Em termos de sonoridade, os Ovlov encontram-se entre os Dinosaur Jr. da era SST Records, os Built to Spill e os Weezer. Um mistura de shoegaze, lírica intimista e angústia juvenil banhada a ruído, desenhada para nos aquecer por dentro. O álbum arranca com a faixa “Baby Alligator”, um dos grandes malhões do ano, sequela de “The Great Alligator” (a música que encerra o Am). “Spright”, “Tru Punk” e “Short Morgan” são também, na minha opinião, ponto obrigatório de passagem (várias passagens aliás) quando (re)visitarmos Tru. Subjectividade à parte, quem já conhecia os Ovlov antes de Tru não encontrará nada de novo neste LP. Posto isto, Tru é um álbum coeso e um digno sucessor de Am. E para quem ainda não os conhece, têm aqui a oportunidade de ouvir um dos melhores álbuns deste ano.
“Big Bikes” não é uma cover dos Kyuss mas é uma tour de force do conjunto que não descansa enquanto não nos puser os ouvidos em sangue. A pausa para respirar apenas chega no final de “Red Eyes”, faixa que encerra este álbum demolidor. Os instrumentais ao longo dos temas são tão agressivos quanto rápidos e possuem uns vocais assanhados. Uma excelente recomendação para fãs do stoner mais “labajão”, na ordem do sludge metal dos Bongzilla ou Weedeater, estão bem servidos com estes tripeiros.
Hugo Geada
Dance On The Blacktop não se encontra no mesmo patamar de epicidade que Tired of Tomorrow. É um álbum coeso, mas sabe a pouco. O que é feito daquela banda que nos trouxe peças tais como a descarga de electricidade que é a “Fever Queen” (um dos melhores temas de abertura que já ouvi), a balada “The Dead Are Dumb” e a lindíssima “Tired of Tomorrow”, um tema que pisca os olhos ao Jar of Flies dos Alice in Chains. Os Nothing deixaram a fasquia muito alta com Tired of Tomorrow e este álbum soa quase a um retrocesso aos tempos de Guilty of Everything, em que a fórmula era apenas dar corpo à tristeza pela força da instrumentação e das letras. Eu quero ver mais daquela banda que nos mostrou que ainda há beleza neste mundo podre e injusto e creio que depois de Tired of Tomorrow, todos queiramos o mesmo. Quem não conhecer os Nothing e pegue neste Dance On The Blacktop, encontrará aqui motivos para sorrir. Os restantes, peço-vos ansiosamente pelo próximo trabalho, para que também possamos voltar a sorrir na cara da tristeza.
Neste registo de estreia tanto a voz como os sintetizadores de Andrea Visaggio sabem adaptar-se em sonância com as linhas de baixo de Riccardo Massaro, a guitarra tirânica de Stefano Murrone e os ritmos desfaseados da percussão de Francesco Zambon. Com uma duração aproximada a 16 minutos, HOME funciona como uma injeção de adrenalina curtinha que vai entrar nas boas graças de fãs de bandas como Dear Deer, Silent Runers (ouvir a título de exemplo “Nightfall”), os nossos portugueses QUADRA (essencialmente nos ritmos explorados em “Forest”) ou até mesmo Interpol (ouvir o tema de encerramento, “Burning”). Um bom pontapé de saída para uma banda que ainda virá a dar que falar.
Sónia Felizardo
Os noruegueses Manes sedimentam o seu papel enquanto autênticos transfiguradores praticamente desde que entraram no mundo da música – com estreia discográfica em 1999 (Under ein blodraud maane) no mundo do black metal, passaram pelo trip-hop e rock alternativo até chegarem a Slow Motion Death Sequence, álbum editado este ano pela Debemur Morti Productions, que acaba por conter um bom bocado do passado da banda. Apesar deste percurso por géneros nos remeter para grupos como Ulver, é fácil perceber o quão bem Manes triunfam neste aspecto – Slow Motion Death Sequence é uma combinação de trip-hop e metal alternativo com laivos de glitch que acaba por remeter, a nível instrumental, para alguns trabalhos do também camaleónico Devin Townsend (Deconstruction e Transcendence seriam óbvios, se esquecermos os esquemas operáticos), e dos igualmente “indecisos” da cena black metal/experimental norueguesa Solefald. As vocais desesperadas de Asgeir Hatlen contribuem com uma certa inquietação para o setting quasi-pop de todo o disco e complementam temas mais penetrantes e obscuros como “Poison Enough for Everyone”. No geral, Slow Motion Death Sequence torna-se facilmente num álbum de 2018 obrigatório para fãs de rock/metal alternativo com uma sensibilidade pop formal do normal e inesperada.
José Guilherme de Almeida