Inferno | Tapete Records | março de 2019
8.0/10
Ponho a tocar para ouvir o novo disco de Robert Forster, um dos fundadores dos The Go-Betweens, com a ideia de que vou entrar numa viagem nostálgica pela pop de travo indie. Mas, ao ouvir a primeira canção de Inferno, de ritmo lento e voz pausada, a cantar versos de W.B. Yeats e uma segunda voz feminina a entoar ao fundo harmonias, percebi que não seria esse, o mote. É o novo disco de Robert Forster e não cabe portanto na prateleira dos discos a solo de elementos de bandas que conheceram a fama nos anos 80 e que depois viram traduzidos os seus esforços em tímidas recreações do passado.
À primeira audição de Inferno, há pouco, muito pouco dos The Go-Betweens – Grant McLean, juntamente com Robert Forster foi também figura principal da banda, repartindo maioritariamente entre ambos as vozes e a escrita das canções. Agora a solo, e já no gira-discos, entramos por territórios que relembram ao de leve outro grande escritor de canções, e falo de Nick Cave e quando me lembro da Austrália, neste registo, há mais contemplação e extroversão contida ao jeito do que os The Bad Seeds fizeram.
Encontramos também uma escolha minimal no arranjo das canções e talvez por ter sido gravado por Victor Van Vugt, um alemão que já trabalhou com The Bad Seeds, e… foi ou não por acaso que o primeiro disco da carreira a solo de Forster teve a colaboração de Mick Harvey? …Começa então a fazer sentido esta constatação: vai para além do facto de ter sido gravado em Berlim, território favorito de escritores australianos de grandes canções, onde a energia das guitarras acústicas e eléctricas e dos pianos está habitualmente presente. Depois de “Crazy Jane on the Day of Judgement”, ouvimos em “No Fame” essa característica desiludida e ao mesmo tempo ensolarada que reconhecemos na música vinda da Australia, não tão negro como Nick Cave consegue ser por vezes, mas elegante na mesma.
Em “Inferno (Brisbane in Summer)”, escutamos Forster num registo pop rock animado, com teclados e guitarras e a voz entusiasmada, ou, se preferirem, com a métrica enérgica do nosso cantor a contar uma história de uma noite infernal na sua cidade… e, até poderia ser um dos melhores singles dos R.E.M, por exemplo, mas não. Tem a vocalização distinta deste artista australiano, e deverá funcionar muito bem numa pista de dança com sons indie para os DJs mais atentos. Reconhecemos em Robert Forster, a meio deste disco de canções curtas e elegantes, uma distinta capacidade de fazer canções sucintas e de carácter mais ritmado como “Inferno in Brisbane”, e ao mesmo tempo entreter os seus ouvintes com canções melodiosas como “The Morning” ou “Life Has Turned a Page”.
À primeira audição de Inferno, há pouco, muito pouco dos The Go-Betweens – Grant McLean, juntamente com Robert Forster foi também figura principal da banda, repartindo maioritariamente entre ambos as vozes e a escrita das canções. Agora a solo, e já no gira-discos, entramos por territórios que relembram ao de leve outro grande escritor de canções, e falo de Nick Cave e quando me lembro da Austrália, neste registo, há mais contemplação e extroversão contida ao jeito do que os The Bad Seeds fizeram.
Encontramos também uma escolha minimal no arranjo das canções e talvez por ter sido gravado por Victor Van Vugt, um alemão que já trabalhou com The Bad Seeds, e… foi ou não por acaso que o primeiro disco da carreira a solo de Forster teve a colaboração de Mick Harvey? …Começa então a fazer sentido esta constatação: vai para além do facto de ter sido gravado em Berlim, território favorito de escritores australianos de grandes canções, onde a energia das guitarras acústicas e eléctricas e dos pianos está habitualmente presente. Depois de “Crazy Jane on the Day of Judgement”, ouvimos em “No Fame” essa característica desiludida e ao mesmo tempo ensolarada que reconhecemos na música vinda da Australia, não tão negro como Nick Cave consegue ser por vezes, mas elegante na mesma.
Em “Inferno (Brisbane in Summer)”, escutamos Forster num registo pop rock animado, com teclados e guitarras e a voz entusiasmada, ou, se preferirem, com a métrica enérgica do nosso cantor a contar uma história de uma noite infernal na sua cidade… e, até poderia ser um dos melhores singles dos R.E.M, por exemplo, mas não. Tem a vocalização distinta deste artista australiano, e deverá funcionar muito bem numa pista de dança com sons indie para os DJs mais atentos. Reconhecemos em Robert Forster, a meio deste disco de canções curtas e elegantes, uma distinta capacidade de fazer canções sucintas e de carácter mais ritmado como “Inferno in Brisbane”, e ao mesmo tempo entreter os seus ouvintes com canções melodiosas como “The Morning” ou “Life Has Turned a Page”.
“Remain” é mais uma dessas canções curtas com guitarras mesmo muito bonitas. Nostálgica, mas não em demasia, com letras com sentimento sem serem sentimentais, no sentido mais deselegante da palavra aplicada à música. No que diz respeito a uma estética indie cuidada e aprumada, Robert Forster apresenta-se com elegância, a folk está presente mas não de forma arrastada e demorada. Leva-nos com a sua guitarra e a sua banda numa viagem com paragens curtas em pequenos apeadeiros e as canções são um retrato bonito e rápido de cada um deles, são postais de Brisbane ou de outras localidades imaginadas por quem as ouve. São pequenos relatos e histórias de vida deste compositor.
Depois de “I’ll Look After You”, com o disco quase a chegar ao fim, ouvimos Robert Forster em “I’m Gonna Tell It” entrar com uma guitarra estranhamente próxima de “Cocaine”, um tema clássico de JJ Cale. E nem por isso é de estranhar que este seja o momento mais rock do disco. Disco esse que encerra bonito e de forma majestosa com “One Bird In The Sky”, uma balada de acordes melancólicos, ideal, talvez, para anunciar o fim desta viagem pelo continente australiano, ideal também e porventura para ouvir numa qualquer hora, e de preferência que seja ao pôr-do-sol.
Depois de “I’ll Look After You”, com o disco quase a chegar ao fim, ouvimos Robert Forster em “I’m Gonna Tell It” entrar com uma guitarra estranhamente próxima de “Cocaine”, um tema clássico de JJ Cale. E nem por isso é de estranhar que este seja o momento mais rock do disco. Disco esse que encerra bonito e de forma majestosa com “One Bird In The Sky”, uma balada de acordes melancólicos, ideal, talvez, para anunciar o fim desta viagem pelo continente australiano, ideal também e porventura para ouvir numa qualquer hora, e de preferência que seja ao pôr-do-sol.
Texto: Lucinda Sebastião