James Blake
Assume Form

| Janeiro 18, 2019 3:20 pm


Assume Form | Polydor | janeiro de 2019
6.5/10
Hoje em dia certamente tornar-se-á difícil acompanhar as revoluções dentro da música – reggaeton e novo flamenco no NOS Primavera Sound e Paul McCartney com autotune serão dos exemplos mais óbvios do último mês. Não é por isso que a mudança drástica que James Blake trouxe para o seu último álbum, Assume Form, se tornou mais expectável. 
James Blake é um nome inegável no panorama internacional da pop e R&B alternativa. Estreando-se em 2011 com um disco homónimo, amadureceu dois anos depois com Overgrown, o álbum que reune o maior consenso no que toca à qualidade do produtor britânico. O seu registo de 2016, The Colour in Anything, causou estranheza – muito à semelhança de 22, a Million de Bon Iver, este álbum via Blake a explorar o espaço que a sua música ocupava até à data e aquele que podia vir a ocupar. Depois deste testemunho de experimentlismo, nada fazia antever Assume Form, o álbum mais ligado à pop contemporânea que James Blake já editou.
A lista de colaborações, em parte, denuncia esta assimilação dos aforismos da música pop – Travis ScottMetro Boomin e ROSALÍA pertencem inegavelmente ao espectro mais orelhudo da cultura atual. Para quebrar este padrão Blake aposta alto no gigantesco André 3000 (OutKast), um dos rappers mais bem estabelecidos da história, e no não-tão-conhecido Moses Sumney, um americano recém-chegado ao panorama da art pop. Não obstante a estas participações, a música de James Blake existe dentro deste paradoxo – ser iguais partes de pop e dele próprio.
O tema homónimo, que abre Assume Form, não nos prepara para a viagem que o álbum esconde. Nele, James Blake ainda tacteia a paisagem que tinha tecido em trabalhos anteriores. “Mile High” abre alas para Travis Scott e Metro Boomin com uma batida clássica-contemporânea de trap rap com laivos de ambient. “Tell Them” destaca-se com Metro Boomin e a voz inconfundível de Moses Sumney a liderar as sonoridades orientais infundidas no UK Bass que acompanha produtor britânico desde o início da sua carreira. 
ROSALÍA também não perde a oportunidade de brilhar num dueto com James Blake. Enquanto que o instrumental continua a transpirar a essência alternativa e moderadamente imprevisível que Blake trouxe para The Colour in Anything, é claro que o mesmo se adaptou à voz e estilo de ROSALÍA – uma certa tendência para batidas mais latinas criam a base ideal para os floreados da cantora catalã brilharem. Esta capacidade camaleónica de Blake se adaptar habilmente aos trejeitos dos seus convidados não se esconde em “Where’s the Catch?”, tema que conta com André 3000. O house domina em grande parte a secção rítmica desta música, criando uma estranheza no groove que permite a propagação do flow característico do antigo OutKast.
Os temas de Blake a solo, face ao que já foi dito, acabam por perder um pouco o brilho e por ficar àquem daquilo que o disco podia ser. Até ao ponto de soar desinspirado em temas como “Into the Red” (a clara pedra no sapato de Assume Form) e “Power On”. Independentemente destes percalços, Assume Form (o tema homónimo ao álbum), Don’t “Miss It” (um dos melhores temas do álbum, com uma entrega tremenda e performance de voz intocável de James Blake) e “Lullaby For My Insomniac” (um assombro reimaginado para sonoridade pop) não deixam de ser das melhores produções e performances do produtor britânico em estúdio. Assume Form acaba por ter um ponto de interesse que não deixa de ser raro atualmente – um álbum que apesar de variado não se torna derivativo.
A maior impressão com que ficamos do novo disco de James Blake é que o produtor britânico se pretende estabelecer não só como performer, mas também como produtor. Em Assume FormsBlake obriga-nos a reajustar as expectativas que temos dele, não deixando, no entanto, de se mostrar. A maneira como o faz, no entanto, terá o seu quê de controversa pelo abandono à sua sonoridade mais clássica.



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