Malibu Ken
Malibu Ken

| Janeiro 23, 2019 11:04 am
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Malibu Ken | Rhymesayers Entertainment | janeiro de 2019 
8.0/10


Este ano que findou recentemente não só esteve cheio de registos incríveis espalhados por todos os géneros e feitios, mas também deu para captar alguns sneak peeks de projetos promissores a tomar lugar no ano que viria para o substituir. 

Um desses projetos é precisamente a colaboração improvável entre o rapper neurótico e ecléctico por natureza Aesop Rock e o perito das electrónicas embutidas em ácidos Tobacco (que é também timoneiro do projeto musical igualmente alucinante Black Moth Super Rainbow), colaboração essa que começou após um feat do rapper na faixa “Dirt” do primeiro álbum a solo do produtor Fucked Up Friends e anos passados em conversações para um projeto conjunto durante e após uma tour, resultando assim em algo que dá pelo nome de Malibu Ken. Após terem lançado um par de singles nos últimos meses, lançam agora o resultado final em formato álbum, contando com o talento cruzado das suas metades espalhado pelas dez faixas no seu alinhamento geral. 


Ao primeiro contacto com este registo, o mood geral que se instala neste álbum é certamente interessante, cruzando a habilidade de storytelling inconvencional de Aesop Rock e a tendência para instrumentais minimais experimentais com uma essência composta de psych funk de Tobacco, e em teoria, tal cruzamento teria então tudo para resultar dada as naturezas sonoras bastante singulares de ambos os artistas. Em comparação com o espólio anterior do rapper de Nova Iorque, dá-se obviamente destaque às suas habilidades aprimoradas ao longo dos anos, sendo elas o seu wordplay exaustivo e o seu delivery intenso, mas também se aproveita para trazer ao de cima uma vertente composta por um humor mais deadpan que usualmente não leva tanto destaque em comparação com o skillset acima descrito. Mas acima de tudo, está também o ingrediente-chave que remata isto tudo, sendo esse o ponto de vista introspectivo e cínico tão próprio do homem, que serve assim como o fio condutor deste projeto peculiar. 

De resto, o conteúdo lírico de Aesop Rock faz referência a coisas tão díspares como o fascínio que o quotidiano lhe desperta e a situações de ansiedade e outras maleitas mentais com que ele tem lutado ao longo dos anos, além de mencionar alguma insatisfação com a cena hip-hop de hoje em dia… mas claro, não se limita a apenas isso. Por exemplo, no single “Corn Maze”, Aesop vai um bocado mais em detalhe acerca da sua situação, colocando até a hipótese de que Malibu Ken é apenas uma personalidade paralela que ele adota para lidar mais facilmente com o dia-a-dia. Só em “Acid King”, o outro single de avanço, contam-se várias referências ao ano de 1984 – jogos de vídeo e o fearmongering sobre doenças venéreas como a SIDA – incluindo o incidente real em que um jovem de 17 anos assassinou uma pessoa, originando deste modo mais discussão sobre a eterna ligação do heavy metal com o ocultismo. “Churro” menciona a situação surreal descrita pelo evento de uma criação de águias em Pittsburgh, Pensilvânia, a caçar e a comer um gato (yep, leram isso bem!), situação essa que foi presenciada por webcam na altura. 


Diga-se que as temáticas acima referidas, proferidas de forma versátil, casam bastante bem com a estética minimal que é o trademark de Tobacco, que tem tanto de electrificante como de alienado, fazendo com que esta colaboração entre ambas as partes satisfaça quem procura algo incomum dentro do panorama do hip-hop, ou até mesmo aqueles que já estão habituados a sonoridades left-field dentro do género. É um projeto de duas pessoas que se divertem a fazer o que fazem melhor e que durante o processo demonstram admiração pelo craft do seu parceiro, e assim se revela durante a rodagem do registo. Aqueles que procuram um disco catchy que agarra o ouvinte logo à primeira audição, não irá decerto ser este, portanto é proceder com cautela. Todos os outros que não se assustam com registos que levam o seu tempo a assentar, este álbum pode muito bem ser o que precisam para começar o ano com o pé direito.

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