Sem grandes apresentações Born Into The Waves foi anunciado através de um pequeno teaser com “Your Guess” como pano de fundo, música já apresentada o ano passado, em versão ao vivo, no dia de encerramento do Entremuralhas. É também um dos singles do álbum mais semelhante à linha sonora base dos seus já editados discos. O desenvolvimento lento, com a guitarra dedilhada característica, faz viajar até aos recônditos dos anos 80 e lembrar que ainda há poetas na atualidade que apetrecham o seu trabalho na música.
Simon Jones tem uma voz incrível para a música que os And Also The Trees têm apresentado e isso, explorado afincadamente outrora, abre agora espaço para experimentações no campo instrumental. Embora caso único no disco, “Naito-Shinjuku” é uma belíssima composição que explora toda uma gama de sensações através da sonoridade conjugada entre baixo, guitarra e teclados e se vê imune de voz. Já “The Bells Of St Christopher’s” explora um certo ambiente eletrónico instrumental, mas sem dispensar o som vocal. Outro single que se apresenta marcante à primeira audição é “Winter Sea”, um colosso instrumental maravilhoso. Há uma exploração e implementação de diversos samples musicais, a guitarra apaixonada e a voz de um homem abandonado aos seus pensamentos num mar de Inverno. Uma música certamente maravilhosa para se ouvir em formato orquestra.
Born Into The Waves é um álbum saudoso. O seu desenvolvimento traz uma melancolia inerte que não escapa ao ouvinte. Mas é uma saudade feliz e que traz uma certa esperança aos amantes da música que se fazia ouvir nas rádios há umas três décadas atrás. Há uma maturidade indiscutível no volver de cada canção e um disco que tem a capacidade de influenciar as próximas bandas na cena do art-rock e as revivalistas do post-punk e subgéneros. Acima de tudo é memorável o facto de, com uma carreira já tão expansiva, os And Also The Trees ainda produzirem um disco com uma qualidade tamanha como a de Born Into The Waves. Bastante apropriado para os fãs de Nick Cave e Scott Walker.