Joji
Nectar

| Outubro 8, 2020 2:29 am
Joji Nectar Review
Nectar // 88rising // setembro de 2020 
7.0/10 


Nectar é o segundo álbum de Joji, um artista nipónico-australiano que tem dado nas vistas no setor mais mainstream da indústria musical, após ter lançado o seu primeiro álbum – Ballads 1 – que contou com hits como “Test Drive” e “Slow Dancing in the Dark”. Porém, apesar dos seus destaques, esse álbum de estreia não passou de uma exposição de um Joji que, apesar de possuir as ideias certas, não sabia exatamente como pô-las em prática e em contexto de longa-duração. Por isso, ficou a pairar pelo ar um sentimento agridoce, junto de uma esperança de que o seu sucessor demonstrasse uma maturidade sonora e uma melhor organização de ideias. 

Ora, ao longo de 2019 e 2020, Joji foi lançando os singles de Nectar: “Sanctuary”, “Run”, “Gimme Love” e “Daylight”. Estas quatro faixas deixaram uma esperança imensa de que este segundo álbum pudesse ser algo de especial. Afinal, são canções cinematicamente melodramáticas que, se bem-postas e acompanhadas pelas peças de puzzle certas, poderiam ser uma das chaves para um dos melhores álbuns comerciais de 2020. Contudo, com o lançamento do LP, apercebo-me que o seu problema não é exatamente o mesmo do seu antecessor, isto é, Ballads 1 sofria de uma falta de química extrema dentro da tracklist e da presença de imensas faixas que deveriam ser mais trabalhadas antes de verem a luz do dia, deixando somente os singles (especialmente “Slow Dancing in the Dark”) para a memória coletiva de longo-prazo. Foi um álbum curto, mas imensamente incompleto.

Por seu lado, Nectar extendeu-se mais do que devia, deixando na tracklist final algumas faixas que saíram do forno ainda semi-cruas. Canções como “Ew”, “High Hopes” e “Normal People” estão apenas a atrapalhar a experiência, impedindo-a de ser tão completa e bem realizada quanto poderia ser. Além disso, existem faixas que parecem fazer competição umas com as outras. Tomemos como exemplo “Ew” e “MODUS”: ambas têm um sentimento de introdução de álbum, deixando fluir o primeiro ato do mesmo muito mais do que deveria. Com a exclusão de “Ew”, “MODUS” poderia servir esplendidamente como faixa de introdução, deixando o primeiro ato morrer na altura certa e passar para “Tick Tok”, uma canção imensamente impactante e esmagadora que serve como transição para uma secção mais movimentada, orelhuda e cinemática da obra (que, curiosamente, consiste essencialmente nos quatro singles apresentados anteriormente). 


Todavia, se não fosse a presença de peças de puzzle desnecessárias, Nectar seria um álbum exemplar dentro do mainstream de 2020. Afinal, vemos nele grandes destaques: além dos quatro singles e de “Tick Tock”, podemos também encontrar na tracklist pérolas como “Pretty Boy”, com as suas influências de Trap acompanhadas por uma presença fenomenal de Lil Yachty; “777”, que vai buscar o 8-bit e mistura-o com o R&B contemporâneo, criando uma onda sonora bastante retro-modernista; e “Afterthought”, com a excelente química vocal entre Joji e Benee. No entanto, estes destaques não salvam por completo a saturação sonora e lírica que o LP acaba por ter, devido à existência de faixas prescindíveis. 

No fundo, Nectar é uma experiência que – apesar das suas desvirtudes – vale a pena. Vemos uma melhor organização de ideias por parte de Joji, já para não falar da sua maturidade sonora. Além disso, podemos tirar daqui uma mão cheia de faixas que poderão ficar para a memória coletiva a longo-prazo, apimentando a discografia do artista. Já lá vai o tempo do Filthy Frank, mas a criatividade de George Miller continua bastante acesa, apenas com um nome diferente e com potencial de se desenvolver de uma forma bastante interessante.


Texto escrito por João Pedro Antunes
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