“Lost Themes was all about having fun. It can be both great and bad to score over images, which is what I’m used to. Here there were no pressures. No actors asking me what they’re supposed to do. No crew waiting. No cutting room to go to. No release pending. It’s just fun. And I couldn’t have a better set-up at my house, where I depended on (collaborators) Cody (Carpenter, of the band Ludrium) and Daniel (Davies, who scored I, Frankenstein) to bring me ideas as we began improvising. The plan was to make my music more complete and fuller, because we had unlimited tracks. I wasn’t dealing with just analogue anymore. It’s a brand new world. And there was nothing in any of our heads when we started other than to make it moody”.
Entrevista de Carpenter via Pitchfork
John Carpenter
Lost Themes
Fevereiro 11, 2015 3:42 pm
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John Carpenter // Sacred Bones // Janeiro de 2015
7.0/10
John Carpenter é um dos mais conhecidos realizadores da história do cinema, que se estreia a 100% na música agora, no ano de 2015, com o LP Lost Themes.
Para aqueles que não conhecem bem John Carpenter, começo por referir que ele é o autor de algumas das películas mais marcantes da história do cinema.
A sua cinematografia minimalista, atmosferas sufocantes e uma faixa sonora baseada em sonoridades sintetizadas que preenche a imagem de maneira exímia fazem parte da assinatura de Carpenter, marcos de qualidade que os seus fãs exigem — e esperam testemunhar — em todas as películas do realizador. Para quem não for fã do realizador, dos universos por ele arquitectados e das faixas sonoras que ele construiu para povoar os mesmos, não vai encontrar nada aqui de interesse para si neste Lost Themes e pode deixar de lar a crítica aqui.
No entanto, quer for fã do realizador, meio fã ou alguém que o desconheça por completo mas que tenha interessa em saber mais, que me acompanhe no remanescente desta deriva.
Falemos da banda sonora dos filmes de John Carpenter (a Threshold é, afinal de contas, uma magazine de música).
Quem é um fã de John Carpenter, tem noção do peso que o som representa nas suas películas. Atrás já falámos de como a conjugação exímia entre o som e a imagem é importante e uma das assinaturas das películas de Carpenter. Mas — a título de exemplo gritante — isto é particularmente visível nas cenas de tensão. A organização dos tons e dos sons é feita por Carpenter, pensada para pôr o espectador em crescente sobressalto, sempre com a imagem a acompanhar a faixa. Os nossos sentidos estão, desta maneira, a serem duplamente estimulados por esta experiência audiovisual.
Podemos testemunhar isto na série Halloween, quando Michael Myers se prepara para enterrar o seu punhal aqui nesta desgraçada.
Outro exemplo é o filme Escape From New York.
Brevemente descrevendo a película, esta narra a história de Snake Plissken, um ex-agente dos EUA (actualmente, um renegado pela sociedade) é recrutado para salvar o presidente dos EUA, feito refém por um grupo terrorista numa Nova Iorque pós-apocalíptica. Este filme, apesar de não viver tanto das cenas se sobressalto como o slasher Halloween, contém alguma da melhor música que os anos 80 já viu ser incluída numa banda sonora.
Uma pergunta se levanta no meio deste processo todo: porque compor um LP? Porque agora?
John Carpenter sempre trabalhou a sua sonoridade em conjunto com uma componente visual. Porque dissociar os dois, dedicando-se exclusivamente ao som?
Qual é a origem desta experiência?
Lost Themes é, no final de contas, um libertador exercício de derivação na escrita e na produção musical por parte de Carpenter. Este foi realizado em conjunto com o seu filho Cody e com o seu afilhado Daniel. Estando John libertado das suas amarras de realizador, este pôde dedicar-se em pleno à experimentação e composição das suas sonoridades, pelo simples prazer de compor, intercalando esse exercício com pausas para jogar consola.
Nalguns temas, particularmente no “Vortex” (a faixa que abre Lost Themes) sinto um dejà vu ao escutar a faixa. Há uma parte na minha memória que vai buscar as recordações que eu guardo desse filme (e de outros filmes realizados na mesma altura) sempre que ouço esse tema. E eu gosto dessa sensação. Gosto de recorrer ao repertório cinematográfico da minha cultura visual, sem sair do lugar, provocado pelo estimulo presente num único tema. Talvez por eu ver filmes desde puto — filmes de acção nomeadamente — com bandas sonoras um tanto ou quanto semelhantes, talvez por termos um extenso trabalho de Carpenter no campo do visual ao qual podemos associar estes temas, a verdade é que eles funcionam bem, mesmo dissociados da sua componente visual.
Todo o álbum nos evoca a essa época e podemos apanhar apontamentos mais ou menos — por vezes nada — subtis da assinatura sonora que Carpenter usa nos seus filmes.
Quem for um fã ou tiver curiosidade em explorar o estilo cinematográfico e sonoro de John Carpenter, tem muito para descobrir e redescobrir neste Lost Themes. Por mais complexa que seja a tarefa de sintetizar todo um legado numa única peça, penso que Lost Themes conseguiu cumprir este objectivo.
Para os restantes de vós, não vão encontrar aqui nada para vocês.
Porque apesar de ser um brilhante exercício de composição e síntese musical, ser um seguidor da obra de John Carpenter ajuda-vos bastante na tarefa de compreender e cartografar as atmosferas e universos compostos pelas sonoridades presentes em Lost Themes.
Mesmo para os não-fãs, deixo-vos um apelo: nunca é tarde para começarem a ver os filmes de John Carpenter e, agora, para ouvir os seus discos.
Numa nota final, é de destacar que a edição do Lost Themes ficou a cargo da prestigiada Sacred Bones, label que já apostou anteriormente em devaneios musicais de outros realizadores e que, desde a primeira edição de Lost Themes, foi recentemente lançada uma versão deluxe do LP, que inclui, a par dos 9 temas originais, algumas remisturas.
Lost Themes’ Tracklist:
1. Vortex
2. Obsidian
3. Fallen
4. Domain
5. Mystery
6. Abyss
7. Wraith
8. Purgatory
9. Night