Reportagem: Vodafone Paredes de Coura – 17 de agosto
Reportagem: Vodafone Paredes de Coura – 17 de agosto
Reportagem: Vodafone Paredes de Coura – 17 de agosto
17 de agosto foi o segundo dia do festival e o primeiro a ter dois palcos ativos. Também foi o dia no qual começaram os concertos no palco Jazz na Relva. Após uma sessão Vodafone Vozes da Escrita com Tomás Wallenstein (Capitão Fausto) e a sua irmã Catarina, ouviu-se o jazz dos Uma Coisa em Forma de Assim, que serviu como boa música de fundo para o início da tarde. Tocou depois Captain Boy.
Os primeiros a serem ouvidos no recinto foram os Sunflower Bean, que abriram o palco secundário. O trio americano, que lançou o seu álbum de estreia o ano passado, apresentou um indie rock/pop agradável, apesar de pouco original. A voz principal foi dividida entre a baixista Julia Cumming e o guitarrista Nick Kivlen. A setlist incluiu músicas novas e houve um bom equilíbrio entre canções mais e menos intensas. Enquanto o concerto se aproximava do fim começaram a tocar no outro palco os portugueses You Can’t Win, Charlie Brown, que, como sempre, corresponderam às expectativas. São uma das bandas portuguesas mais interessantes da atualidade e parecem ter dado um bom concerto, que não conseguimos ver na totalidade. Entre duas músicas falaram sobre o festival e sobre terem estado, muito novos, no lado do público. Desta vez estiveram, merecidamente, em cima do palco.
Os segundos a tocar no palco secundário foram os Nothing, quarteto americano de shoegaze que trouxe consigo o muito bom álbum Tired of Tomorrow. A banda tocou músicas como “A.C.D. (Abcessive Compulsive Disorder)”, “Vertigo Flowers” e “Eaten by Worms”, a penúltima da setlist, durante a qual Domenic Palermo saltou do palco e foi ter com o público. Foi mais um bom concerto, apesar de não ter estado ao nível da vinda da banda à Cave 45, no Porto. Perdemos a última música para mudar novamente de palco e assistir ao regresso dos Car Seat Headrest ao nosso país.
Podem já ter lançado mais de 10 discos, mas os Car Seat Headrest são uma banda jovem. Não é por isso que deixam de ser um dos melhores nomes do indie rock do século XXI. O projeto, iniciado a solo por Will Toledo, originou um dos melhores álbuns do ano passado, Teens of Denial. A banda usou samples em várias músicas e focou-se principalmente no seu último álbum. Começou o concerto com “Vincent” e tocou, entre outras, “Fill in the Blank”, “(Joe Gets Kicked Out of School for Using) Drugs With Friends (But Says This Isn’t a Problem)” (cuja secção final é sempre excelente) e a espetacular “Drunk Drivers/Killer Whales”. Isto não foi o suficiente para o concerto corresponder às expetativas que tinha após os ter visto o ano passado, no Primavera Sound. Enquanto que esse concerto teve um público dedicado a cantar mais do que a banda, impressionada, esperava, este teve mosh desnecessário, uma performance que podia ser melhor e uma setlist no qual as músicas mais fracas eram claramente muito inferiores às outras. No entanto a verdade é que, apesar disto, os melhores momentos fizeram o concerto valer a pena. O baterista também ficou contente, dizendo que Portugal é o país com o melhor público.
Perdemos os Timber Timbre e a sua “Hot Dreams” e ficamos no palco principal à espera de King Krule, mais um jovem artista ao qual não falta qualidade. Ainda não tinha 23 anos quando veio a Paredes de Coura, mas já há 5 anos tinha passado por Portugal, no Vodafone Mexefest. Tocou músicas novas e também algumas das suas melhores e mais conhecidas, como “Out Getting Ribs”, “Easy Easy”, “Baby Blue” e “Rock Bottom”. É um dos melhores e mais criativos cantautores da música alternativa atual e a acompanhá-lo esteve uma excelente banda, que fez um trabalho excecional. Não posso deixar de destacar o baixista e o incrível baterista, que foram mesmo impressionantes do início ao fim. Pelo meio houve problemas com uma guitarra, mas nada com o qual a banda não conseguisse lidar. A música continuou durante um bocado sem ela e o guitarrista juntou-se imediatamente quando o problema foi resolvido . O próprio Archie Marshall também esteve ao nível do resto da banda e a sua voz grave muito própria soou tão bem ao vivo como nas gravações em estúdio.
Foi um dos melhores concertos do festival e até teve direito a um encore. O único ponto negativo foi parte do público que, tal como em muitas outras ocasiões neste festival, fez mosh quando simplesmente não fazia sentido e incomodou quem estava à sua volta. As condições do festival também não eram propícias a isso, porque bastavam alguns segundos de maior animação para se levantar muito pó, que tornava a respiração difícil. Faltou um tapete a cobrir a terra.
Passamos depois pelo concerto dos Ho99o9, um grupo de hip hop com uma sonoridade muito agressiva e intensa do qual eu não era fã. Quando fui pesquisar as suas músicas, após ter lido várias comparações entre eles e os Death Grips, não os achei muito parecidos aos autores de Exmillitary nem tão bons. As três ou quatro músicas que ouvi deles em Paredes de Coura sim, fizeram-me lembrar Death Grips. Não soaram demasiado parecidos, mas passei a achar as comparações legítimas, especialmente pela agressividade e pela bateria, usada de maneira semelhante, mas sem o som cru de Zach Hill. A energia estava no topo, dentro e fora do palco, e isso era sentido mesmo nas filas mais atrás. As músicas eram pesadas e não pareceu haver tempo para pausas. Mais tarde, quando já não estávamos perto do palco, ouvia-se vindo dele “Every Nigger is a Star”, de Boris Gardiner.
Um dos maiores nomes do cartaz deste dia foi o dos At the Drive-In, mestres do pós-hardcore reunidos pela segunda vez em 2015. A banda de Cedric Bixler e Omar Rodríguez mostrou estar ainda em boa forma e tocaram malha atrás de malha. Quase toda a setlist foi composta por músicas do novo álbum, in•ter a•li•a (como “Hostage Stamps” e “No Wolf Like the Present”), e do mais conhecido e conceituado Relationship of Command (como “Arcarsenal” e “Pattern Against User), mas também se ouviu “Napoleon Solo”, de In/Casino/Out. A última a ser tocada foi a que é possivelmente a melhor da banda, “One Armed Scissor”. Ficou a faltar a excelente “Invalid Litter Dept.”. Cedric saltou para cima da bateria e de amplificadores, as guitarras soaram frenéticas e foram sempre apoiadas pela sólida secção rítmica, que servia de base e não deixava os riffs e solos perderem sentido. Os At the Drive-In sempre estiveram entre os melhores artistas do género e trouxeram ao festival uma muito necessária dose de rock.
Nick Murphy, antes conhecido por Chet Faker, já tocou várias vezes em Lisboa e estreou-se no norte do país como o nome mais mainstream do cartaz do Paredes de Coura. O seu concerto teve alguns bons momentos dançáveis e “Talk is Cheap” é um bom single, mas foi um dos mais desinteressantes do festival e rapidamente se tornou aborrecido. Não foram precisas poucas músicas para eu perder a atenção. Destacou-se pela negativa uma música com uma sonoridade entre o folk e o pop que foi possivelmente a pior que ouvi ao longo de todo o festival. Por muito famoso que se esteja a tornar, Nick Murphy não tem qualidade para merecer o estatuto de cabeça de cartaz num festival desta dimensão e qualidade.
O After Hours começou com o pós-rock sul coreano dos Jambinai. Apesar de ter estado num mau local da plateia, onde o público menos interessado falou por cima dos momentos mais calmos, consegui apreciar a maior parte do concerto. Enquanto que a sonoridade da banda não é muito original, recorrendo aos típicos crescendos usados no género e a secções mais pesadas com características de metal, a selecção de instrumentos é bastante exótica. A banda aproveita instrumentos coreanos como o haegeum, o taepyeongso e o geomungo para trazer sons diferentes do habitual à sua música. É interessante vê-los a ser tocados e nota-se que são um ingrediente especial que traz algo de diferente e mais criativo ao pós-rock da banda. O ponto mais alto do concerto foi a última música, “Connection”, sem dúvida a mais bonita e impressionante. Marvin & Guy fecharam a noite para quem ficou até mais tarde.