Os novos trabalhos de Ufomammut (8), Institute (Subordination), The Oscillation (Evil In The Tree), Rocky Wood (Ok, No Wait…) e DAVYS (This Is Where I Leave You – com edição prevista para 27 de outubro), foram os nossos mais recentes alvos de análise em mais um número do Cinco Discos, Cinco Críticas. Se ainda não os ouviram descubram abaixo quais valem a pena.
8 // Neurot Recordings/Supernatural Cat // setembro de 2017
8.0/10
A banda italiana de sludge/doom metal Ufomammut regressa com o seu nono álbum simplesmente intitulado 8 . O que se pode esperar deste registo é mais uma evolução natural da fórmula vencedora da banda, ou seja, um cruzamento de riffs pesadões e lamacentos, mas ao mesmo tempo groovy, complementados pelo baixo predominante e arrasador, um ambient pontuado com vários momentos de sintetizador psicadélico alucinantes e um trabalho de bateria ora vagaroso, ora vertiginoso. Tudo combinado com umas composições complexas - ao ponto de se tornarem vagamente indigestas (no bom sentido, claro) - e uma atmosfera psicadélica espacial, mas de certa forma sufocante. A mistura resulta em mais uma adição sólida à discografia destes veteranos de quase vinte anos.
Este som não é, todavia, o mais acessível, e consequentemente não irá apelar a todos os ouvidos. No entanto, tal como provavelmente acontecerá com aficionados do género, aqueles que se atrevem a aventurar-se irão encontrar uma coleção de momentos memoráveis e impetuosos como o “Babel”,”Zodiac”, ”Core”” e ”Psyrcle”.
Rúben Leite
Subordination // Sacred Bones Records // junho de 2017
6.5/10
Em 2015 os norte-americanos Institute lançaram o primeiro disco de estúdio, Catharsis, pelo aclamado selo Sacred Bones (com quem voltam a repetir a dose neste novíssimo Subordination) tendo-se destacado entre a imprensa pela sua sonoridade tipicamente punk (influenciada pela corrente anarcho-punk britânica) e apetrechada do revivalismo post-punk. Se a conjugação parece aliciante o som resultante toma de assalto qualquer ouvinte.
Quatro anos depois da formação oficial, em 2013, os Institute fazem de Subordination um álbum facilmente mastigável, de ritmo acelerado, curta duração (cerca de 26 minutos) e fiel às anteriores produções – sempre com mensagens politicamente carregadas. Abordando temas como a farsa solitária de seguir as regras da sociedade, a procura incessante por dinheiro e poder, os padrões da normalidade, entre outros, Subordination passa a incluir elementos do hard-rock (ouvir “Exhibitionism”), e do heavy proto-punk (“Only Child”), mantendo ainda veias antigas, como “Oil Money”, a fazer lembrar “Perpetual Ebb”, e “Good Ol’ Boys” na fase garage-punk. Subordination é um disco coerente, perspicaz e essencialmente punk. Pelas características do estilo, apesar de breve, e das sonoridades interessantes, acaba por ser pouco inventivo e relevante. Nem muito bom, nem muito mau.
Sónia Felizardo
Evil In The Tree // Wrong Way Records // agosto de 2017
7.5/10
The Oscillation é uma banda britânica oriunda de Walthamstow, Londres, e assim sendo, a influência de nomes consagrados da atmosfera musical tão própria da capital (pense-se Joy Division e Pink Floyd, por exemplo) é inegável. Como resultado, a banda enquadra-se como uma luva na cena musical em questão, com o seu som a cruzar elementos do rock progressivo e psychedelic, com (atrevo-me a dizer) algum pós-punk à mistura, criando uma mistura que é ao mesmo tempo noisy e com uma vibe cool, com espaço para throwbacks dos momentos mais célebres do krautrock. Neste single, ”Evil in the Tree”, tais impressões são predominantes, com um baixo bem groovy e uma guitarra bem noisy em conjunto com a voz estilosa de Demian Castellanos, e o b-side ”Paranormal Non-Activity” a ser um instrumental carregado de experimentação reverb, que dá asas a um ambiente mais spacey. Para os audiófilos que anseiam por mais psicadélia pura, dura e que não foge muito aos cânones estabelecidos na fase moderna do género, este single serve como uma admirável introdução aos The Oscillation.
Rúben Leite
Ok, no Wait… // On The Camper Records // outubro de 2017
7.0/10
Ok, no Wait… é o novo EP da banda multicultural Rocky Wood e apresenta um total de cinco canções ótimas para disfrutar num final de dia. Influenciados pela art-folk pop suiça e americana os Rocky Wood estão presentes no mercado musical desde 2012, apresentado a peculiaridade de tocarem vários instrumentos, numa composição complexa e rica, mas essencialmente relaxante. A vocalista Romina Kalsi apresenta um timbre que consegue ser grave e sensual, fazendo faixas como “Enough” e “White” adquirirem uma aura angelical com texturas harmónicas, ao lado de elementos eletrónicos e acústicos.
Este Ok, no Wait… é um disco essencialmente construído à base de melodias, apresentando uma sonoridade de alguma forma refrescante mas também envolvente e intrincada de elementos diversificados. Do mais mexido e compassado “Enough” até ao mais calmo “Lisbon”, os Rocky Wood apresentam uma abordagem eloquente e discreta que consegue prender o ouvinte, de forma espontânea, ao longo da reprodução deste novo EP. Ok, no Wait… é uma demonstração de talento e idoneidade musical de uma banda que promete virar boas cartas no futuro.
Sónia Felizardo
This Is Where I Leave You // Self-Released // outubro de 2017
4.5/10
DAVYS é o projeto psychedelic/indie–rock a solo de Jacopo Cislaghi, o frontman da banda de rock’n’roll italiana The Red Roosters, nos últimos sete anos. O vocalista e instrumentista apresenta agora em nome próprio o seu LP de estreia, This Is Where I Leave You, que traz um total de 10 canções, com a colaboração de outros músicos e amigos na composição final.
This Is Where I Leave You não é um álbum mau, mas facilmente se torna aborrecido numa só reprodução. A falta de um desenvolvimento e elementos criativos na composição musical, e a própria voz de Jacopo Cislaghi, são características que acabam por tirar valor à obra final, mesmo que a composição apresentada seja harmónica. Um exemplo encontra-se em “Down South” e “Landing” que, embora até nem sejam más canções, simplesmente não conseguem convencer. A voz soa demasiado banal e a instrumentação não possui grande carácter inventivo. Essa sensação vai-se perdurando com a restante audição deste This Is Where I Leave You e acaba por tirar ao ouvinte a curiosidade de o querer reproduzir na íntegra.
Sónia Felizardo