Cinco Discos, Cinco Críticas #27

| Julho 13, 2017 12:43 am
Laurel Halo, Lorde, The Babe Rainbow, Bruce Harper e Animal Youth foram os artistas escolhidos para mais uma edição do “Cinco Discos, Cinco Críticas”. As opiniões relativamente aos seus mais recentes trabalhos seguem abaixo argumentadas.

Dust // Hyperdub Records // junho de 2017

8.5/10
Dust é o terceiro longa-duração de Laurel Halo. Depois de se estrear nas bocas do mundo com o aclamado Quarantine, e de editar uma séria de EP’s e colaborações com artistas como Daniel Lopatin e James Ferraro, Halo regressa este ano com um disco difícil de decifrar, uma fusão entre o humano e o digital, as batidas e as melodias. Dust conta com a colaboração de artistas como Julia Holter, Klein e Max D,
e é descrito pela própria produtora como o “álbum mais feliz que já
compôs”. Se no tema título “Dust” encontramos um dos registos mais
acessíveis do repertório da produtora, nos restantes temas encontramos
uma colagem de diversos estilos e sonoridades de difícil categorização,
por vezes incompreensíveis e impenetráveis, mas que se verificam muito
recompensadores ao fim de algumas audições, aliando de modo muito
interessante a complexidade aos ritmos mais dançáveis do jazz e R&B.

Entre as
quebras e pausas abstratas encontram-se também os ritmos quentes e com
muito groove de “Moontalk” e “Syzygy”, dois exemplos que demonstram esta
procura de Halo por uma pop futurista e visionária que tem tanto de
robótica como de humana, situada entre a frieza das batidas e vocoders e o calor humano da sua própria voz.

A
procura de Halo por uma sonoridade mais acessível e pop é notória, mas
sem nunca o fazer completamente. No entanto, é aqui que encontramos
alguns dos melhores temas da produtora, como é o caso da já referida
faixa título e o tema de abertura “Sun To Solar”, que fazem deste disco
um dos melhores registos de Laurel Halo e uma das audições obrigatórias
deste ano.


Filipe Costa

Bruce Harper // self-released // maio de 2017


7.5/10
Os italianos Bruce Harper formaram-se em 2016 tendo lançado até à data uma demo e, mais recentemente, o seu novo disco homónimo Bruce Harper,
apresentando uma banda a posicionar-se nos campos da nova música
eletrónica. O trio, que envolve membros de outros projetos da cena post-rock/psychedelic como Floss, Teich e Beech, decidiu criar em Bruce Harper
o resultado das suas ideias e fascínio pelas sonoridades eletrónicas,
através de uma abordagem completamente analógica, modulada em padrões
físicos e tribais e suspensa em espaços etéreos e reverberados. Como
principais inspirações no processo de composição a banda aponta a
paisagem sombria de Vessel e o serialismo matemático dos Battles.

O resultado surge agora em formato 9 canções através de loops vigorosos
prontos para ativar sensações inesperadas. Singles como o
relaxante/dreamy “Landscape”, o intenso “Blind” ou a miscelânea
excêntrica de “Fluo rites” são bons exemplos da divergente exploração
que os Bruce Harper aplicam como fórmula nesta estreia nos longa-duração, numa sonoridade que tão depressa soa a orgânica como a mecanizada. Bruce Harper é um disco muito coeso no que toca ao seu processo de composição – resultado de uma harmonia entre os samples e loops construídos e a percussão incutida – e um disco facilmente assimilável a qualquer ouvinte. Vale a pena carregar no play.

Sónia Felizardo

The Babe Rainbow // Flightless Records // junho de 2017
7.5/10

Para algumas bandas o Woodstock nunca acabou. Algumas mantêm-se coladas às influências psicadélicas e folk e não passam de grupos que gostam de prestar homenagem às suas bandas preferidas como Jefferson Airplane, Buffalo Springfield ou a Donovan. Contudo, após o lançamento de inúmeros Ep’s e singles, os The Babe Rainbow, neste seu álbum de estreia, com a ajuda dos King Gizzard & The Lizard Wizard, responsáveis pela editora Flightless que lançou este álbum, tentam inovar o conceito da música hippie.
O pop psicadélico otimista misturado com umas influências de surf rock ou blues, pode ser encontrado nas primeiras duas faixas do álbum, respetivamente “Losing Something” e “Peace Blossom Boogy”, contudo nas faixas seguintes são introduzidos elementos funk, dance e disco, a música “Monky Disco”, é uma agradável e inesperada mudança no álbum. Mais imprevisto ainda, é quando entram as vozes femininas francesas, oferecendo uma dinâmica diferente e um espírito mais próprio à banda.
Apesar da inocência das músicas e da sua fácil digestão, este é um álbum que não deve ser rapidamente posto de parte. Não sendo uma experiência transcendental, oferece uma boa oportunidade para relaxar e aproveitar as belas tardes solarengas que as férias de verão tem para oferecer.
Hugo Geada  
Melodrama // Republic Records // junho de 2017

4.0/10
4 anos após o lançamento do seu álbum de estreia, Lorde regressa aos discos com Melodrama. Após o bom trabalho de outros artistas pop mainstream nos últimos tempos, como os Paramore com After Laughter e Carly Rae Jepsen com E·MO·TION e E·MO·TION: Side B, e todo o hype criado à volta de Melodrama, as expectativas para o disco tornaram-se altas. Infelizmente, fiquei desapontado. “Green Light” abre o álbum e, apesar de ter um pré-refrão onde a percussão, o piano e a voz resultam muito bem, não consegue manter a qualidade em mais nenhuma secção. “Homemade Dynamite” é a primeira música que não passa muito despercebida, pois incorpora alguns sons de sintetizadores interessantes, mas isso não é o suficiente. “The Louvre” tem um par de secções atmosféricas que podiam levar a algo bastante interessante e diferente das outras canções, mas o resto da música é um synth pop genérico que deixa a desejar. “Liability” é uma balada com piano e voz que tenta ser mais emocional, mas não resulta. O que resulta é “Hard Feelings/Loveless”, especialmente a primeira metade. Podiam ser duas músicas diferentes, mas estão na mesma faixa. “Writing in the Dark” é outra música de qualidade, cujo refrão, onde a performance vocal de Lorde é excelente, é o melhor momento do álbum. A seguir a ela está “Supercut”, uma das mais fracas e compridas músicas de Melodrama. “Liability (Reprise)” seria um final apropriado para o álbum, mas quando parece que este está a acabar começa “Perfect Places”, mais uma dose de synth pop. Melodrama não é um passo em frente para Lorde. É aborrecido, repetitivo e demasiado seguro e longo. Era preciso arriscar um pouco, trazer algo de novo em vez de uma sonoridade banal que não é o suficiente quando a composição das músicas também não é muito boa.
Rui Santos
Animal // Weyrd Son Records // maio de 2017

6.5/10

Os Animal Youth são um trio belga cuja sonoridade base pode ser definida como um encontro entre noise-punk e o post-rock. Pelo meio misturam sintetizadores, traços da dream pop, muito fuzz e uma voz tipicamente suja. Obcecados pelas histórias de amor tristes e o eco frio do romantismo dos anos 80, os Animal Youth apresentam no seu primeiro disco longa-duração, Animal, uma sonoridade que vai buscar influências a nomes como Cocteau Twins, The Jesus And Mary Chain, The Cure, My Bloody Valentine e A Place to Bury Strangers. Este disco, que integra as músicas do EP Youth, apresenta uma nova banda a posicionar-se entre os campos do underground, na vertente música reverberada e fuzz trazendo ainda uma aura post-punk. Apesar do som assimilável, Animal é um disco que consegue passar facilmente despercebido entre a inúmera quantidade de álbuns que se vai ouvindo ano fora, talvez um pouco pela voz que se demora a entranhar de Guy Tournay. Apesar de, como um todo, Animal não apresentar um grande impacto no ouvinte, músicas como “Darkest Place”, “Love You (When You’re Dead)” e “The Burn Is The Next Big Thing”, por exemplo, conseguem destacar-se e, quando projetadas em formato ao vivo, parecem ser do tipo de colocar o pessoal todo a dançar. De uma forma geral é daquele tipo de discos ok, mas sem um carácter distintivo denotado.
Sónia Felizardo

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