os cinco anos de interregno do grupo.
Nesta noite, contudo, o sentimento renasceu de forma genuína e iluminou a alma de todos os que por ele se deixaram contagiar. Como não, aliás, quando pérolas irresistíveis como “Contender”, “Young Adult Friction” ou “Everything With You”, aqui a soar tão joviais e apaixonadas como há dezasseis anos, nos fazem sentir que entramos numa máquina do tempo para regressar à adolescência/juventude que espiritualmente nos forçamos por manter? E se estas canções já são automaticamente deliciosas de ouvir, ainda mais revigorantes se tornam numa atmosfera tão bela como esta, em que o público – que na mais bonita demonstração de união melómana tanto incluia portugueses como pessoas vindas da Rússia ou Brasil – berrava, batia palmas e aproveitava cada momento para melhor imortalizar a sua doçura.
Porém, não só da recordação da estreia magistral viveu o concerto, pois a banda rapidamente voltou ao palco para nos brindar com mais cinco temas – o primeiro, intitulado “Doing All the Things that Wouldn’t Make Your Parents Proud”, foi curiosamente dedicado à falecida avó do vocalista/guitarrista Kip Berman, que aparentemente era a maior fã do coletivo nova iorquino. Quem disse que com a idade não podemos rockar?
Terminando da forma mais simbólica possível, com a música que dá nome ao grupo, os The Pains of Being Pure at Heart mostraram que estão em forma, dir-se-ia mesmo rejuvenescidos, e proporcionaram uma dose de nostalgia revigorante – um pedaço de memória eterna que para sempre estimaremos. Foi mesmo lindo, acreditem.
Um pouco antes, Cristina Quesada, artista espanhola radicada na Suécia, apresentou-se em formato duo para nos proporcionar uma terna dose de synthpop pintado em tons de folk, em certos momentos recordando até o legado dos Saint Etienne. Não sendo necessariamente genial, foi um concerto particularmente agradável, revigorante na sua delicadeza luminosa, e que nos deixou no estado de espírito certo para o que se seguiu.
Texto: Jorge Alves
Fotografia: André Henriques