Arctic Monkeys
The Car

| Novembro 16, 2022 6:37 pm

The Car é o sétimo álbum dos Arctic Monkeys, lendário quarteto originário de Sheffield. Neste disco podemos verificar, de certa forma, uma sucessão natural do trabalho anterior: Tranquility Base Hotel + Casino. Continua com a sua veia retro, mas desta vez deixando a Lua de lado para se focar completamente nos anos 70, prosseguindo também sonoridades americanizadas que se têm verificado, em modo crescendo, desde Humbug, de 2009. No entanto, em The Car, o rock foi, de uma vez por todas, despromovido para segundo plano (ainda mais do que no projeto anterior), existindo apenas algumas brisas do glam rock obviamente influenciado por David Bowie, especialmente em faixas como “I Ain’t Quite Where I Think I Am” e “Hello You”. Para substituir o rock que tanto identificava os Arctic Monkeys até à época do AM, temos um grande ode ao baroque pop estadunidense dos anos 70, complementado por toda a estética retro que seria idêntica ao de Tranquility Base Hotel + Casino, não fosse o abandono total das ideias à la ficção científica de blockbuster clássico dos anos 70.

Destaca-se também a orquestração introduzida pelo quarteto neste álbum, que cria uma camada mais melancólica que substitui o “epic cool” que os sintetizadores do Tranquility Base Hotel + Casino simbolizavam, permitindo a Alex Turner sair um pouco da sua personagem artística para voltar a ser mais pessoal, explorando as suas inseguranças quanto à carreira que a banda tem tomado até agora (especialmente a sua receção). E, claro, apesar de estarmos longe da época do “Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not” ou do “Favourite Worst Nightmare”, Alex Turner não mudou assim tanto liricamente. Continua a falar de interesses românticos de forma críptica, sempre com referências pop inesperadas (como em “Sculpture of Anything Goes”, onde Turner revela a sua amargura por não conseguir arranjar uma cópia oficial do jogo “City Life”, de 2009).

 

No entanto, estaria a mentir se dissesse que este álbum é perfeito. As ideias estão lá, e eu aprecio imenso o facto de os Arctic Monkeys pretenderem manterem-se fiéis à sua criatividade artística, não cedendo à pressão de serem ícones no indie tanto na América como no Reino Unido (um feito que poucas bandas britânicas conseguem conquistar, nos dias de hoje). No entanto, sinto que o quarteto ainda está em fase de experimentação, atirando para a parede e ver o que cola. Já em Tranquility Base Hotel + Casino existiam casos desses, mas este álbum tem uma quantidade de fillers um pouco superior, com exemplos sendo “Mr Schwartz”, “Jet Skies on the Moat” e “Perfect Sense”. Todavia, faixas como “There’d Better Be a Mirrorball”, “I Ain’t Quite Where I Think I Am”, “Big Ideas” e especialmente “Sculptures of Anything Goes” fazem este álbum ser uma experiência que vale a pena ser vivida, criando também curiosidade aquando a trajetória que os rapazes de Sheffield tomarão daqui para a frente.

Sou honesto: se o vosso foco são os Arctic Monkeys clássicos (frenéticos, irrequietos e joviais), então este álbum não é para vocês. No entanto, se nunca foram na onda da banda e são mais fãs do pop barroco de Beach Boys, Scott Walker ou até mesmo Panic! At the Disco na era do Pretty. Odd., eu diria para darem uma oportunidade a este disco. Podem encontrar uma pérola ou outra por aqui.

O álbum já está disponível em todas as plataformas streaming. Abaixo, deixo-vos com o videoclip do single “There’d Better Be a Mirrorball”:

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