Skepta
Konninchwa

| Julho 7, 2016 12:49 pm
                                
Konninchwa // Boy Better Know // maio 2016
8.6/10


O londrino Skepta, que já esteve para passar em Portugal no ano que passou, traz-nos um álbum bem fresco editado no passado mês de maio, cujo nome é Konnichwa, a palavra japonesa que significa “olá”. E é a primeira faixa que dá início à viagem com os sons orientais das espadas e do gongo logo a soar mas por poucos instantes, só durante o primeiro verso onde se ouve: “Lookin for me ? Konnichwa”, como se esta faixa se tratasse de uma apresentação. 



Mas é só mesmo sol de pouca dura, logo a seguir faz-se sentir o som de um alarme que altera logo o ritmo calmo da música e traz-nos algo mais urbano, a lembrar a movimentação da cidade com sons de ambulâncias, entre outros. Nesta faixa é exposta uma crítica às más-línguas que nem tentam fazer igual ou melhor que o artista. Passa também uma crítica aos governantes do país de sua majestade, mandando uma missiva para recordar o Primeiro-ministro, demissionário, David Cameron, da corrupção existente no país e do que tem feito Skepta, com muitos outros artistas para proteger os menos favorecidos e os marginalizados, bem presente nos versos “Tell the President we ain´t forgot/Tell the Prime-Minister we still remember// Man don´t care what colour or gender/ Nobody´s vottin on your corrupt agenda”. Diz-nos também que a rotina não o alterou mas sim, fê-lo ficar mais pronto para rappar.

Na segunda faixa “Lyrics” ouvimos uma sample inicial de “Wiley”, proveninte do álbum de 2001, Hearthless Crew vs Pay As U Go Cartel, e traz-nos uma noção que já muitos rappers nos têm mostrado. A música rap ganhou outras dimensões e desde sempre teve muitas ramificações mas não poderá chegar à violência ou às disputas entre rappers. Skepta nesta faixa fala-nos disso, fala-nos de relativizar as letras e encarar de outra forma ou até mesmo falar de assuntos mais pertinentes. Isso faz-se ouvir quando chega com a frase “Lyrics for lyrics, calm”.

A faixa “Corn On The Curb” apresenta-se como nostálgica, uma faixa em que Skepta questiona e fala da sua vida desde que está no Reino Unido e também do caminho que levou. Como na faixa anterior, fala-nos do que a fama lhe trouxe, do que muitos fizeram quando souberam da sua fama, da crítica e dos que o acompanharam sempre.

Segue então “Crime Riddin”, talvez a faixa que resultou melhor neste álbum, graças ao beat que traz com as sirenes da polícia a ouvirem e com uma letra que nos fala da maneira como a polícia atua. Isso é claro no verso em que se ouve “The feds wanna shift man/ Wanna put me in the van,wanna strip a man/ Fuck that, I ain’t a Chippendale/Wanna strip a male/ Put me in a prison cell/ Got me biting all my fingernails”.


“It Ain´t Safe”, faixa feita em colaboração com Young L.O.R.D, mostra-nos uma visão pessoal da zona onde Skepta habita, do Norte Londrino, onde recorda que é a zona de Tottenham que regista maior taxa de crime e que nem a polícia está a salvo: “It ain´t for the block not even for the cops”.

Mais adiante as faixas que chamam mais a atenção são “Numbers”, com o conhecido Pharell Williams e um dos melhores trabalhos do londrino, “That´s Not Me” com JMEA primeira, “Numbers”, traz-nos uma batida que fica logo no ouvido e faz-nos recordar N.E.R.D graças à presença do produtor e músico, Pharell WilliamsUma faixa que expressa a falta de confiança de Skepta nas editoras que apenas olham aos números, a vendas, não olhando ao que o artista quer mostrar ao mundo. Isso faz-se notar no hook da música “Quit talkin´ numbers, calculator//Quit talkin numbers, at you haters”.


A faixa “That´s Not Me” é um dos melhores trabalhos do artista pois consegue juntar um instrumental potente, catchy e um hook que também fica no ouvido de qualquer um. Mas não é isso que Skepta e o irmão JME querem mostrar nesta faixa. Querem mostrar a sua relação com a indústria musical londrina, com os luxos que aparentemente são inerentes a qualquer rapper e que Skepta diz que tem em falta e daí não poder fazer parte do clube de muitos. Miúdas, roupa de marca, grandes carros, músicas sobre vida problemática, bairros e tudo mais? Skepta responde: “That´s not me”.

O álbum termina com “Text Me Back”, onde existe latente uma reflexão acerca do tempo que passa na “estrada” a mostrar o que faz melhor, deixando para trás pessoas importantes e deixando por vezes a ideia de que não quer saber delas. Termina também como começou, com sons orientais desta vez a lembrar um jogo de consola como aqueles jogos antigos da SEGA ou mesmo os jogos de arcada.

Um álbum cru, um álbum extremamente crítico e introspectivo que nos faz pensar que cada vez mais o rap pretende mostrar muito mais que o bairro de onde se é oriundo ou a que gangue se pertence.

Konninchwa pode ficar guardado como álbum que nos mostra, como To Pimp A Butterfly de Kendrick Lamar, uma mensagem. Uma mensagem pessoal, uma viagem ao interior da célula de Skepta para mostrar aos que o ouvem como é a realidade, que não é só putas e vinhos verde e que também temos de focinhar para chegar onde queremos. Consistente em cada faixa e cativante, daí ser um álbum que se consiga ouvir de uma ponta à outra sem se ficar entediado.
FacebookTwitter