Através de sintetizadores e caixas de ritmos desorientadas, um baixo rítmico e uma guitarra abrasiva os Dear Deer abrem este Chew-Chew com a faixa “Nadia Comaneci”, um tema com cerca de três minutos de duração que prepara o ouvinte para os territórios explorativos e inovadores da sua música monocromática e igualmente reluzente. Se existe algo que se torna óbvio após as reproduções consecutivas deste Chew-Chew é o facto dos Dear Deer agarrarem em compassos simples e os apetrecharem de elementos que destilam o melhor da música industrial, noise e post-punk em faixas rítmicas, de aura vibrante e extremamente divertidas. A amostra disso deu-se logo antes do lançamento álbum, quando a banda natural de Lille lançou os temas “Disco-Discord” – a projetar-nos para os territórios sonoros de bandas como Alien Sex Fiend e Sex Gang Children – e “Stracilla” – a apresentar a sensualidade da música disco cantada na língua polaca.
Se ouvirmos, por exemplo, temas como “Jog, chat, work & gula-gula” (single que a dupla apresentou em Portugal, em 2017 no último Entremuralhas), “Deadline” ou até mesmo “Ozozooz” torna-se evidente que a sonoridade da dupla francesa é um convite inegável para uma dança coordenada ao ritmo da eletrónica contemporânea inspirada por elementos que contemplam várias décadas da música mais negra e propelente. O disco conta ainda com a participação de Loto Ball na faixa “Earworm” que se encontra mais focada no experimentalismo noise e industrial.
Mas nem só de música se faz o novo disco dos Dear Deer. Toda a estética envolvente caracteriza-se pela imagética provocativa que Federico Iovino e Claudine Sabatel têm deixado implícita desde o primeiro registo. Nesta nova edição as purpurinas vermelhas ganham o plano de foco na capa e, no formato CD, os Dear Deer apresentam ainda um livrete com uma fotografia de um homem e mulher perante o fogo (elemento inerente à sua sonoridade) que, aberto, apresenta as letras das nove músicas que compõem este novo trabalho. Além disso há ainda uma imagem provocante quando se retira o CD da caixa, o que permite enraizar melhor o conceito visual, antes de ser explorada a sua música.
Se já em Oh my… os Dear Deer tinham ganho destaque pela sua mistura bombástica de música eletrónica completamente fustigante com rasgos dos anos 80, neste Chew-Chew a dupla francesa aumenta a qualidade de produção e equaciona uma fórmula viciante que conjuga diversos elementos na concretização de uma sonoridade singular. Ao esticar as sonoridades que chamaram a atenção no primeiro disco (e que pudemos ouvir em faixas como “Statement“, “Claudine in Berlin”, “Clamsa” ou “Czekaj na nas”) para um terreno ainda mais seu, os Dear Deer continuam a crescer no panorama underground e a surpreender os ouvintes a cada minuto. Mais uma edição altamente aditiva.