As opiniões a estes trabalhos podem ler-se abaixo.
Enquanto possuidores de uma angústia vincada proferida num assalto sónico sem precedentes, os powerhouses belgas Brutus surpreenderam a cena underground com o seu primeiro álbum Burst de 2017, com a sua abordagem de hardcore temperada com uma veia mais emocional e uma sensibilidade mais etérea, adicionando ali para o meio um equilíbrio cuidado, com doses substanciais de peso instrumental e tendências mais melódicas. Dois anos depois, a banda lança o seu take no desafio do difícil segundo álbum na forma de Nest sobre a asa da Sargent House, a mesma de acts consagrados como And So I Watch You From Afar e Chelsea Wolfe. É seguro dizer que este novo registo revela uns Brutus mais seguros de si e da sua fórmula, com uma aposta não só novamente confirmada, mas ainda mais vincada, na dissonância exasperante de cortar a respiração, uma voz feminina igualmente aguerrida e melodiosa, e um double-dip em mudanças de dinâmica certeiras, tanto em termos de peso como de compassos.
Claramente, não há como não acreditar quando um álbum desfila com faixas como “Techno”, “War” e “Cemetery”.
Depois de uma pausa de cinco anos, Barbara Lehnhoff, a cantora, compositora e artista visual por trás do projeto Camilla Sparksss regressou este ano em grande com o seu novo disco de estúdio, Brutal. O novo trabalho, que reúne nove temas altamente viciantes e diversificados em estilos, apresenta-se como o passo mais arrojado de Camilla Sparksss até à data, mas definitivamente o seu melhor de carreira. Em Brutal Camilla Sparksss afirma-se como uma artista altamente multifacetada ao apresentar uma sonoridade que, de tão distinta, facilmente capta a atenção e inicia aquela vontade de se querer ouvir mais. Através de uma vertente eletrónica explorativa, Camilla Sparksss constrói a sua electro-pop camaleónica que tão depressa recorre a texturas animadas e descontraídas (“Are You Ok?”), tonalidades sensuais (“Psycho Lover”), cenários altamente agressivos e bruscos (“Walt Deathney”) ou até mesmo baladas (“Sorry”).
Brutal é um disco construído sob uma grande nuvem de nuances criativas e, a melhor surpresa de se ouvir um disco assim é chegar ao fim e perceber que todos os elementos foram inseridos de forma rigorosa e com um propósito. Se ainda não estão convencidos comecem por clicar na reprodução de “So What” e deixem-se conduzir pelos ritmos exacerbados e altamente poderosos que Camilla Sparksss preparou para vocês. É mesmo caso para se dizer: um disco brutal.
Neste novo álbum a banda de Cory Hanson e companhia deixam de parte o som explosivo da cena garage rock californiana para fazer um álbum mais delicado com sonoridades mais sensíveis e experimentais. A troca de influências, de Ty Segall e Thee Oh Sees para os primeiros álbuns de Radiohead, já se vinha a sentir desde o lançamento de Plum, contudo, a mais recente entrada na discografia dos Wand afirma-se definitivamente como a nova voz da banda. As músicas soam mais concisas e as experimentações (onde muitas vezes a banda pecava por soarem desnecessárias) dão um toque especial às faixas. “Scarecrow” ou “Thin Air” são exemplos perfeitos para representar a qualidade do álbum, que cobre inúmeros terrenos com as guitarras a soarem ao rock alternativo dos anos 90 e a arrepiante voz de Cory a cantar sobre assuntos como os seus relacionamentos passados ou a realidade de viver com Trump como presidente.
A nova vida dos Wand parece estar finalmente a compor-se com este novo álbum onde mostram que são mais que meros discípulos da escola de garage rock do Ty Segall.
The Quanta Series é uma compilação de singles que K Á R Y Y N gravou entre 2011 e 2018, motivados pela morte de dois dos seus amigos em Aleppo. Apesar da disparidade entre as claras raízes no lado emocional, e a natureza artificial da música electrónica, The Quanta Series é uma representação fidedigna e clara de um processo que não só considera a dor como motivação, mas também a aceitação e recuperação. Por detrás de um som inovador, K Á R Y Y N apresenta-se neste disco como uma propagação de pop vanguardista que será mais facilmente associada a Holly Herndon, fundindo esta com as peculiaridades vocais de grandes nomes como Björk e Kate Bush, e a sideralidade do som de Zola Jesus. A produção luxuosa bebe muito do ambient e cria um cuidadoso invólucro à volta do som de K Á R Y Y N, transmitindo em força e através do som o equilíbrio entre a dor e a aceitação – temas como “PURGATORY” ou “ALEPPO” criam uma atmosfera incrivelmente poderosa através da sua simplicidade, enquanto que outros como “Un-c2-See” capturam o ouvinte através do uso criativo da voz como elemento instrumental e harmónico.
No geral, The Quanta Series e a sua motivação podem parecer ao princípio como algo frio e distante, mas K Á R Y Y N leva-nos consigo nesta transformação da produção digital num álbum cálido e reconfortante.
A edição número 18 da Alienação Records apresenta-nos Delafex e o seu EP de estreia Furnas. Henrique Alves Gonçalves é o produtor por detrás de Delafex, projeto que funde os ritmos do techno e do acid house com as texturas sintéticas e atmosféricas. Furnas é composto por 5 temas e inicia-se da melhor maneira com “Manchas de Trovão”, faixa que combina os elevados BPMs com elementos sintéticos e bem ácidos. Em “Deluzio” percorrem-se os caminhos da house minimal. A viagem ganha força e aumenta as suas rotações no tema título, desenvolvendo-se num ritmo mais progressivo e orgânico. O ritmo abranda um pouco em “Sonho de Silício”, onde se ouvem vozes sampladas e há espaço para explorar texturas sonhadoras e, por vezes, desconcertantes.
Apesar de não ser inovador, Furnas é um EP com bastante qualidade ao nível da produção, algo saído dos anos 90, que não cai nos clichés mais aborrecidos do techno genérico. Sabemos que já ouvimos Furnas em algum lado, talvez na discografia de Underworld, Clark, ou de outros nomes mais simbólicos. É um trabalho que merecerá sem dúvida destaque no final do ano.