Spectres
Condition

| Agosto 3, 2017 2:35 am

Condition // Sonic Cathedral // março de 2017
8.0/10

Após a estreia com Dying, um dos discos que marcou 2015, os britânicos Spectres regressaram às edições de estúdio, com Condition que saiu para as prateleiras em março deste ano. O coletivo atualmente sediado em Bristol, e no ativo desde 2011, ficou conhecido pela sua sonoridade noise-gaze, composta por camadas de guitarras distorcidas, vozes encharcadas em reverb e ambientes ruidosos. Os Spectres (ou pelo menos dois dos membros) são ainda os responsáveis pela criação da editora independente, Howling Owl Records, um coletivo de indivíduos que gostam do ruído, da arte e juntam os dois.



Apesar de sempre fiel ao ruído, a sonoridade dos Spectres sofreu pequenas alterações desde a sua estreia com o EP Family. A banda começou por apostar em misturar géneros divergentes com uma camada de distorção lógica por cima e, após o EP Hunger, acabou por criar uma sonoridade característica, com traços denotados do noise rock, shoegaze e do post-rock, consequentemente apresentada em Dying. Já Condition vem mostrar que os Spectres estão a entrar numa fase de maturação do seu som, havendo uma tendência para a progressão, uma vez que as estruturas tradicionais são abandonadas em prol da experimentação com white noise e feedbacks pesados. Além da experiência sonora, neste segundo disco de estúdio, os Spectres voltam a utilizar uma metáfora visual, através da cover-art, para advertir o ouvinte sobre aquilo que já lhe está reservado como experiência auditiva. Se em Dying vimos o rosto agonizante, desesperado e afogado de um homem, em Condition somos confrontados com uma amálgama contorcida de humanos e fungos.  Há ainda a versão em vinil com capa baseada no trabalho Comic Boom Boom de  Laurie Lax.

A primeira amostra deste segundo disco de estúdio, o single “Dissolve”, surgiu então em dezembro do ano ano passado, com uma duração aproximada a sete minutos, e apresentado num trabalho audiovisual dividido em dois atos. Ouvido fora de Condition (na altura ainda nem se sabia o nome do álbum), “Dissolve” apresentava uns Spectres menos amplificados, apesar do constante recurso ao ruído. 

Em janeiro, a banda avançou com “Neck”,
um dos grandes malhões deste disco, que apresenta batidas insistentes por
sobre guitarras discordantes e barulhentas, onde a voz de Joe Hatt é
afogada pelo ruído e alguns sons industriais que lhe são aplicados. Afinal os Spectres
continuam a soar mais barulhentos e abrasivos que nunca. E se chegou a haver uma discussão sobre a implementação de artilharia eletrónica neste novo trabalho, ainda bem que tal não chegou a realizar-se. Os Spectres querem-se em analógico, e se nesta etapa surgem grandes singles como “Colour Me Out” (que poderia facilmente ser uma música dos Slint), “Coping Mechanism”  ou “Rubber Plant” (a lembrar Sonic Youth) e “End Waltz” (à la METZ), para quê ingressar numa nova veia com altos níveis de incerteza?


Em press-release Hatt explica: “On this album we became even less interested in actually playing
guitar, (…) which meant that we got more into experimenting
with the sounds we could get out of them when brutalising them and
letting the feedback do the talking”. (…)  
“Making noise that can’t help but make people forget and remember everything at the same time, and total disdain towards a world where we kind of need to exist.” 

Em suma, os Spectres não são uma banda para meninos. E se já em Dying tinham mostrado que utilizam o ruído com significância, como suporte de uma mensagem maior que o próprio álbum, em Condition aplicam uma teoria do equilíbrio, com músicas melódicas, mas igualmente inquietantes e brutais, como expressão sob os males da condição humana. Too much noise won’t kill you.



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